Diário de Pernambuco
postado em 09/07/2010 09:55
Dramas familiares que se repetiam em residências diferentes, mas causados pelo mesmo motivo: o vício do jogo. De um lado, doze mulheres que não aguentavam mais assistir os maridos se afundarem cada dia mais na triste rotina de jogar, perder, ganhar, perder. Do outro, a polícia, que recebeu de bandeja dez endereços onde os companheiros torravam o que deveria ser considerado sagrado para o sustento das famílias. Desesperadas, fizeram a denúncia junto à Ouvidoria da Polícia Civil. Era o que faltava para ser deflagrada ontem uma das maiores operações de identificações de cassinos clandestinos na Zona Norte do Recife. Uma verdadeira Las Vegas vinha funcionando na surdina, nos bairros de Casa Amarela, Casa Forte, Tamarineira e Parnamirim, com clientes de classe média e média alta. Dez casas que funcionavam como cassinos foram interditadas, algumas em endereços de luxo. Um total de 130 máquinas de caça níquel e vídeo pôquer foram apreendidas e cinco pessoas presas, entre elastrês policiais militares.Os primeiros levantamentos da polícia indicam que as 10 casas de jogos eletrônicos movimentavam por dia cerca de R$ 20 mil. Junto com as máquinas foram encontrados cadernos de contabilidade. Também foram apreeendidos duas CPUs, um notebook, um revólver calibre 38 e R$ 8.730,00 em dinheiro e cheques das vítimas. O mandado de busca e apreensão foi expedido pelo juiz Roberto Carneiro Pedrosa no dia 22 de junho. Antes de dar início à operação, o delegado Gilmar Rodrigues, titular da delegacia de Casa Amarela, fez uma prévia investigação e definiu que a ação deveria ser feita ao mesmo tempo nos 10 estabelecimentos. Participaram 30 policiais divididos em quatro equipes. Ligações para o Disque-denúncia complementaram as informações.
Na Rua Afonso Celso, no bairro de Parnamirim, em uma casa, aparentemente residencial, funcionava um dos bingos.Somente neste endereço foram encontradas 45 máquinas caça níqueis e uma máquina de cartão de crédito. Em um cartaz, constava um aviso aos clientes que os pagamentos acima de R$ 4 mil, seriam feitos em cheque. Na Rua Gildo Neto, na Tamarineira, um portão de ferro à prova de bala, denunciava o lugar, em meio a uma área residencial. Ao contrário da residência em Parnamirim, o espaço foi programado para funcionar como cassino. Em grande salão eram dispostas as máquinas. Um total de 58. Três ar-condionados e um serviço de bar davam o conforto necessário aos clientes. Todo o salão era filmado. A polícia acredita que as duas CPUs apreendidas funcionavam como receptoras das imagens.
Foi nesse local que foram encontrados os três policiais militares. Eles não estavam fardados e não souberam explicar o que faziam no local às 8h30. Segundo o delegado de Casa Amarela, Gilmar Rodrigues, eles tentavam extorquir dinheiro e foram autuados em flagrante e encaminhados ao Centro de Reeducação do Policial Militar de Pernambuco (CREED). Os militares Ivanildo Garcia Rodrigues, 36 anos, lotado no 13; Batalhão da Polícia Militar do Recife, Ítalo Henrique Albuquerque, 37, e Fábiode Souza, 32, ambos do 1; BPM de Olinda, vão responder por crime de concussão, quando o funcionário público usa a função para obter vantagem. Junto com eles estava Adriano Lins Nogueira de Araújo, 25 anos, também acusado de extorsão e levado para o Centro de Triagem em Abreu e Lima (Cotel). Apesar do tamanho da operação a polícia não conseguiu prender nenhum proprietário. "É muito difícil. São pessoas milionárias. Quem aparece são os laranjas", revelou o delegado.