Diário de Pernambuco
postado em 17/05/2010 14:57
Depois de uma semana bastante tumultuada no Presídio Aníbal Bruno, palco de duas rebeliões em três dias com o saldo de três mortos e dezenas de feridos, a tradicional visita dos familiares aos detentos ontem (16/5) ganhou ares de tragédia, no fim do horário, graças a informações que correram na unidade sobre a possibilidade de uma nova rebelião. Mulheres, entre mães, esposas e irmãs de presos, além de crianças, saíram às pressas da unidade cerca de trinta minutos antes do horário tradicional. Segundo elas, a sirene que avisa sobre o fim da visita tocou para que todas saíssem. Os próprios detentos também apressaram os familiares que já era hora de partir porque haveria mais uma onda de violência. Muitos estavam com armas artesanais, de acordo com as mulheres, que se desesperaram do lado de fora do presídio.O tumulto chegou a ponto de levar o diretor da unidade, coronel Geraldo Severiano, a sair e falar com a multidão, alegando que tudo não passava de um boato inventado por pessoas que não gostavam dele. A imprensatambém foi convidada a circular na unidade para constatar de perto a situação de controle. A direção do local garantiu que a sirene tocou no horário normal, às 15h40. Contradições à parte, o clima de tensão era evidente no presídio, que decidiu liberar as visitas, mesmo após as rebeliões da semana passada. As mulheres relataram a sensação de bomba relógio que se instalou à tarde dentro do presídio.
A preocupação das mulheres tinha sentido. Muitas delas ouviram dos próprios parentes presos orientação para saírem da unidade mais cedo porque a "cadeia ia virar", o que na gíria deles significa rebelião. Outro indício foi o fato do reforço na segurança, inclusive com PMs encapuzados. Diante dessa situação, o clima permaneceu tenso até as 18h, quando as mulheres começaram a se dispersar da frente da unidade, após a confirmação dada pelas equipes de reportagens de uma "aparente tranquilidade".
"A gente ficou sabendo que os pavilhões N, l e rancho iam ser invadidos pelo pessoal do morro para vingar o que aconteceu na semana passada", contou uma mãe. "Saio daqui de coração partido. Lá dentro tá uma bagunça", continuou a mulher. Chorando, a esposa de um preso disse que foi avisada pelo próprio marido para ir embora.
A tensão das mulheres aumentava a qualquer aproximação de um carro da Polícia Militar. Uma viatura da Companhia Independente de Operações Especiais (Cioe) chegou carregada com uma tropa, todos com capuz, e terminou alvo de muitas vaias e críticas. No entanto, o grupo nem sequer entrou no presídio. Apesar do Batalhão de Choque ter ficado em alerta, nenhuma viatura foi deslocada para o local.
"Não tem nada aqui dentro, graças a Deus. Tem gente que fica ligando para a imprensa. São algumas pessoas que não gostam de mim. Falam que coloco arma e droga aqui dentro. É tudo mentira", gritou o diretor do presídio, Geraldo Severiano, para as mulheres que esperavam do lado de fora da unidade. O gerente de Operações e Segurança, Édson Lima, também falou com elas e garantiu que nada de errado acontecia entre os pavilhões. "Temos mais de 3.500 homens lá dentro. Multiplique esse número por dois, no mínimo, e teremos sete mil pessoas circulando.Aqui fora não tem nem 150 mulheres. Quem ficou quer só agitar", disse Édson Lima. Segundo familiares, os presos estão exigindo a saída dos chaveiros, presos que têm as chaves dos pavilhões, e da chamada milícia, formada por detentos que teriam total poder entre os demais.