Brasil

Monumento com esculturas de Guimarães Rosa será instalado em Minas

Gustavo Werneck/Estado de Minas
postado em 23/05/2010 13:09
Belo Horizonte ; Uma porta se abre para os sertões, deixa a cultura passar e se transforma em moldura para parte importante da história do Brasil. Em 27 de junho, Cordisburgo, no interior de Minas Gerais, a 114 quilômetros de Belo Horizonte, vai ganhar um monumento à altura do seu filho mais ilustre: o médico, diplomata e escritor João Guimarães Rosa (1908-1967), que completaria, na data, 102 anos. Na Praça Miguilim, a 300m do Museu Casa Guimarães Rosa (MCGR), será inaugurado o Portal Grande Sertão, com sete figuras em bronze, em tamanho natural, que retratam o autor de Sagarana e seis vaqueiros, a cavalo, acompanhados de um cachorro. Esculpidas pelo artista plástico Leo Santana, responsável por trabalhos de destaque na capital e em outras cidades brasileiras, as peças recebem os últimos retoques numa fundição em Contagem, na Grande Belo Horizonte, devendo seguir para Cordisburgo nos próximos dias.

Na quinta-feira, o diretor do museu, Ronaldo Alves de Oliveira, viu o conjunto pela primeira vez e se emocionou: ;É um trabalho que tem alma e vai trazer Guimarães Rosa para mais perto de todos;. Com os olhos brilhando, ele contou que Leo Santana se inspirou numa fotografia de 1952, feita durante uma viagem do distrito de Andrequicé, em Três Marias, a Araçaí. A iniciativa para recriação do cenário, completado por um pórtico de chapa de ferro, de 10,5m de largura x 5,20m de altura, é do governo de Minas, via Secretaria de Estado da Cultura (SEC), que assinou um convênio com a Associação dos Amigos do MCGR e bancou o projeto. Ao ser inaugurado, o portal será entregue à prefeitura local, doadora do espaço público para instalação da futura atração da cidade e responsável pela sua preservação.

O grupo de sertanejos saudado por Guimarães Rosa chama a atenção de quem entra no galpão da Fundição Artística Ana Vládia. ;Esse é o nosso maior trabalho até hoje. Foram oito meses de serviço;, diz a proprietária, ao lado do marido Irineu Rodrigues, enquanto vê o funcionário Gérson Eliezer dos Santos dando acabamento na escultura, de 130kg, do escritor. Mostrando um leve sorriso, Rosa está de terno, com a famosa gravata-borboleta, uma caderneta de anotações na mão esquerda e a caneta-tinteiro na direita. As demais peças pesam, em média, 400kg e trazem os sertanejos de olhares decididos e fisionomia forte sobre o cavalo. Há homens que olham para a esquerda, para a frente e para trás e um que carrega o guieiro ao lado do ambíguo Diadorim, personagem de Grande Sertão: Veredas.

De Olinda (PE), onde se encontra a trabalho, Santana diz que retorna a Minas no dia 10 para a montagem das peças em Cordisburgo. ;Foi um longo trabalho, que durou três anos e envolveu muita pesquisa de campo, leituras e visita aos lugares percorridos pelo escritor. A minha ideia é mostrar a entrada do cenário de Guimarães Rosa. Estou muito feliz, pois se trata do meu trabalho de maior proporção, e a minha vontade é de vê-lo realizado;, diz o artista plástico.

Durante a viagem que fez pelos sertões mineiros em 1952, Guimarães Rosa fez diversos registros sobre seus companheiros, seu modo de pensar e de viver, e descreveu as cores, os sons e os aromas da região que se tornou palco de sua obra literária. Muitas das anotações dessas e de outras andanças fazem parte do acervo do museu de Cordisburgo. Na casa da Rua Padre João, 744, no Centro, o autor nasceu e viveu até os 9 anos.

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