postado em 16/06/2010 07:00
A cidade parece tingida de verde e amarelo depois da estreia do Brasil na Copa do Mundo. Não faltam camisas, chapéus, pulseiras, perucas, unhas; enfim, qualquer coisa que remeta às cores da nossa bandeira. Mas será que o patriotismo da população resiste ao fim do Mundial? Resultados inéditos de uma pesquisa feita com quase 3 mil pessoas em 22 cidades de todas as regiões do país mostram que a taxa dos muito orgulhosos com o Brasil é elevada, chegando a 33% da amostra, classificados de ;brasileiríssimos;. Por outro lado, há 6% de pessoas extremamente insatisfeitas com a nação onde vivem, chamados de ;desiludidos;. Brasília exibe um apreço pelo país acima da média. Os dois perfis extremos foram traçados com base na concordância absoluta de três perguntas-chave relacionadas ao orgulho de ser brasileiro, a viver em outro país e à preferência por produtos ;nacionais. Isso atrelado a outros dados;, explica Alessandro Bottini, diretor de planejamento da NovaS/B, agência que fez a pesquisa, intitulada Inova. Segundo Bottini, como o levantamento foi elaborado no fim do ano passado, o clima de Copa do Mundo não interferiu nos resultados. ;Podemos afirmar que os dados estão limpos, por assim dizer.; Gerente executiva do estudo, Débora Weinberg explica que o objetivo foi ir além de uma mera pesquisa de mercado. ;Procuramos desvendar também o perfil do brasileiro cidadão;, diz.
A conclusão, com base nas diferentes perguntas dirigidas a pessoas de 18 a 65 anos das classes A a D, é que o brasileiro sente orgulho do país. ;Na média, todos se dizem orgulhosos. Mas os classificados como brasileiríssimos cultivam esse sentimento de forma mais forte. São aqueles que têm convicção de que se vive melhor aqui que em outros lugares, que dão preferência ao que é feito aqui. Ou seja, que vestem a camisa mesmo depois da Copa;, explica Bottini. Para ele, o índice de 3,3 brasileiríssimos a cada 10 brasileiros pode ser considerado bem satisfatório. ;Talvez venha da situação atual do país na área econômica. Note que a outra categoria, os desiludidos, representa apenas 6%;, afirma.
Em outro país
O professor de educação física Fabiano Vassalli, de 23 anos, transita entre brasileiríssimo e insatisfeito. Embora considere que o país esteja piorando, de uma forma geral, nos últimos anos, ele conta que o verde e amarelo na sua indumentária não se restringe à época da Copa. ;Sempre que viajo para fora, faço questão de levar minha bandeira. É claro que se tivéssemos mobilização igual à que temos nessa época para reivindicar nossos direitos, o Brasil seria muito melhor;, destaca o enfeitado rapaz. De peruca, óculos e bandeira, Fabiano ainda procurava uma camiseta bem colorida três horas antes do jogo, ontem, para arrematar o figurino.
Os pesquisadores analisaram algumas perguntas isoladas, fazendo recortes por cidades. Em Brasília, 71% dos entrevistados disseram ter orgulho do país, contra a média nacional de 64%. Para 45% dos moradores da capital, vive-se melhor no Brasil que em outros países. O total da amostra com essa opinião foi de 53%. Por outro lado, o orgulho pode não significar necessariamente apego. Trinta e sete por centro dos entrevistados em Brasília morariam em outro país, se pudessem, contra 31% da média geral dos pesquisados.
Pedro Henrique de Alencar Braga, técnico de raios X, afirma ser um brasileiro ;roxo;. ;Mas eu sempre uso a minha camisa verde e amarela fora dessa época também;, destaca o garoto, que nasceu em Valparaíso de Goiás. Para ele, alguns estados brasileiros estão melhorando consideravelmente, o que deve servir de motivo de orgulho. Morar em outro país? ;Não, de jeito nenhum. Gosto das coisas daqui;, afirma o jovem de 19 anos.
Ouça trechos da entrevista com Alexandre Bottini, diretor de planejamento da Nova S/B