postado em 26/06/2010 08:21
Branquinha (AL) ; Homens do Corpo de Bombeiros, da Defesa Civil, das Forças Armadas, médicos e enfermeiros superpovoaram o pequeno município de Branquinha, em Alagoas, devastado pelas chuvas, na tentativa de restabelecer alguma civilidade. A maioria chegou anteontem e não tem data para sair. ;A ordem é ficar até quando precisarem da gente;, disse o Capitão Henguel, do Corpo de Bombeiros do estado de São Paulo.;É bom que se tenha muita gente de fora para ajudar hoje. Mas o nosso medo é daqui para frente;, diz Júlia Maria da Silva, 67 anos. Ela e outras quatro senhoras esperavam, nos escombros que formavam o centro da cidade, o Exército distribuir galões de água. A prioridade no atendimento são aquelas pessoas que perderam absolutamente tudo. Em seguida, os casos menos graves.
A preocupação de Júlia procede. Apesar da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Região Nordeste e do dinheiro prometido (leia reportagem na página 13), o day after dos municípios afetados pelas enchentes não parece promissor. A lama das ruas, que na quarta-feira chegava nos joelhos dos moradores, enfim, foi retirada. Resta, porém, muita sujeira e entulho. A prefeitura ainda não sabe onde colocar tanto lixo.
A saúde dos moradores é outra preocupação. As pessoas ficaram expostas durante muito tempo a péssimas condições sanitárias e que podem provocar doenças como diarreia, leptospirose, tétano e hepatite A. As unidades de saúde municipais acabaram e a prefeitura improvisou postos de atendimento. O Ministério da Saúde liberou para o estado medicamentos e mais mil vacinas contra raiva, 30 unidades de imunoglobulina humana anti-hepatite B, 100 unidades de imunoglobulina humana antirrábica e 500 unidades de soro antirrábico humano.
Segundo o ministro José Gomes Temporão, 105 profissionais de saúde foram deslocados para Pernambuco e Alagoas e 43 ambulâncias do Samu também serão entregues aos estados.
Além do problema de saúde pública, a miséria persiste. Apesar do volume grande de doações, ainda há fome e sede. Cada caminhão que passa é atacado por famílias inteiras em busca de alimentos. Não só para matar a fome instantânea. Elas temem perder tudo de novo e, por isso, querem estocar o maior número de produtos ; de comida a vestuário. A contradição é que esses moradores também perderam suas casas e, sem lugar para guardar o que ganham, lotam escolas, ginásios, ônibus escolares e tendas onde vivem agora.
DESAPARECIDOS
Ontem equipes do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil saíram em busca de corpos de desaparecidos. As famílias ainda aguardam notícias e 35 homens trabalham no reconhecimento da área atingida. Eles foram divididos em três grupos: dois em terra e outro que percorre as águas do Rio Mundaú. Aos olhos de uma multidão, eles tentaram, ontem, sem sucesso, achar o corpo de uma senhora. Segundo moradores, ela teria voltado, em meio à chuva, para buscar os animais de estimação. A casa ficou completamente destruída. (AR)
Lula cancela ida ao G-20
Igor Silveira
Em 2008, quando fortes chuvas mataram 135 pessoas e deixaram 1,5 milhão de pessoas desabrigadas em Santa Catarina, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez apenas um sobrevoo sobre as áreas atingidas. Ainda assim, demorou quase um mês para realizar a viagem. Em abril deste ano, para saber a verdadeira dimensão do deslizamento de terra no Morro do Bumba, em Niterói (RJ), que matou cerca de 50 pessoas, o presidente preferiu não ir. Ordenou que o ministro das Cidades, Márcio Fortes, fosse ao local. A pouco menos de quatro meses das eleições presidenciais, porém, Lula não só esteve in loco em Pernambuco e Alagoas menos de uma semana depois da tragédia, como ontem decidiu cancelar a ida ao encontro do G-20, grupo dos 20 países mais ricos do mundo mais os principais emergentes, programado para hoje e amanhã no Canadá.
O presidente alegou ter ficado chocado com os estragos produzidos pelas fortes chuvas do último fim de semana no Nordeste e, por isso, preferia ficar no Brasil para acompanhar mais de perto as ações do governo nas regiões. Segundo o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, que esteve com o presidente, ontem, em reunião no Palácio da Alvorada, Lula enviou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para representá-lo na cidade canadense de Toronto.
Ainda de acordo com Amorim, o chefe da pasta econômica recebeu carta branca para tratar de qualquer assunto, já que o encontro discute apenas temas relacionados à economia. ;A reunião no Canadá é, na verdade, uma preparação para as discussões do G-20 na Coreia, no fim do ano. O ministro Mantega está mais que capacitado;, informou Amorim. Apesar de permanecer no Brasil no fim de semana, Lula não tem qualquer compromisso oficial marcado.