Brasil

Barreiros vive dias de Haiti

Diário de Pernambuco
postado em 22/06/2010 11:28
Quem chegou ontem pela manhã à cidade de Barreiros, a 110 quilômetros do Recife, teve a impressão de viver um cenário catastrófico, algo semelhante ao ocorrido no início deste ano após o terremoto em Porto Príncipe, no Haiti. Devastado pela força das águas do Rio Una, que transbordou na sexta-feira passada, o município pernambucano ficou completamente destruído. Pelo menos 30% dos 40 mil habitantes estão desabrigados por conta da enchente. O número de mortos ainda não foi contabilizado, mas há informações de que há pessoas desaparecidas. Sem energia elétrica, os moradores sofrem também com a falta de água potável e alimentos.

"Estamos disponibilizando R$ 50 milhões em recursos do Tesouro Estadual para as ações emergenciais de limpeza e reconstrução das cidades atingidas pelas chuvas", disse o governador Eduardo Campos, que mandou buscar o maquinário usado na obra de construção da adutora de Pirapama para ajudar nos trabalhos de recuperação. "Poucas pessoas que trabalharam com Defesa Civil no Brasil se depararam com uma situação dessa. Só vi problema semelhante na enchente de 1975, mas nem mesmo assim, se compara ao caos que está em Barreiros", observou o governador, logo após percorrer as ruas da cidade.

Com mil residências e pontos comerciais destruídos e mais de três mil pessoas desabrigadas, a cidade perdeu quatro das cinco pontes existentes. Para se salvar da fúria das águas, alguns moradores foram obrigados a permanecer em cima do telhado até chegar socorro. Alguns foram removidos com a ajuda de lanchas trazidas às pressas pelos veranistas da Praia de São José da Coroa Grande, cidade vizinha. Outros tiveram que ser resgatados pelo helicóptero da Secretaria de Defesa Social. Ontem, o Exército e a Aeronaútica mandaram homens para ajudar a população. "Há notícias de família isoladas na região de engenhos", disse o major brigadeiro Paes Barreto.

Em alguns pontos mais baixos, a água chegou a mais de quinze metros. A correnteza do rio arrancou vários coqueiros. Para seter uma ideia dos estragos, entre os imóveis públicos, apenas o prédio da Secretaria de Obras e Sindicato dos Trabalhadores Rurais não foram atingidos. No centro da cidade, o cenário era de desolação. As agências bancárias da Caixa Econômica Federal e do Santander ficaram completamente inundadas. O nível da água baixou, mas a lama e o lixo tomaram conta das ruas e estão espalhadas por toda parte. A água chegou a cobrir o telhado das casas de primeiro andar. "Perdi todo os móveis, roupas, eletrodomésticos. Também estou sem comida", disse o comerciante José Edson dos Santos, 39 anos, dono de uma peixaria. Na manhã de ontem, José Edson tentava resgatar o que estava estragado dentro dos seis freezers, que ficaram cobertos de lama. Os peixes apodrecidos eram disputados por alguns moradores. "Já avisei que o peixe não presta, mas as pessoas estão com fome e estão levando tudo", falou o comerciante.

Com tanta lama na cidade, as pessoas têm dificuldades de circular. Em alguns pontos, não há condições de veículos circularem porque o asfalto abriu ao meio. Postes de alta tensão estão com fios pendurados pelas calçadas. Cobras, ratos e pernilongos saem de dentro dos imóveis, destruídos pela enchente. Mas nada se compara à situação da comunidade ribeirinha. Lá, não há uma só casa de pé. Pedaços de telhados, portas e destroços foram ao chão. "Estou desesperado. Não tenho onde ir com a minha família", contou o desempregado Antônio Santino, que aguardava ansioso para receber uma doação que era distribuída às margens da PE-60, única rodovia de acesso ao município.

Com tantas pessoas desabrigadas e o único hospital, o Maria Amália Bezerra de Melo, sem condição de funcionar, os feridos estão sendo atendidos em municípios vizinhos, como Rio Formoso e São José da Coroa Grande. O hospital ficou inundado e acabou isolado com a queda da ponte do Rio Una. A maioria dos desabrigados está provisoriamente na Igreja Matriz da cidade, localizada numa parte mais alta do município. São 150 famílias, a maioria com crianças menores de 12 anos.

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