postado em 27/04/2010 17:28
Rio de Janeiro ; O combate ao tráfico de drogas e entorpecentes deve ser trabalhado a partir do conceito da corresponsabilidade entre os países envolvidos tanto na produção quanto no consumo. Esta foi a proposta apresentada pelo Brasil hoje (27) na abertura da 27; Conferência Mundial Anti-Drogas, a International Drug Enforcement Conference (Idec), que ocorre até a quinta-feira (29), no Rio de Janeiro. O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Luiz Fernando Corrêa, disse que os esforços de cooperação entre países e o combate à lavagem de dinheiro têm se mostrado eficazes contra o tráfico de drogas moderno. ;Num mundo que vive cada vez mais interligado, em blocos, todos temos responsabilidades no processo que envolve o tráfico de drogas;, afirmou. Corrêa citou o exemplo da Bolívia, onde o cultivo da folha de coca é considerado legal e faz parte da cultura do país.
;Tudo que se produz na Bolívia vem para o nosso mercado. Então, o problema do crack, dentro desta visão compartilhada, é nosso e da Bolívia. Estamos lá dentro da Bolívia ajudando a reconstruir a capacidade de investigação da polícia deles, transferindo tecnologia nesta área, troca de oficiais de ligação, tudo que nos permita produzir uma inteligência para neutralizar este problema;, disse.
Segundo Corrêa, a nova abordagem é uma atualização de táticas e estratégias frente às mudanças mundiais. ;Não estamos negando as atuações anteriores, mas apenas atualizando conceitos, acompanhando as tendências da economia e da política. As transferências e movimentações financeiras, hoje, se fazem virtualmente e não com malotes de dinheiro como eram feitas no passado por organizações criminosas. Isso exige uma atuação rápida e canais rápidos de troca de informações.;
A administradora da Agência de Combate às Drogas dos Estados Unidos (DEA, na sigla em inglês), Michele Leonhart, disse que a ideia de cooperação sempre fez parte da política norte-americana e que seu país busca treinar policiais de países menos desenvolvidos e também oferecer tecnologias a policiais e a autoridades desses países. ;Apenas cerca 4% da heroína do Afeganistão chega aos Estados Unidos. No entanto, temos 80 agentes no Afeganistão combatendo as drogas por lá, já que este é um problema A colaboração é ponto mais importante neste trabalho e é por isso que estamos aqui;, relatou.
Mais de 90 países participam do encontro, que é o maior do mundo sobre o tema. Esta edição está sendo organizada pela Polícia Federal e pela DEA. Michele Leonhart afirmou que a estratégia de combate ao tráfico em seu país é apolítica, mas apontou algumas mudanças de foco nesta nova administração do governo Barack Obama. ;No último ano e meio mais ou menos, passamos também a priorizar outros fatores importantes como a prevenção e o enfoque no tratamento médico, como questão de saúde pública;.
No âmbito da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, Luiz Fernando Corrêa anunciou que já existem convênios para combater o narcotráfico com esta visão de corresponsabilidade. ;Estamos enviando a Guiné-Bissau oficiais de ligação para lá e construindo uma academia de polícia que possa, no futuro, servir também de centro de treinamento para os países de língua portuguesa na África. O objetivo é não tratar este país como um ;narco-estado; e, sim, tentar recuperar suas estruturas e capacitar as autoridades para que possam dialogar com as agências internacionais;.