postado em 18/05/2010 20:00
Dezenas de pessoas protestaram nesta terça-feira (18) em São Paulo contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que garantiu anistia aos agentes do Estado que praticaram a tortura durante o período da ditadura militar (1964-85). Os manifestantes, que realizaram o ato em frente ao Pateo do Colégio em São Paulo, pediram também a condenação dos torturadores e do Brasil na Corte Interamericana dos Direitos Humanos.;É uma decisão lamentável que o STF tomou. Uma vez extinta no Brasil a possibilidade de justiça, nós temos que recorrer à Corte Interamericana;, ressaltou o vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais, Marcelo Zelic.
De acordo com ele, a Corte irá julgar, nos próximos dias 20 e 21, uma ação, requerida por familiares de militantes desaparecidos na Guerrilha do Araguaia, contra o Brasil. O país é acusado pelo desaparecimento de guerrilheiros e de tortura. Zelic acredita que o julgamento possa questionar também a Lei de Anistia. ;Esse caso deverá tratar também da questão da Lei da Anistia, uma vez que ocorrerá semanas depois da votação do STF.;
[SAIBAMAIS]Parte dos manifestantes ainda pediu que os torturadores sejam obrigados a falar exatamente o que cometeram durante a ditadura. O ex-preso político Rafael Martinelli, hoje presidente do Fórum de Ex-Presos Políticos do Estado de São Paulo, disse estar disposto a dizer o que ele fez no período, desde que os agentes do Estado também façam o mesmo.
;Nós queremos que eles sentem lá como réus. Se eles quiserem que a gente sente, vamos sentar também e vamos dizer o que fizemos e o que não fizemos. Agora, o lado de lá tem que um dia falar, que torturou, que, estuprou que enterrou, que massacrou, tudo isso eles vão ter de falar;, disse.
Leopoldo Paulino, do Grupo Tempo de Resistência, de Ribeirão Preto (SP), lamentou que apenas os oposicionistas tenham sido julgados durante a ditadura e que isso não possa vir a ocorrer com os agentes do Estado. ;Nós todos fomos julgados por tribunais militares nesse país. Não fomos julgados pela Justiça comum. Fomos julgados pelos próprios colegas dos torturadores e assassinos. Nós temos moral de vir aqui e contar aquilo que fizemos. Eles não têm moral para dizer o que fizeram;, afirmou.