Primeiro a liberdade, depois a condenação. Atingida pelos ruídos de comunicação da censura, a música Paiol de pólvora, de Toquinho e Vinicius de Moraes, provocou cenas de constrangimento entre os militares. Aprovada pelos censores no Rio de Janeiro, e incluída na trilha da novela O bem amado, a canção foi vetada em São Paulo quando começou a ser transmitida nas rádios. Em 15 de março de 1973, o Departamento de Censura Federal bateu o martelo. ;Trata-se de um tema de contestação, onde são apresentados desabafos de alguém que está sufocado por um regime que não aceita, o que se comprova quando se retira a expressão ;paiol de pólvora; de todos os versos. Deixamos de sugerir a liberação, uma vez que a letra atenta contra a Segurança Nacional;, informa o documento encontrado pelo Correio. A proibição, no entanto, chegou tarde: milhares de discos estavam em fase de distribuição e 20 capítulos da novela haviam sido gravados. A Polícia Federal preferiu, após recurso, liberar o disco da novela, mas proibiu a divulgação da faixa ;até mesmo pelos alto-falantes das casas de discos.; O diretor-geral da PF deu uma advertência ao técnico da censura que liberou a música no Rio de Janeiro.
Leia a letra da música:
Paiol de Pólvora
Estamos trancados no paiol de pólvora
Paralisados no paiol de pólvora
Olhos vedados no paiol de pólvora
Dentes cerrados no paiol de pólvora
Só tem entrada no paiol de pólvora
Ninguém diz nada no paiol de pólvora
Ninguém se encara no paiol de pólvora
Só se enche a cara no paiol de pólvora
Mulher e homem no paiol de pólvora
Ninguém tem nome no paiol de pólvora
O azar é sorte no paiol de pólvora
A vida é morte no paiol de pólvora
São tudo flores no paiol de pólvora
TV a cores no paiol de pólvora
Tomem lugares no paiol de pólvora
Vai pelos ares o paiol de pólvora
Composição: Toquinho & Vinicius de Moraes