postado em 19/08/2010 07:00
; Carolina Khodr; Renata Mariz
Mais de oito milhões de vacinas contra o vírus H1N1 ainda estão disponíveis nos postos de saúde do país. A sobra corresponde ao gasto de R$ 92 milhões ; 4,3% do investimento total do governo contra a pandemia. Na campanha de vacinação que teve início em março deste ano, cerca de 88 milhões de pessoas foram imunizadas. A meta do Ministério da Saúde foi vacinar ao menos 80% do grupo de risco ; gestantes, portadores de doenças crônicas, crianças com mais de 6 meses e menos de 2 anos de idade, e também trabalhadores de saúde e população indígenas.
Diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia, Marcos Antonio Cyrillo, considerou alta a quantidade de vacinas que ainda restam nos postos de saúde: ;Essas doses devem ser aproveitadas logo, já que o vírus da influenza sofre variações e no próximo inverno essa vacina pode não ter mais efeito;. Já o pneumologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília Ricardo Martins considera normal a sobra de vacina, em função da adesão em alguns grupos não ter chegado a 100%. A sugestão do médico é a de que o governo aproveite os lotes restantes para imunizar as populações que não receberam as doses ou iniciar uma nova campanha na Região Norte.
O Brasil gastou R$ 2,1bilhões no combate ao vírus responsável pela gripe A. Mais da metade desse montante (1,3 bilhão) foi destinado à compra de 113 milhões de doses da vacina.
De acordo com o diretor de vigilância epidemiológica do Ministério da Saúde, Eduardo Lage, o Brasil seguiu as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). ;O principal desafio foi organizar uma campanha de vacinação bastante complexa.;
Aproveitar a viagem
De acordo com o Ministério da Saúde, as vacinas que sobraram não foram recolhidas dos postos de saúde e estão disponíveis para aqueles que não se vacinaram na época da campanha mesmo que não se enquadrem nos grupos de risco. Mas essa informação não é divulgada. Wherli Moura, 17 anos, estava em consulta no Posto de Saúde n; 6, no Distrito Federal, em companhia da mãe quando foi informado pelo Correio que naquela unidade restavam vacinas disponíveis. ;Minha mãe já tinha tomado a vacina porque tem problemas respiratórios, mas eu não sabia que podia tomar agora;, conta. Aconselhado pela mãe, o estudante aproveitou a oportunidade e tomou a vacina, sem enfrentar nenhuma fila. Só nesse posto, localizado na 605 sul, estão disponíveis mais de 300 doses.
Em 2009, foram registrados 46,1 mil casos graves da doença e 2.051 mortes. Enquanto este ano, até 31 de julho, 753 pessoas com gripe A precisaram de internação e 95 morreram. De acordo com a OMS, o vírus continua em circulação no mundo, mas em conjunto com outros vírus sazonais, como a gripe comum. Diferentemente do que ainda ocorre em países como Índia e Nova Zelândia, o Brasil está fora do estado de epidemia. Mas a OMS alerta que o monitoramento e as ações preventivas contra a disseminação do vírus devem continuar, especialmente no cuidado com as gestantes, os portadores de doenças crônicas e os menores de dois anos, grupos dos mais vulneráveis à doença. Cyrillo acredita que a cobertura da campanha de vacinação foi eficiente, mas critica a infraestrutura do sistema de saúde e a falta de pessoal no atendimento à população. ;Tinha gente que esperava quatro horas para ser atendida;, conta. Mas diz que o desafio maior está na educação do povo. ;É necessário que a população tenha bons hábitos de higiene;, diz. (CK e RM)
; Memória
Depois da mutação
Em abril de 2009, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou o mundo sobre o surgimento da Influenza A (H1N1). Chamado na época de gripe suína, o vírus, que antes só era transmitido entre os porcos, sofreu mutação com outros três tipos de gripe (duas humanas e uma aviária) e passou a infectar os seres humanos.
Desde a época em que foi descoberta, a gripe A matou mais de 18 mil pessoas em 214 países. A OMS temia que esse número pudesse chegar a 7 milhões. Este mês foi declarado o fim da pandemia e apenas alguns países, como a Índia, ainda estão em situação de epidemia. (CK e RM)