Brasil

Vítimas das enchentes em Recife estão sem expectativa de quando ganharão casas

Diário de Pernambuco
postado em 06/07/2010 09:33
Moradores das áreas de risco do Recife denunciam que tiveram as casas demolidas e estão sem perspectiva de quando ganharão um imóvel novo. A maioria das famílias foi levada para abrigos, mantidos pelo município, mas as pessoas alegam que não querem permanecer no local por muito tempo. Elas dizem que nos abrigos não há segurança e que o local é incômodo por não oferecer privacidade. Desde que as chuvas começaram a castigar o estado, foram mais de 370 deslizamentos de barreiras nas áreas de morro da Capital. Até agora, a Prefeitura do Recife já demoliu 64 residências, todas por risco de desabamento. As casas estão localizadas na UR-10, no bairro do Ibura, e na Linha do Tiro, Alto Santa Terezinha e Dois Unidos, na Zona Norte da cidade.


Gilvan Guimarães e Maria do Bomparto, na Linha do Tiro: casa com rachaduras pode desabarGilvan Guimarães e Maria do Bomparto estão em casa, na Linha do Tiro, mesmo com as rachaduras e o medo de que a residência venha a desabar Foto: Alcione Ferreira/DP/D.A Press
A situação foi abordada pela cidadã-repórter Clara Galvão, que postou mensagem falando da insatisfação dos moradores que vivem nos morros do Recife. "É preciso que a prefeitura se pronuncie. Dê uma esperança para quem ficou sem moradia eresolva essa questão da melhor forma possível. É fácil demolir a casa de alguém que demorou anos para conseguir construir um imóvel", escreveu a internauta. Ontem, a reportagem do Diario percorreu alguns morros da Zona Norte, onde ocorreram deslizamentos de barreiras e já foram identificadas fendas nas encostas. A queixa dos moradores foi sempre a mesma.

No Alto Santa Terezinha, local onde no último dia 28, morreu soterrada a menina Renata Bezerra de Santana, de dois anos, os moradores aguardam uma posição da prefeitura. "A gente não sabe quando eles irão resolver esse problema. Por enquanto, estou abrigado na casa da minha irmã, mas ela também teve o imóvel condenado e terá que deixar a casa com toda a família a qualquer momento", lamentou o desempregado Alexandre José Araújo da Silva, 30, que residia numa das 15 casas demolidas pela prefeitura na Vila Monarca.

A casa que foi derrubada era própria, segundo Alexandre, adquirida com muito trabalho e a ajuda da família. Casado, ele tem três filhos (duas meninas de 7 e 9 anos e um menino de 6). Todos estão dividindo o mesmo teto na pequena casa de dois cômodos, que pertence à irmã de Alexandre e está localizada próxima aos imóveis demolidos. "Não vou ficar em abrigo com a minha família. Lá é muito perigoso. Tenho um colega que teve todos os documentos e as roupas roubados, enquanto tomava um banho", comentou Alexandre.

Monitoração - No Córrego do Curió, na Linha do Tiro, cinco imóveis foram demolidos. No local, morreram duas pessoas, um bebê de nove meses e um homem de 35 anos, vítimas de queda de barreira, também no mês passado. Vizinha dos imóveis derrubados, a dona de casa Patrícia da Silva Wanderley, 30, teme que a área seja reocupada. "No dia em que a prefeitura estava demolindo as casas, apareceram umas pessoas falando que iriam invadir o local e construir novos barracos", disse a mulher, que tem uma barreira no quintal de casa. Quem ainda não foi obrigado a deixar sua casa, vive com medo, como Gilvan Ventura Gumarães, 44, e a mulher Maria do Bomparto de Souza, 44, moradores da casa número 12 da Rua Tancredo Neves, na Linha do Tiro. "A casa está cheia de rachaduras. A situação piorou depois que um trator começou a cavar buracos na rua para fazer o esgoto", contou Maria do Bomparto.

Segundo a Coordenadoria de Defesa Civil do Recife (Codecir), a cidade possui três mil pontos de risco, que estão sendo monitorados desde o início do mês passado. A orientação da prefeitura é para as famílias deixarem as casas situadas em áreas de risco nos dias de chuva, indo para casas de parentes ou abrigos. A Codecir informou ainda que as famílias que tiveram seus imóveis demolidos estão recebendo o auxílio-moradia, o equivalente a R$ 151 por mês, e também serão cadastradas em programas habitacionais do município.

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