postado em 01/07/2010 08:30
Belo Horizonte ; Um quebra-cabeça, com partes já montadas e muitas outras a serem encaixadas. Assim o chefe do Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa, delegado Edson Moreira, definiu as apurações em torno do sumiço da modelo Eliza Samúddio, 24 anos, ex-namorada do goleiro do Flamengo Bruno Fernandes Souza. O delegado ainda aponta o caso como de desaparecimento, mas limitou o período de investigação entre 4 e 10 de junho, deixando a entender que, depois desse último dia, não há registro de movimentação da jovem.Ontem, o carro Land Rover do goleiro passou por nova perícia. Os primeiros exames revelaram vestígios de sangue. Os responsáveis pelo caso decidiram que o material será comparado com o sangue de Luis Carlos Samúddio, pai de Eliza, mas os testes podem demorar até 30 dias até a divulgação. A delegada Alessandra Wilker, que cuida do caso, disse que Bruno ainda não foi intimado a prestar depoimento. ;Se ele quiser aparecer espontaneamente, pode comparecer, que vamos ouvi-lo. Mas ele não foi intimado.;
Já Edson Moreira concedeu uma longa entrevista. Mas se esquivou das perguntas, sugerindo sempre que as questões levantadas são hipóteses e, por isso, não poderia comentá-las. Ele deixou escapar apenas que as manchas encontradas no carro do jogador seriam mesmo de sangue, ao admitir que o material recolhido será submetido a exame comparativo de DNA. Outra certeza da polícia é que Bruno, Eliza e o bebê de 4 meses, que seria filho do casal, estiveram mesmo no sítio, localizado em um condomínio em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte.
Segundo o delegado, uma testemunha confirmou com detalhes que os três foram vistos no local, sem precisar o dia exato. Outro dado que o policial demonstrou estar sendo considerado nas investigações é a evidência de que até o dia 9 a modelo estaria viva, o que se confirma pela ligação telefônica que ela fez a uma amiga em Santos (SP), dizendo que estava bem, acompanhada do filho, num hotel em Betim-MG. O delegado Wagner Pinto, chefe da Divisão de Crimes contra a Vida (DCcV), que também participou da entrevista, sugeriu que a jovem pode ter sido coagida a fazer a ligação dando a entender que a situação era de tranquilidade.
Perguntado se a polícia já tinha dados das ligações feitas pelos celulares da modelo, de uma amiga dela e do jogador, Wagner afirmou que não falaria sobre a questão, pois a quebra de sigilo é peça da investigação. O delegado chegou a citar não só a quebra do sigilo telefônico, mas também do bancário, como itens que vão servir de provas materiais.
De acordo com Edson Moreira, Bruno e dois amigos dele, Luiz Henrique Macarrão e Marco Antônio Figueiredo, o Russo, também citados nas apurações, estão no Rio de Janeiro e, quando for preciso, serão chamados. O delegado descartou possível exame de corpo de delito nos três.
Em um dia marcado pelas evasivas dos delegados, a maior movimentação na Delegacia de Homicídio de Contagem ficou por conta da prisão de que dois homens, não ligados diretamente ao sumiço da modelo, mas suspeitos de saquear o sítio do jogador.
INDIGNAÇÃO NAS NAÇÕES UNIDAS
; O desaparecimento da estudante Eliza Samúddio e o assassinato da advogada Mércia Nakashima, além da agressão de uma repórter em Mato Grosso, estão ganhando repercussão também no exterior. Ontem, o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem) emitiu um comunicado condenando essas situações. Na nota, a instituição pede a aplicação rigorosa da Lei Maria da Penha. ;Incentivamos a denúncia dos primeiros sinais de toda e qualquer atitude violenta por meio do Ligue 180 ; Central de Atendimento à Mulher e das delegacias especializadas, assim como maior investimento do Estado brasileiro para o pleno funcionamento da rede de atendimento à mulher. Por fim, manifestamos pesar à memória daquelas mulheres que, infelizmente, são assassinadas por atos criminosos de violência;, diz a nota. No comunicado, o Unifem afirma ainda que a sociedade precisa sempre se manifestar sobre o assunto.
