postado em 19/05/2010 07:00
A Polícia Federal constatou que parte do crack consumido no Brasil vem sendo produzido na Bolívia e no Paraguai. A constatação surgiu depois das apreensões realizadas nos três primeiros meses do ano, principalmente nos estados que fazem fronteira com esses dois países. Das 60 operações da PF envolvendo o tráfico de drogas em 2010, pelo menos 20 tinham o crack como protagonista.A produção excessiva de cocaína na Bolívia é responsável pela mudança. E a preocupação das autoridades brasileiras vai além: a pedra de crack boliviana ter uma maior concentração de cocaína do que a que está sendo consumida no Brasil.
A informação muda a maneira como a Polícia Federal enxerga o consumo da droga no Brasil. Até então, a polícia acreditava que o crack estava sendo fabricado apenas em território nacional. As últimas apreensões, porém, mostraram que em cidades do Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que fazem fronteira com Paraguai e Bolívia, já havia a circulação da pedra da morte. O destino era o Sudeste do país e até alguns estados no Nordeste. Somente em um dia, a PF tirou de circulação em Foz do Iguaçu (PR) 10 quilos de crack.
Há uma outra tese para essa ;importação; repentina. A de que a política brasileira de repressão ao contrabando de produtos químicos para a Bolívia causou danos ao tráfico, que teria começado a mandar a cocaína para outros países em pasta ou em forma de crack. A Polícia Federal avalia que a entrada das pedras bolivianas e paraguaias ainda não é expressiva. ;Os números desse tipo de tráfico ainda são incipientes;, resumiu o coordenador-geral de repressão a entorpecentes da PF, Oslain Santana.
A maioria das pedras de crack apreendidas pela Polícia Federal foi encontrada na fronteira com o Paraguai, mas de origem boliviana. Nos últimos anos, a liberação das plantações de coca (1) nas montanhas da Bolívia saiu do controle e houve um aumento de mais de 16% de produção clandestina. Isso, claro, resultou no crescimento do tráfico, principalmente nas cidades que fazem fronteira com o Brasil. Em algumas regiões, como Centro-Oeste e Norte, o volume de cocaína subiu por causa das grandes quantidades de pó que foram retiradas de circulação. Para evitar que haja um avanço do tráfico, a PF está ajudando os países vizinhos no combate a esse tipo de crime.
Tratamento
O crescimento do tráfico de cocaína também refletiu na produção do crack, segundo balanços realizados pela Polícia Federal e órgãos de segurança dos estados. A preocupação chegou ao Palácio do Planalto, que decidiu lançar um pacote de medidas para conter o avanço das drogas no país. Como o Correio antecipou, os Ministérios da Justiça, Saúde e Educação, além da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) elaboraram um projeto que será lançado amanhã pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a Marcha dos Prefeitos, que acontece em Brasília.
Os ponto principal do projeto está na prevenção e repressão ao tráfico de drogas, especialmente na divisa do Brasil com outros países produtoras de cocaína e nas cracolândias espalhadas pelo país. Serão criados 11 Postos Especiais de Fronteiras (Pefron), que contarão com policiais federais e estaduais, além da Força Nacional de Segurança. Além disso, o governo vai atuar no tratamento dos dependentes, criando centros médicos em locais onde haja maior incidência de crack. A Senad ficará encarregada de medidas para a reinclusão social dos viciados.
1 - Tradição
O uso da folha de coca, que tem substâncias energéticas, é uma tradição na Bolívia e no Peru, principalmente entre a população mais pobre ou das regiões andinas. Em 1961 a Organização das Nações Unidas (ONU) considerou a planta como entorpecente, mas ela continua sendo usada para fins medicinais. O presidente boliviano, Evo Morales, é um dos maiores defensores da liberação da folha, mas sustenta ser contrário à produção ilegal, que é desviada para o narcotráfico.