postado em 17/05/2010 11:32
Rio de Janeiro - Produtores rurais Paracambi, município do interior do Rio, estão preocupados com a construção de um aterro sanitário para receber 260 toneladas de lixo por dia, nos próximos 20 anos, conforme anunciou o governo estadual. Temem a poluição da água, do solo e, consequentemente, dos alimentos. Para muitos, a instalação afetará os pequenos negócios.Representante da Associação de Produtores Rurais de Mutirão, que reúne cerca de 90 pequenos agricultores, Márcio Garcia Dornelas diz que o aterro é uma ;ofensa;. Lembra que a região é ocupada por antigas famílias de sem-terra, assentadas pela reforma agrária, e que tem agora ameaçada a principal fonte de renda.
;Vendemos para toda a região, muita gente passa por aqui. Produzimos verduras e legumes que as pessoas podem deixar de comprar. Quem quer alimentos que venham do lixão?", questionou em sua venda, uma pequena tenda à beira da estrada. ;Isso vai dar má fama aos nossos produtos e ninguém vai comprar;, completou.
A possibilidade de contaminação também assusta quem lida com animais. Dono de uma pequena indústria de laticínios, Ronaldo Muragaya cobra mais informações sobre o projeto. ;Essa é uma área que fica alagada entre março e novembro e tem água que corre para dois rios Ribeiro das Lages e Santana. Acho que esse tipo de projeto não pode ser feito na boca pequena. Eu sou vizinho, quero saber, quero ser consultado.;
De acordo com a Secretaria Estadual do Ambiente, o aterro sanitário custará R$ 10,5 milhões e será construído a 7 quilômetros do centro de Paracambi, na RJ-093, o principal acesso à cidade, de maneira consorciada com os municípios de Engenheiro Paulo de Frontim, Mendes, Japeri e Queimados. A secretária da pasta, Marilene Ramos, afirma que o aterro é a alternativa mais econômica e não funcionará como lixão.
;O aterro é feito com requisitos técnicos necessários para reduzir ao máximo qualquer impacto ambiental. Todo chorume é controlado, tratado, e todos os gases são captados. É totalmente diferente do lixão, que existe exatamente pela falta de solução adequada para a disposição do lixo;, disse Marilene Ramos.
A organização não governamental Instituto Ambiental Conservacionista 5; Elemento, com sede em Paracambi, também cobra esclarecimentos sobre o aterro. Afirma que esta é uma ;alternativa ultrapassada; e defende a instalação de uma usina de lixo e geração de energia. Embora mais cara (cerca de R$ 50 milhões), poderia oferecer empregos dignos para os catadores e aproveitamento do lixo, ;em vez de um passivo ambiental;.
;O aterro tem uma vida útil de 20 anos, sendo que precisa ser acompanhado por pelo menos mais 60 anos para termos certeza que não vai poluir nada. Precisaremos de mais recursos e investimentos na gestão. Pesquisamos propostas e achamos que a usina é melhor;, afirmou Márcia Marques, representante da ONG.
Há mais de dez anos trabalhando com saneamento energético, o pesquisador da Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coope) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luciano Basto, também defende as usinas. ;Temos que considerar que uma usina de lixo faz parte de centro de tratamento de resíduos que pode incorporar várias coisas: a usina de tratamento de lixo, de separação, de geração elétrica, de geração de adubo;, afirmou. ;São várias possibilidades de geração de renda, energia e baixo impacto ambiental;.
Basto explicou que a usina não elimina a necessidade de enterrar resíduos. Mas a quantidade de lixo que será descartada, diminuindo a área do aterro e ampliando de 20 para até 100 anos o período de funcionamento de uma unidade.
A secretária do Ambiente, porém, não descarta que os catadores possam ser incorporados ao projeto do novo aterro. Marilene Ramos defende que esta é ;solução econômica mais viável; que não traz riscos ambientais, como temem produtores rurais de Paracambi. ;A ideia de fazer usina de lixo, de energia é para regiões com grande quantidade lixo que não têm espaço para os aterros. Não tem cabimento para a região.;