Brasil

Iniciativa privada se reúnem para discutir a formação de crianças de 0 a 6 anos

Ideia é promover mão de obra mais eficiente no futuro

postado em 17/06/2010 08:25
Consenso entre os educadores, o ingresso no ambiente escolar cada vez mais cedo chamou a atenção da iniciativa privada, que vai se reunir na próxima quarta-feira, em São Paulo, para discutir o engajamento do setor no desenvolvimento da primeira infância (0 a 6 anos). O encontro terá representantes do Comitê para o Desenvolvimento Econômico (CED), Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), Lego Education, Todos Pela Educação, United Way Brazil e Conselho Empresarial da América Latina (CEAL), além de organizações não governamentais, governos municipais, estaduais, federal. A ideia é apresentar experiências bem-sucedidas e analisar maneiras de aperfeiçoamento.

Não há um dado concreto do número de empresas que investem em projetos de educação infantil no país, nem do total desses investimentos. O último censo do Grupo de Institutos Fundações e Empresas (Gife), realizado em 2007-2008 com 80 das 101 empresas associadas, revelou que 28% delas têm programas voltados para a primeira infância (0 a 6 anos). Segundo Alberto Pfeifer, diretor-executivo do Ceal, o empresariado tem interesse em melhorar a qualidade e o acesso ao ensino para que a formação das crianças resulte em mão de obra qualificada no futuro.

Na avaliação de Letícia de Almeida Araújo, diretora pedagógica da EduSesc de Taguatinga Norte, esse público deve não ser apenas preparado para o trabalho, mas para a vida. Ela defende que as crianças até 5 anos precisam aproveitar a infância para brincar e vivenciar situações, sem atropelar as etapas, o que é importante para a boa formação. Mexer com massinha, pintar, cantar, ouvir histórias, valorizar o meio ambiente, lidar com cozinha experimental, brincar com a terra, dividir material com os colegas e aprender a ter novas responsabilidades fazem parte do processo. ;A criança tem dois nascimentos: o biológico e o social, que começa na educação infantil.;

Só 12% das crianças brasileiras de 0 a 3 anos estão matriculadas em creches. Na faixa de 4 e 5 anos, a realidade é um pouco melhor: 73% estão em escolas. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio 2008. O diretor de articulação dos sistemas de ensino da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação, Romeu Caputo, admite que os números ainda são baixos, mas há um esforço para mudar esse quadro. A expectativa é que, até 2016, quando será obrigatória a oferta da educação básica à população a partir dos 4 anos, 100% das crianças de 4 e 5 anos estejam matriculadas.

Caputo acredita que o país tem capacidade para receber esse novo público com qualidade e adianta que o MEC já vem trabalhando com a formação de professores e o repasse de verbas a municípios que precisam da construção de novas creches e escolinhas. A ampliação da oferta de ensino médio a jovens de até 17 anos começou a valer este ano. Anteriormente, apenas o ensino fundamental (6 a 14 anos) era obrigatório.

O foco educacional nos pequenos deve ser prioridade porque se trata de um período decisivo na vida do ser humano, destaca a professora Fátima Guerra, coordenadora do grupo de estudos e pesquisa na área de educação infantil da Universidade de Brasília (UnB). ;O que a criança fizer ou deixar de fazer vai ter repercussão para o resto da vida.;

Três perguntas para Alberto Pfeifer
Diretor-executivo do Conselho Empresarial da América Latina (CEAL)

Como será o esforço do setor privado para o desenvolvimento da primeira infância (0 a 6 anos)?
Queremos que haja uma conscientização dos empresários e instrumentos para que toda e qualquer criança tenha acesso às melhores técnicas e estímulos cognitivos e educacionais. Hoje, uma criança que nasce numa periferia de grande cidade, longe da atenção mais formal do Estado, fica à mercê dos estímulos do seu ambiente. Queremos saber como se faz para incorporar todos os indivíduos para receber estímulos mais adequados. Para conseguir isso, o aspecto número um é a formação de professor. Um bom professor faz toda a diferença.

Por que o interesse nesse público em especial?
Há diversos estudos que apontam que a criança nessa idade se encontra pronta para receber bases e fundamentos de todos os tipos de habilidades e competências, numéricas e motoras. Receber os estímulos adequados num ambiente de segurança e afeto as deixará prontas para lidar com todos os desafios pessoais e profissionais. O empresário tem interesse em que os recursos humanos sejam os melhores possíveis, os mais bem preparados.

Qual é o cenário do país hoje em relação à mão de obra qualificada?
Há uma falta de mão de obra qualificada nas profissões técnicas, engenharia, técnicos de segundo grau, qualificações de habilidade linguística. O nível de educação no Brasil ainda é aquém do que gostaríamos de ver. E isso tudo começa na primeira infância. Quem aprende a ler aos 4 anos chega aos 7 anos compreendendo textos e com muito mais habilidades. Hoje, quem aprende a ler aos 8 só terá habilidades sofisticadas aos 11, 12 anos.

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