Brasil

Petrobras utiliza pipoca para simular derramamento de óleo e contrata fornecedora de Aracaju

Próximo teste será no Amazonas, onde haverá um exercício de controle de catástrofes

postado em 04/06/2010 08:20
A Petrobras realizou na semana passada uma simulação de vazamento de óleo em alto mar. Seria um teste normal, como tanto outros, se o material usado não fosse pipoca. Por ter características semelhantes às do petróleo, a estatal está trocando outros produtos pelo alimento, que não afeta o meio ambiente, por ser biodegradável. Além disso, a manobra da empresa garantiu a uma microempresária uma renda que somente conseguiria se trabalhasse seis meses seguidos. Ela é Maria Selma Costa, de 37 anos, a fornecedora oficial de pipocas para a Petrobras, em Aracaju (SE).

Os testes da Petrobras com pipoca começaram em fevereiro. Em dezembro do ano passado, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) solicitou à empresa que suspendesse as simulações feitas com outros produtos, como o isopor, por não serem materiais biodegradáveis e que poderiam causar danos à flora e à fauna marinhas. A estatal tentou usar serragem de madeira, mas absorvia muita água, afundando com facilidade. Em seguida, foi testada palha de arroz, mas o resultado se mostrou ineficaz.

Os primeiros testes com pipoca foram feitos em fevereiro, e os resultados se mostraram satisfatórios. A Petrobras começou a recrutar pipoqueiros, mas somente Selma, que vendia seu produto pelas ruas de Aracaju, topou fazer o estoque exigido pela empresa.

Para ser fornecedora da estatal, a pipoqueira ; que antes trabalhou de camareira ; teve de se tornar uma microempresária por meio do Sebrae, outra exigência da companhia de petróleo. A partir do início do ano, quando recebeu sua primeira encomenda, estava criada a Pipocas Lírio do Vale, a pequena firma de Selma.

A última encomenda, usada em uma simulação feita no fim do mês passado, foi de quase cem quilos. ;Levei três dias para fazer 30 sacos de 3,2 quilos;, lembra Selma, que não utiliza óleo na fabricação do alimento. ;Faço a pipoca com milho de mugunzá (canjica), que quando estoura fica parecendo isopor;, explica a comerciante, justificando o motivo pelo qual não tem necessidade do óleo comestível. A diferença entre os dois produtos é que a pipoca tem características mais semelhantes ao petróleo quando entra em contato com a água, como a flutuação e a dispersão. Além disso, não afeta o meio ambiente, como outros produtos utilizados nas simulações em alto-mar.

A pipoca, caso se espalhe pelo oceano, também serve de alimento para os peixes, o que é a outra vantagem apontada pelos especialistas. A ausência do óleo comestível na produção foi outra exigência feita pela Petrobras ; o curioso é que ela já cumpria essa determinação antes mesmo de ser contratada.

Catástrofe
A Petrobras não descreve oficialmente como são feitas as simulação com pipoca, mas técnicos da empresa explicam que são usados, além de barcos com técnicos da estatal e do Ibama, helicópteros e satélites, que fazem o monitoramento da operação. Tudo para evitar danos ambientais.

E será no Amazonas a maior simulação que a Petrobras fará. Em agosto, a empresa vai realizar um exercício de vazamentos de grandes proporções ; o primeiro da América Latina ; para avaliar a conduta da estatal diante de uma grande catástrofe, semelhante à ocorrida no Golfo do México. Além do Ibama, haverá a participação da Marinha e Agência Nacional do Petróleo (ANP) e da Clean Carribean & Americas (CCA), uma afiliada de um grande conglomerado de petrolíferas que atua em todo o mundo. O processo será acompanhado por instituições internacionais que avaliarão os testes.

Segundo a Petrobras, todas as unidades marítimas de perfuração são equipadas com sistemas de segurança e há planos de emergência em todas as bacias em que atua, além de unidades regionais de perfuração e produção em operações. A empresa tem 14 embarcações de grande porte exclusivamente para atender os casos de danos ambientais, além de 80 aviões e 200 barcos. A estatal mantém 10 Centros de Defesa Ambiental (CDA), que atendem unidades instaladas em outros países.

Faço a pipoca com milho de mugunzá (canjica), que quando estoura fica parecendo isopor;
Maria Selma Costa, fornecedora oficial de pipocas para a Petrobras



O número
14
Quantidade de embarcações de grande porte da Petrobras é suficiente para atender os casos de danos ambientais. Além da frota, há mais 80 aviões e 200 barcos menores


Problema no passado

Nos últimos anos, os vazamentos de óleo no Brasil diminuíram por causa de um controle maior da área ambiental e das empresas do ramo. Porém, o país teve grandes acidentes que por pouco não se tornaram catástrofes, como o do Golfo do México. Um dos maiores foi em 1974, quando um navio derramou 6 milhões de litros na Baia de Guanabara, destruindo parte da fauna marinha e marrecos. Foi a partir desse episódio que a situação começou a mudar.

Isso, no entanto, não impediu que, em 2000, um novo acidente acontecesse na Refinaria Getúlio Vargas, em Araucária (PR), quando quatro milhões de litros de óleo vazaram para o Rio Iguaçu. Milhares de animais ficaram contaminados com o produto derramado, sendo que muitos morreram antes de serem retirados e levados para centros de triagens. (EL).

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