Ana Paula Neiva
postado em 10/06/2010 07:00
Cinco policiais rodoviários federais, lotados na superintendência de Pernambuco, foram presos ontem acusados de envolvimento com um esquema de corrupção dentro da própria corporação. Outros 25 foram detidos e obrigados a prestar depoimento na sede da Polícia Federal no Cais do Apolo, em Recife. Eles acabaram liberados em seguida. Todos os envolvidos, porém, já foram afastados dos cargos e perderam o direito de portar arma, usar a farda e a carteira funcional da Polícia Rodoviária Federal (PRF). O grupo foi detido ontem na Operação Boa Viagem, realizada em conjunto com a Polícia Federal (PF), sob supervisão do Ministério Público Federal em Pernambuco e da 4; Vara da Justiça Federal, que já decretou a prisão preventiva dos cinco acusados.Segundo as investigações, os policiais costumavam cobrar propina para liberar motoristas que transitavam de forma irregular nas rodovias federais que cortam o Pernambuco. Alguns, inclusive, mantinham esquemas com empresas, liberando cargas com excesso de peso, e, por isso, estavam relacionados na folha de pagamento dessas. Além dos servidores da PRF, também estão sendo indiciados 16 empresários do setor de transporte de cargas. Um deles foi preso em flagrante em São Paulo por posse ilegal de arma de uso exclusivo das Forças Armadas. Todos os envolvidos são acusados de corrupção ativa e passiva, formação de quadrilha, falsidade ideológica, advocacia administrativa e violação de sigilo funcional. Os cinco policiais rodoviários foram levados para o Centro de Observação e Triagem (Cotel), em Abreu e Lima, na Região Metropolitana de Recife.
A investigação, que corre em segredo de Justiça, teve início em 2006, após denúncia feita por um motorista que disse ter sido obrigado a pagar suborno para um policial rodoviário. Há dois anos, a Polícia Federal entrou no caso para auxiliar a corregedoria da PRF, que já apurava denúncias contra os servidores lotados nos postos fiscais situados nas BRs 101, 232, 408, nas cidades de Igarassu, Carpina, Cabo de Santo Agostinho, Ribeirão, Moreno, Gravatá, Caruaru, São Caetano e Quipapá. Essa foi considerada a maior operação dos últimos cinco anos, onde foram cumpridos 62 mandados de busca e apreensão, sendo 10 em repartições públicas, sete em empresas e 45 nas residências dos envolvidos. Por volta das 18h de ontem, a Polícia Federal contabilizava R$ 180 mil em espécie encontrados nas casas dos envolvidos. Ainda havia sacos de dinheiro que seriam contados.
Evidências
O delegado federal Ricardo Enne, que comandou toda a investigação, acredita que o esquema possa ter facilitado a entrada e a saída de drogas em Pernambuco, uma vez que o número de apreensões de 2006 a 2010 nessas rodovias foi praticamente zero. Segundo Enne, as denúncias foram confirmadas por meio de quebra de sigilo bancário dos suspeitos, de interceptação de chamadas telefônicas e de imagens produzidas nos postos de trabalho. A prova mais contundente foi encontrada na folha de pagamento das empresas de transporte beneficiadas pelo trânsito livre nas estradas, onde aparecia o nome de alguns dos policiais rodoviários envolvidos com a corrupção. Outro ponto observado foram sinais evidentes de enriquecimento ilícito dos servidores. ;Há policiais com patrimônio incompatível com a renda de um servidor público federal;, comentou o inspetor Valter Favaro, superintendente da PRF em Mato Grosso do Sul, que acompanhou a operação. Segundo ele, o Ministério Público Federal já determinou a abertura de uma ação de improbidade administrativa para confiscar os bens adquiridos de forma ilegal pelos policiais.
Participaram da operação 280 policiais federais de sete estados para dar maior isenção às investigações (Alagoas, Paraíba, Ceará, Piauí, Sergipe, Rio Grande do Norte, Pernambuco) e 200 policiais rodoviários federais das Corregedorias Geral e Regionais, além de Grupos Especializados de 14 estados e da Divisão de Operação Aérea da PRF. A corporação disponibiliza o telefone 191 para que denúncias contra policiais corruptos possam ser feitas.
ESTELIONATO MÓRBIDO
; Equipes da Polícia Federal desarticularam ontem uma quadrilha que aplicou fraudes de R$ 1 milhão nos cofres da Previdência Social. A organização usava o nome da Funerária Araruama, localizada na cidade de Araruama (RJ), para criar segurados fictícios a partir da falsificação de documentos públicos e do envolvimento de servidores da Previdência. Os criminosos apresentavam requerimentos para sacar benefícios previdenciários e assistenciais após a morte de segurados que não deixaram dependentes econômicos. Entre os presos está um policial civil, que não teve o nome divulgado. De acordo com a PF, os presos que não são servidores públicos poderão responder por estelionato e formação de quadrilha. Os servidores poderão responder por inserção de dados falsos no sistema de informação e formação de quadrilha.