Estado de Minas, Luiz Ribeiro/Estado de Minas - Enviado especial
postado em 05/06/2010 10:23
Maior município de Minas Gerais em extensão territorial, com 10.716 quilômetros quadrados, João Pinheiro, no Noroeste do estado, é também o município mineiro em que a devastação do cerrado mais tem avançado. De acordo com levantamento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), de 2002 a 2008, foram arrancados 484 quilômetros quadrados de vegetação nativa nos limites da cidade, o correspondente a4,5% da área total. A ação de tratores, motosserras e machados valeu a João Pinheiro o 20; lugar no ranking das cidades que mais devastaram o bioma no país. Os principais responsáveis têm nomes e sobrenomes: lavoura de cana-de-açúcar, ;reflorestamento; de eucalipto e produção de carvão.O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de João Pinheiro, Celso Soares dos Santos, afirma que os efeitos do desmatamento já são sentidos naregião, com conseqüências piores para os pequenos produtores, que vivem da agricultura familiar. "Em muitos lugares, por causa da destruição do meio ambiente, desapareceram nascentes e veredas. Os córregos que corriam até pouco tempo também secaram. As pessoas tiveram que recorrer a caminhão-pipa para receber água", relata.
Ele culpa o agronegócio pela devastação. "As empresas não respeitam alei florestal. Em várias áreas, perto de nascentes, retiraram toda mata nativa para plantar eucalipto e produzir carvão", denuncia o representante dos trabalhadores rurais. Celso Soares reclama ainda da derrubada de espécies do cerrado que podem ser aproveitadas pelos produtores no extrativismo, como o pequizeiro e o articum. "Se continuarem desmatando tudo, como estão fazendo, as futuras gerações nem vão saber como era o cerrado", alerta o líder sindical.
O coordenador da Cáritas Diocesana de Paracatu, João Paulo da Silva Couto, reforça que a devastação está se acelerando em todo o Noroeste de Minas, sendo causada também pelo cultivo de grãos (soja, milho e feijão). "Além disso, deve se levar em conta que áreas de chapada, onde antes havia somente cerrado, agora está dando lugar à monocultura de eucalipto, que mais tarde vai virar carvão", disse. Ainda segundo ele, prefeituras da região incentivam o plantio de eucalipto, inclusive em áreas de assentamento para a reforma agrária.
O coordenador da entidade católica ressalta que há comunidades de pequenos agricultores na região que promovem a exploração sustentável do ecossistema, aproveitando frutos nativos, que são vendidos em feiras livres. "Isso é uma prova de que é possível fazer o extrativismo e preservar o meio ambiente;, observa João Paulo.
A devastação do cerrado no Noroeste mineiro poderia ser minimizada caso os grandes produtores de grãos concentrassem suas atividades em áreas já exploradas. "Assim, os terrenos de vegetação nativa seriam preservados", sugere o ambientalista César Victor do Espírito Santo, presidente do conselho deliberativo da Rede Cerrado, constituída por mais de 100 entidades e organizações não-governamentais que lutam pela conservação do bioma.
"Temos trabalhado muito a questão do zoneamento, no sentido de definir as áreas mais interessantes do ponto de vista ambiental, preservando as áreas mais ricas em termos de recursos hídricos e biodiversidade", afirma César Victor. O especialista defende ainda o extrativismo. "É importante que se valorize o cerrado em pé. Dele podemos retirar produtos importantes para a população, como frutos para a alimentação, fitoterápicos e materiais para o artesanato. Além disso, projetos de ecoturismo bem planejado para visitas às áreas preservadas podem gerar renda para os municípios", ressalta o ambientalista.