Luiza Seixas
postado em 07/05/2010 08:15
A informação do Ministério da Defesa francês de que havia encontrado, em uma área perto do arquipélago de São Pedro e São Paulo, a possível localização das caixas-pretas do voo 447 da Air France, que caiu em 31 de maio do ano passado quando ia do Rio de Janeiro a Paris, poderia representar algum alívio para os familiares das vítimas. Só que foi recebida com desconfiança.Na opinião do presidente da Associação das Vítimas do Voo 447, o aposentado Nelson Faria Marinho, que perdeu o filho Nelson Marinho, 40 anos, os franceses já sabiam, desde o ano passado, o local onde estava o equipamento, mas só agora decidiram divulgar a informação. ;Não tenho dúvidas de que a Air France e o BEA (órgão que investiga o acidente) já sabiam disso, mas só quiseram tornar público agora para ter uma notícia boa perto de completar um ano do acidente;, criticou.
Marinho disse ainda que a informação só conforta aqueles familiares que não estão acompanhando de perto o trabalho que vem sendo realizado. ;Muitos corpos não foram encontrados. Apenas 50 famílias puderam enterrar seus parentes. Para quem não acompanha, essa é uma forma de ter uma esperança;, completou. O acidente matou 228 pessoas.
O diretor da associação, Maarten Van Sluys, que perdeu a irmã, a jornalista Adriana Sluys, 40 anos, também acredita que eles esperaram para divulgar o fato. Além disso, para ele, não há motivo para esperanças porque o governo já afirmou que não sabe se conseguirá resgatar o equipamento, que pode estar a 3.000 metros de profundidade. ;O governo disse que é a mesma coisa que procurar uma caixa de sapatos em Paris.;
O professor de engenharia de oceanografia física da Universidade de São Paulo (USP) Afrânio Rubens de Mesquita é outro que acha muito difícil o resgate das caixas-pretas, mesmo com a notícia da possível localização. ;Pela profundidade, eles vão ter bastante dificuldade para resgatá-las. E se ela estiver no meio dos destroços do avião, vai ser ainda mais difícil.;
A notícia foi dada ontem por Martine Delbono, porta-voz do BEA. A partir de agora as equipes que trabalham no Atlântico e em Paris vão analisar os novos dados.
Atualmente, as caixas-pretas não emitem mais sinal sonoro. Por isso, de acordo com o ministro da Defesa da França, Hervé Morin, para se chegar às novas informações, técnicos da marinha analisaram, com a ajuda de um programa de computador, as gravações submarinas feitas em junho, durante a primeira fase das buscas. Assim, foi possível identificar que os sons gravados no ano passado eram emitidos pelas balizas dos equipamentos.
O porta-voz do governo francês, Luc Chatel, afirmou, porém, que é preciso ter prudência em relação às informações. ;Por enquanto, trata-se de uma zona de localização. Depois, é preciso saber se será possível recuperar as caixas-pretas. Seria uma excelente notícia, mas prefiro me manter prudente;, disse Chatel, em entrevista a uma rádio francesa.
LIVRES PARA VOAR
A Direção Federal de Aeronáutica Civil americana (FAA) negou ontem o pedido dos deputados brasileiros Milton Monti (PR-SP) e Jaime Martins (PR-MG) que pedia a cassação das licenças dos pilotos Joseph Lepore e Jan Paladino, que pilotavam o Legacy que se chocou com o avião da Gol, em setembro de 2006, matando 154 pessoas. Os dois continuam pilotando nos Estados Unidos.