Se ele quiser aparecer espontaneamente, pode comparecer, que vamos ouvi-lo. Mas ele não foi intimado;
Alessandra Wilker, delegada que investiga o caso
Traficante sob suspeita
Ernesto Braga
Belo Horizonte ; A Divisão de Crimes Contra a Vida (DCcV) está investigando a denúncia de que um traficante identificado apenas como Cleiton teria sido contratado por R$ 70 mil para dar sumiço(1) ao corpo da estudante modelo Eliza Samúddio, de 24 anos, desaparecida há mais de três semanas. A informação teria sido fornecida por um homem que depôs ontem na Delegacia de Homicídios de Contagem e apontado como peça importante para desvendar o misterioso sumiço da jovem.
O chefe do Departamento de Investigações (DI), delegado Edson Moreira, e o titular da DCcV, delegado Wagner Pinto, foram ontem à Delegacia de Homicídios de Contagem. Eles estavam reunidos com a chefe da unidade, delegada Ana Maria Santos, e com a delegada Alessandra Wilke, que investiga o caso, quando ela deixou a delegacia às pressas, no início da tarde, num carro da polícia. O veículo retornou pouco depois com o homem apontado como peça-chave na investigação. Ele comentou que Bruno teria pago ao traficante em um bar de Ribeirão das Neves. Alguém ouviu a conversa e contou à polícia, que, rapidamente, o localizou e o levou para prestar esclarecimentos.
À delegada, ele teria dito que o corpo de Eliza Samúddio havia sido jogado ou sepultado na Mata das Abóboras, uma área de mata nativa entre Ribeirão das Neves e Contagem, onde agentes fizeram buscas. O local é muito usado por criminosos para desova de cadáveres. O depoimento dele, que começou por volta das 12h, não havia terminado até o início da noite. Dois homens teriam sido presos em Contagem e acompanharam as diligências, mas o corpo não foi encontrado.
1 - Em cinco dias,29 denúncias
Desde que o caso da modelo Eliza Samúddio começou a pipocar na imprensa do Rio, no sábado, até ontem, depois que tomou repercussão nacional, o Disque Denúncia 181 de Minas Gerais recebeu 24 ligações que tinham alguma relação com o sumiço da moça. Mais cinco denúncias foram feitas ao mesmo serviço no Rio. O Disque Denúncia 181 foi lançado em novembro de 2007 pela Secretaria Estadual de Defesa Social em parceria com o Instituto Minas Pela Paz. Nenhuma das duas entidades quis comentar sobre o teor das denúncias encaminhadas nesses cinco dias.
Um dia como outro qualquer
Pablo Jacob/Agencia O Globo
Rio de Janeiro ; Aparentando muita tranquilidade e bem à vontade em meio às brincadeiras dos companheiros, o goleiro Bruno participou ontem do treino com os juniores do Flamengo no Ninho do Urubu, CT do clube em Vargem Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro. O jogador foi afastado pela diretoria rubro-negra do time principal, que treina em Itu, interior de São Paulo, preparando-se para a retomada do Campeonato Brasileiro, depois da Copa do Mundo.
Bruno trabalhou ao lado do goleiro Marcelo Carné, jogador dos juniores do clube, e na maioria do tempo não dava sinais de estar vivendo um drama. Em alguns momentos ficava introspectivo e com a cara fechada, mas de maneira geral demonstrou estar calmo, riu e conversou normalmente com os companheiros. No fim das atividades, durante o alongamento, chegou a dar gargalhadas com os demais jogadores. Tirou as luvas e as chuteiras e caminhou de cabeça baixa pelo gramado do campo principal do Ninho do Urubu até o vestiário, já no fim da manhã, e saiu sem dar entrevistas. (Patrícia Trindade).