Brasil

Residência terapêutica deve ser espaço de transição, defende pesquisadora

postado em 28/06/2010 19:17
Consideradas fundamentais para a implantação da reforma psiquiátrica, as residências terapêuticas devem ser um espaço de transição e não uma moradia permanente para a maior parte dos ex-internos, defende a psicóloga Simone Frichembruder. Em 2009, a professora da Faculdade da Serra Gaúcha analisou essas unidades nas cinco regiões do país. As conclusões resultaram na tese de doutorado Os (Des)Encontros da Loucura com as Cidades.

;Há pessoas que ficaram tanto tempo dentro de uma instituição que hoje apresentam problemas crônicos, têm dificuldades físicas e precisam de uma residência. Há outras que foram para a instituição por uma questão social e não por um transtorno mental e, para elas, as residências poderiam ser um espaço de passagem;, destaca.

Simone reforça que, para garantir a reinserção social das pessoas originárias de hospitais psiquiátricos, as residências devem se desvincular da rotina manicomial ; de monitoramento constante do comportamento ; e avançar em busca da autonomia dos moradores.

Uma das conclusões da pesquisa é o excessivo controle dos profissionais que atuam como cuidadores e auxiliam no orçamento doméstico, no acompanhamento do uso de medicamentos e, em alguns casos, na cozinha e na limpeza da casa.

;Alguns profissionais que ficam nas moradias acabam reproduzindo os mecanismos de controle utilizados nos hospitais psiquiátricos. ;Essa casa não é a minha casa. Antes quem gerenciava minha vida era o hospital, agora é a Secretaria da Saúde;, me disse um morador de uma residência;, relata.

Simone conta que durante a visita a uma residência presenciou uma cuidadora intimidando a moradora por derramar bebida no chão. ;Ela colocou um bonequinho na frente da moradora e disse que ele iria observá-la para que ela não fizesse aquilo novamente. Esse controle integral da vida das pessoas para que ela esteja sempre organizada é transformado em sinônimo de reabilitação social;, critica.

A vida fora da instituição hospitalar também traz mudanças físicas às pessoas com transtornos mentais. Para a especialista, quanto mais tempo as pessoas ficam distantes do espaço manicomial, maior é a mudança.

;É inegável a mudança no aspecto da pessoa, a postura do corpo, a voz. Há casos de pessoas que pensávamos que nunca iriam falar e que de repente falam;, explica.

Para a pesquisadora, a reforma psiquiátrica ainda não se consolidou. ;Mesmo com o fim dos hospitais, o modelo asilar acaba se reproduzindo nas residências e nos locais de assistência à saúde com o uso de medicamentos, que está arraigado na sociedade;, afirma.

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