postado em 27/04/2010 10:08
Chuvas causam a queda de mais uma árvore no Recife. Nesta madrugada, o acidente aconteceu naRrua Sete de Setembro, no bairro da Boa Vista, Centro do Recife. Parte da calçada e uma das faixas da rua estão interditadas. Ninguém ficou ferido. A árvore, de dois anos de idade e quatro metros de altura, caiu em frente a um prédio de um andar onde funciona uma galeria com oito lojas, causando transtorno para os proprietários, funcionários, clientes e ainda para os pedestres, que não podem utilizar a calçada da via.
Patrícia Mendes, de 40 anos, proprietária da loja de roupas Ma-rô Modas, queixou-se do perigo, lembrando que muitas pessoas estacionam os carros no local. A manicure Inês Barros, 37, funcionária do salão de beleza Elegance denunciou que a Prefeitura nunca fez o serviço de poda, apesar dos pedidos dos proprietários.
Ontem, o galho de uma árvore caiu sobre um carro estacionado na rua do Pombal, bairro de Santo Amaro, também no Centro. O vidro dianteiro quebrou e a capota amassou. Ninguém se feriu.
Sorte. Só mesmo isso, seria capaz de explicar a ausência de um acidente mais grave decorrente da queda de árvores no Recife. Mais de 50, desde o início do ano. Até agora apenas danos materiais. A sorte ontem premiou o funcionário público Cláudio Roberto Ramos Santos, 49 anos.
O medo, no entanto, de novos episódios, se justifica. A chegada das chuvas deixa a copa das árvores mais pesadas e os ventos favorecem ao tombamento dos galhos ou mesmo árvores inteiras menos estáveis. E esse problema está se tornando de segurança urbana. Caminhar ou parar perto de uma árvore nas ruas do Recife é sinônimo de perigo.
"Infelizmente esses episódios só ajudam a causar um certo temor da população em relação às árvores e, na verdade, tudo isso é fruto de um manejo inadequado",afirmou a professora de Ciência Florestal da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Isabelle Meunier. A indignação da professora vem acompanhada de críticas ao trabalho do departamento de paisagismo da Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb). Segundo ela, o trabalho de poda não é feito de forma adequada.Na sexta-feira, dia 16, uma árvore com 18 metros de comprimento tombou por cima de cinco veículos, na Rua do Espinheiro.
"As árvores mais antigas não suportam podas muito radicais. São as folhas que produzem o alimento. Se mais da metade da árvore for cortada, as raízes vão morrer e a árvore cairá", ressaltou Isabelle. De acordo com a especialista, a indicação é para podar, nesses casos, somente 20% da copa da árvore e nunca mais de 50% como é feito, segundo ela. O engenheiro agrônomo da Emlurb, Fernando Bivar, ex-aluno da professora Isabelle Meunier, diz que nem sempre é possível seguir à risca as estatísticas.
"Tenho profundo respeito pela professora, mas não se pode levar a estatística ao pé da letra. Há situações em que é necessário fazer uma poda radical. É como, por exemplo, alguém que sofre de gangrena e tem que cortar todo o membro para não morrer", comparou Bivar. O engenheiro da Emlurb, admite, porém, não ser possível calcular quando uma árvore irá tombar. "É imprevisível determinar esse tipo de acontecimento", afirmou.
Para a professora da UFRPE, a maior dificuldade é realmente identificar o que ocorre com o vegetal na área subterrânea. Segundo ela, já existem equipamentos capazes de fazer esse tipo de diagnóstico. "A Prefeitura de São Paulo já utiliza, mas isso seria apenas um complemento. O mais importante é adotar medidas para salvaguardar a saúde do vegetal", afirmou. Segundo ela, é preciso observar os sinais externos e adotar medidas sanitárias. "Remover o tecido lesionado e fazer a impermeabilização são algumas medidas que ajudam a melhorar a vida útil delas", explicou. A especialista também critica a ausência de um cadastro das árvoresno município.
O agrônomo da Emlurb, Fernando Bivar, concorda com a necessidade do cadastro, mas afirma que as medidas fitossanitárias já vêm sendo feitas. "Nós temos uma equipe altamente preparada, incluindo dois professores de mestrado e as estatísticas mostram que há uma redução na queda de árvores ao longo dos anos". Ainda segundo Bivar, o equipamento para fazer o diagnóstico subterrâneo já foi solicitado. Da mesma forma o cadastramento que deverá ser feito com GPS. Mas falta a liberação de verba.