Diário de Pernambuco
postado em 29/04/2010 14:00
Cerca de 300 policiais federais, 30 agentes da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (APEVISA) e 25 enviados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), em Brasília, participaram da chamada %u2018Operação Desvio%u2018, que buscou desarticular quadrilhas de subtração, venda e falsificação de medicamentos que atuavam em Pernambuco e na Paraíba. A ação teve início às 4h30 da manhã desta quinta-feira (29) e foi realizada simultaneamente nas cidades do Recife, Olinda, Paulista, Camaragibe, São Lourenço da Mata e Gravatá.
A investigação teve início em 2006, porém maiores esclarecimentos só puderam ser obtidos a partir da prisão de uma técnica de enfermagem em dezembro do ano passado, que repassava medicamentos do hospital onde trabalhava, em frente a uma unidade de um grande supermercado do Recife. Ao todo, a polícia cumpriu 74 mandados de busca e apreensão e 10 de 11 mandados de prisão. Um dos suspeitos, abordado em sua própria residência no bairro dos Torrões, no Recife, conseguiu fugir pulando o muro da parte de trás da casa. Além disso, outras 44 pessoas foram obrigadas a comparecer à sede da Polícia Federal, no bairro do Recife, para interrogatório e a maioria delas foi liberada em seguida.
Entre os suspeitos presos, apenas os chamados %u2018atravessadores%u2019 foram localizados. Eles eram responsáveis por receptar medicamentos desviados de unidades de saúde pública de Pernambuco por funcionários destas instituições. Estão envolvidos na quadrilha, técnicos de enfermagem e colaboradores terceririzados, como maqueiros e auxiliares de serviços gerais dos hospitais da Restauração, Otávio de Freitas, Oswaldo Cruz, Getúlio Vargas e das Clínicas, além do Pronto Socorro Cardiológico e a Farmácia do Estado de Pernambuco.
A polícia já tem conhecimento que os desvios aconteciam frequentemente, a cada plantão dos profissionais, e que por cada entrega, eles recebiam a quantia de R$ 1.000. No entanto, até o momento, a polícia não tem ideia de como os remédios deixavam as unidades de saúde sem que houvessem registros de saída nos estoques.
Milhares de caixas de remédios controlados foram apreendidas, como Diazepan, Rivotril e Rebif, mas a quantidade total ainda não foi contabilizada. Produtos médicos, como luvas cirúrgicas, também estão retidos na Polícia Federal. Estes materiais eram encaminhados a hospitais e clínicas particulares, bem como farmácias da Região Metropolitana do Recife, onde eram comercializados ou aplicados diretamente nos pacientes.
Entre os materiais desviados, está a %u2018albumina humana%u2019, derivada do plasma presente no sangue dos humanos, utilizada no tratamento de queimaduras e hemofílicos, que custa R$ 228 por ampola. Outros medicamentos eram comercializados ao valor de R$ 65 a cápsula ou chegavam a valores absurdos, como o REBIF, que podia ser vendido ao preço de R$ 10 mil. De acordo com o gerente geral da APEVISA, Jaime Brito, é necessário entender como era feito o controle dos medicamentos. %u201CEsse desvio não partia apenas das farmácias. Também apreendemos anestésicos que só poderiam ser retirados dos blocos cirúrgicos, então é uma questão de entender como a retirada era concluída%u201D, explica.
A PF ainda não tem registros cruzados com a Polícia Civil para verificar se houveram denúncias de desvios de medicamentos nos hospitais. No entanto, de acordo com o superintendente da Polícia Federal, Paulo de Tarso Teixeira, os diretores dos hospitais públicos não são suspeitos de conivência nos crimes. %u201CIniciaremos agora a segunda etapa da investigação para avaliar a culpabilidade dos receptores destas drogas, no entanto, é bem claro na investigação que não havia facilitação da presidência destas instituições ou dos médicos das mesmas%u201D, garante.
Uma vez fora dos hospitais e nas mãos dos atravessadores, as substâncias eram comercializadas por empresas criadas especificamente para a distribição destes medicamentes, que funcionavam legalmente, mas repassavam os remédios sem nota fiscal ou através de documentos falsos.
Entre os principais presos estão um dono de hospital particular do Recife e um empresário no ramos de distribuição de medicamentos da Paraíba. Os acusados serão autuados por peculato, formação de quadrilha, receptação qualificada, falsidade ideológica, uso de documento falso, tráfico e associação para o tráfico e devem ser condenados a um mínimo de 15 anos de prisão. O inquérito da Polícia Federal deve ser concluído em até quinze dias, prorrogáveis por mais quinze.
Falsificação %u2013 Entre os materiais apreendidos também foram encontradas diversas caixas dos medicamentos Cialis e Viagra, ambos indicados para disfunção erétil. Os remédios estão passando por perícia, mas apresentam sinais de falsificação. De acordo com Jaime Brito, os efeitos colaterais deste tipo de medicamento falsificado varia mediante sua composição. %u201CAquela cápsula pode ser feita apenas de farinha e causar nada. Mas também pode ter produtos químicos fortes que causem reações que podem chegar até à morte. O mais preocupante são pessoas que estão tomando um remédio acreditando que ele vai gerar um efeito que, na verdade, não é garantido%u201D, explica.
Gravatá %u2013 Entre os pontos mais preocupantes da operação está o fato de uma distribuidora de Gravatá ter sido incluída na lista das empresas que participavam do esquema de desvio de medicamentos. A empresa funcionava na legalidade e participava de licitações em todo o Agreste do Estado, fornecendo os medicamentos às secretarias municipais de saúde da região. No local, várias caixas de remédios foram apreendidas e o proprietário da distribuidora está prestando esclarecimentos à Polícia Federal.
De acordo com o superintendente da PF, os medicamentos deste caso terão um destino diferenciado. %u201Cos materiais apreendidos, em geral, são incinerados pela instituição, mas, neste caso, todos os remédios, agora, vão retornar às farmácias públicas das instituições públicas de saúde como forma de tentar reduzir o prejuízo social que a ação dos bandidos causavam%u201D, explica. O balanço de tudo que foi apreendido será apresentado em uma coletiva de imprensa nesta tarde, às 15h, na sede da PF.
Por Ed Wanderley, da redação do DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR