Brasil

Pesquisa indica que brasileiros estão satisfeitos com o trabalho, mas não com a saúde

Novo indicador criado pela ONU mede o grau de satisfação da população e destaca experiências como a de escola do Estado

postado em 11/08/2010 16:14
Os brasileiros estão mais descontentes com os problemas enfrentados na área da saúde do que com as condições de educação e de trabalho ; consideradas melhores no sul do país. É o que mostra uma pesquisa divulgada ontem (10) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que leva em conta, de forma inédita, valores, vivências e percepções subjetivas da população.

Com o objetivo de mensurar o que os brasileiros sentem sobre esses três aspectos, os pesquisadores criaram um novo indicador de qualidade de vida: o Índice de Valores Humanos (IVH), construído a partir de 1.887 questionários, aplicados a habitantes de 24 Estados.

Em uma escala de zero a um, o IVH para a saúde não passou de 0,45 na média nacional ; contra 0,54 na educação e 0,79 na área do trabalho. Os entrevistados foram questionados sobre temas que fazem a diferença sempre que procuram ajuda na rede pública ou privada, em hospitais ou postos de saúde: o tempo de espera por atendimento médico, a linguagem usada pelos especialistas e o interesse demonstrado pelos profissionais.

Na região Sul, o índice ficou um pouco acima da média ; em 0,47 ;, mas ainda assim abaixo do que os pesquisadores registraram no Sudeste e no Centro-Oeste. De um modo geral, 51% dos entrevistados consideraram o atendimento demorado.

"Esperamos que isso sirva para orientar políticas que de fato incluam os cidadãos", diz Flavio Comim, coordenador do Relatório de Desenvolvimento Humano Brasileiro 2009/2010.

Metodologia busca avaliação humana do desenvolvimento

Para entender como os brasileiros se sentem em relação ao trabalho, foram incluídas questões sobre esgotamento emocional, falta de reconhecimento, realização profissional e liberdade de expressão nas planilhas. A ideia, segundo o economista, era criar uma metodologia que levasse em conta uma maneira mais humana de medir o desenvolvimento. O resultado surpreendeu principalmente no sul do país, onde o IVH-T chegou a 0,84.

"Tudo indica que no Sul há menos sofrimento no trabalho. Ainda não podemos divulgar dados por Estado, mas é possível que o Rio Grande do Sul seja o melhor lugar para se trabalhar", conclui o especialista.

"Carandiru" vira exemplo

Carandiru, nome do complexo prisional paulista que virou filme, era apelido do Centro Municipal de Educação Dr. Décio Gomes Pereira, em Sapiranga, no Vale do Sinos.

Adotado devido à violência registrada nos corredores da escola, o epíteto agora é coisa do passado: desde ontem, a instituição de 1,6 mil alunos figura na pesquisa do Pnud como um exemplo a ser multiplicado.

Até 2005, o colégio de Sapiranga sofria desse mal. Sem conseguir fisgar a atenção de crianças e adolescentes, os professores conviviam com o desinteresse dos alunos e eram obrigados a apartar brigas no pátio da escola diariamente. Gritos e discussões viraram rotina. Como consequência, as notas despencaram. E a autoestima também.

Disposta a virar o jogo, a diretora Marlise Rosane Wagner, 43 anos, chamou os colegas de quadro negro para uma conversa, chegou à conclusão de que era preciso dar mais opções aos alunos. Conseguiu transformar em realidade o projeto Uma Escola Especial.

Voltada à promoção de atividades no período inverso ao das aulas, a iniciativa começou aos poucos, cresceu e acabou dando tão certo que chamou atenção da ONU.

"Acho que depois dessa vamos ter de criar um projeto especial para trabalhar a modéstia", brinca Marlise.

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