Brasil

Pesquisa inédita traduz em números o abismo social em Minas Gerais

postado em 10/08/2010 16:45
O abismo de desigualdade que separa o Norte de Minas e os vales do Jequitinhonha e Mucuri do restante do estado mostra mais uma vez sua face perversa em levantamento inédito da Fundação João Pinheiro (FJP), em parceira com o Banco Mundial. A partir de dados de 2009, a Pesquisa por Amostra de Domicílios (PAD-MG), um retrato da população mineira nas 11 divisões estaduais, mostra que o acesso a serviços básicos ainda é obstáculo longe de ser superado nas regiões mais carentes do estado. No Jequitinhonha e Mucuri, a taxa de analfabetismo supera a proporção de um a cada cinco moradores. O índice de 21,4% é mais que duas vezes maior que a média de Minas (9,2%). O tempo de estudo de quem vive na região, de 5,2 anos, também fica abaixo da média geral, de 6,5 anos.

Enquanto no quesito educação o destaque negativo fica por conta da dupla Jequitinhonha e Mucuri, quando o assunto é saneamento, quem assume a pior colocação é o Norte de Minas. Apenas 34,8% dos nortistas têm acesso à rede coletora de esgoto. Um disparate frente à média estadual, de 78,8% da população atendida pelo serviço. A coleta de lixo na região também vale a pior posição no ranking da PAD e cobre pouco mais da metade dos moradores (63,6%). Do outro lado do estado, e com realidade bem diferente, está o Triângulo, que recolhe os detritos de 94,2% dos habitantes, superando a média geral de Minas, de 85,4%.

No aspecto água canalizada, os vales do Jequitinhonha e Mucuri voltam a ocupar o último lugar no levantamento, com 92% da população sem o serviço. O próprio diretor-geral do Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais (Idene), Walter Adão, assume que a universalização do recurso ainda é um desafio na região, que distoa do Centro-Oeste, com quase 100% dos habitantes com acesso, três pontos percentuais acima do total de Minas. Uma vitória comemorada pelo aposentado Iraci José Machado, de 64 anos, morador de Divinópolis.

Durante quase cinco anos, ele lutou para ter água encanada e há pouco mais de uma década o sonho se tornou realidade. Desde então, a vida dele e dos outros moradores do Bairro São Simão mudou. ;Era tudo mais difícil. A água tinha que ser armazenada em tambores e ficava suja. Hoje, a coisa está muito melhor. Água de qualidade, limpinha;, diz.

Diferenças

De acordo com a coordenadora da PAD-MG, Nícia Raies Moreira de Souza, a riqueza da pesquisa é justamente a capacidade de medir as diferenças regionais no estado. ;Ela nos dá a capacidade de comparar a realidade das diversas regiões. Algumas informações já conhecíamos por outras pesquisas, mas esta reforça a existência de dois mundos dentro de Minas Gerais. É no Norte de Minas e no Jequitinhonha e Mucuri que está a parcela com média mais baixa de anos de estudo e menor acesso a serviços como água encanada e esgoto;, ressalta.

Segundo Walter Adão, o abismo entre essas regiões e o resto do estado é histórico e pode ser explicado pela falta de atrativos para a ocupação, principalmente por causa do clima. ;A migração não encontrou condições propícias. Como os moradores não achavam emprego durante a seca, eles se mudavam temporariamente para outras regiões, abandonando os estudos, o que favoreceu o analfabetismo;, avalia. A falta de infraestrutura básica também encontra explicações nesse cenário de escassez de oportunidades.

Para superar essas diferença, o diretor-geral do Idene ressalta que o estado tem investido três vezes mais em cada morador dessas regiões do que no restante do território mineiro. ;Estamos tentando melhorar as políticas de infraestrutura, a geração de emprego e atendimento à população rural, que corresponde a mais de 50% do total. Acredito que conseguiremos reverter esse quadro de analfabetismo e falta de saneamento em 10 ou 12 anos;, afirma Adão, acrescentando que mais de 180 mil pessoas foram alfabetizadas nos últimos seis anos.

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