postado em 23/06/2010 14:02
Enquanto alguns choram, outros vendem lenços;. O velho ditado parece se materializar nas cidades da Mata Sul castigadas pelas fortes chuvas que causaram inundações no fim da semana passada. Em alguns locais, há pouca disponibilidade de mantimentos como água mineral e comida, bem como de botas em PVC, necessárias durante o processo de reconstrução e buscas no local. A situação é ainda mais díficil quando os produtos estão disponíveis, mas são vendidos a preços abusivos.A funcionária pública Ceça Ataídes está, a trabalho, na cidade de Barreiros e, mais do que o cenário de destruição, se espantou com os preços dos alimentos praticados na região. "As pessoas estão vendendo um quilo de carne de sol por R$ 45 e o litro do leite chega a R$ 17! Água mesmo, só na Estação de Tratamento da cidade e as pessoas têm que chegar lá a pé", afirmou.
O educador físico Hermógenes Brasil pode acompanhar essa realidade de mercado bem de perto, mesmo vivendo no Recife. Parte de sua família que mora em Palmares perdeu eletrodomésticos quando as águas invadiram suas residências. Mais do que limpeza e avaliação dos danos, é com água mineral que ele mais se preocupa. ;Estou trazendo galões de água vazios e levando de volta cheios quase todos os dias porque o preço mais baixo que minha família encontrou em Palmares foi R$ 15 cada;, explica.
Relatos de pessoas que tem parentes na região indicam que o valor médio praticado pelos vendedores é de R$ 20 por um galão de 20 litros, podendo chegar até a R$ 35 nos locais mais críticos, onde, em geral, o abastecimento de água encanada está suspenso. A prática dos comerciantes da região contrasta com a decisão do Sindicato das Indústrias de Cervejas, Bebidas em Geral, Vinho e Água Mineral do Estado de Pernambuco (Sindibebe), que, junto a empresas do setor, anunciaram a doação de meio milhão de litros de água às vítimas das enchentes no Estado, que devem começar a chegar aos destinos hoje (23).
De acordo com o vice-presidente do Sindibebe, Ricardo Heráclito, providências estão sendo tomadas para garantir que os donativos cheguem até as vítimas. ;os produtos serão envazados em garrafas de cinco litros, para que o material seja distribuído mais facilmente, e será utilizado um selo específico do Sindibebe e a informação ;Proibida a venda;;, garante. Todas as doações devem ser entregues dentro de dez dias.
Outros artigos necessários nas áreas afetadas da Mata Sul também se tornaram ;oportunidades; para comerciantes do Recife. Uma das maiores lojas de materiais de construção da Imbiribeira, por exemplo, registrou, desde a semana passada, vendas de botas em PVC, estilo sete léguas, 100% superior à média do período de inverno normalmente praticada.
A diferença é que as compras foram, em geral, realizadas por poucos consumidores que levavam dezenas de pares do produto, chegando a zerar o estoque de três fabricantes diferentes do produto. ;As pessoas compravam de cinco a dez pares para cada tamanho de pé, do 38 ao 44. Não vendemos mais porque não tínhamos, mas houve procura;, lembra o vendedor Ironildo Zacarias. O produto, vendido no Recife a uma média de R$ 28, pode ser encontrado por R$ 60, nas ruas de cidades como Palmares e Barreiros.