Igor Silveira
postado em 22/08/2010 09:30

De acordo com informações da Secretaria de Segurança Pública do Rio, um grupo de mais de 50 bandidos saiu de uma festa na favela do Vidigal por volta das 8h. O bando seguia em três vans, cinco motos e carros para o Morro do Urubu, na Zona Norte, mas acabou surpreendido por patrulhas do 23; Batalhão da Polícia Militar, quando passava pela Avenida Aquarela do Brasil (veja o mapa acima).

;Caveirão;
Durante o tiroteio, 10 bandidos fugiram em direção ao Hotel Intercontinental, a 480m do ponto onde começou o tiroteio. Encapuzados e armados com fuzis, os traficantes levaram os reféns para a cozinha do hotel e chegaram a tentar, sem sucesso, fugir do local com o uniforme dos seguranças.
O Batalhão de Choque e o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio cercaram o hotel, mobilizando 200 PMs, com o auxílio de helicópteros e do ;caveirão; ; um carro blindado utilizado para subir em morros. Segundo o coronel Lima Castro, porta-voz da PM, os bandidos não tiveram outra opção, senão se entregar e libertar os reféns. No momento da invasão, 1,5 mil pessoas estavam no hotel.
Entre os 10 bandidos que foram presos, nove já tinham passagem pela polícia. Um deles é o traficante conhecido como Perna, apontado pela polícia como o segundo na hierarquia do tráfico de drogas da Rocinha. Com eles foram encontrados oito fuzis, cinco pistolas, uma granada, munição e rádios.
A delegação do Fluminense, que disputa hoje o clássico carioca contra o Vasco no Maracanã, seguiria para o Intercontinental no começo da tarde de ontem para se concentrar para a partida do Campeonato Brasileiro, mas por causa da confusão seguiu para um hotel na Barra da Tijuca.
O secretário de Segurança Pública do Estado do Rio, José Mariano Beltrame, afirmou que a ação violenta dos traficantes não vai atingir o plano de instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) na cidade. ;Estamos apresentando um plano concreto para o Rio e isso não vai desviar nossas ações. Nosso planejamento não será alterado. Entendemos que o que propomos é uma solução. Mas leva tempo. Quem afirma que resolve o problema da noite para o dia está mentindo;, frisou.
Das críticas aos elogios
A violenta manhã de ontem, no Rio de Janeiro, se tornou um dos assuntos mais comentados do sábado. Políticos se dividiram entre elogios e críticas. Os únicos pontos convergentes eram a surpresa com a ousadia dos bandidos e o temor pela violência em plena luz do dia, em uma das áreas mais nobres da capital fluminense. O governador Sérgio Cabral divulgou uma nota oficial sobre o caso e garantiu que, em breve, moradores das comunidades do Vidigal e da Rocinha estarão livres do poder paralelo. ;É importante destacar a ação da polícia. Firme, profissional e com efetividade. Não temos nenhuma ilusão, desde o primeiro dia de governo, sobre o tamanho do nosso desafio. Mas temos a convicção de que estamos no caminho certo;, ressaltou.
Em entrevista ao Correio, o candidato ao governo do Rio de Janeiro pelo Partido Verde, Fernando Gabeira, acusou as administrações federal, estadual e municipal de não terem instalado Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) na Rocinha e no Complexo do Alemão para manter o ritmo das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) nessas regiões. ;Este acontecimento alveja a máquina de propaganda do governo;, ressaltou. O presidenciável José Serra (PSDB), que esteve ontem em Duque de Caxias, a 15km do Rio, classificou a ação dos bandidos como ;ousada; e destacou a necessidade de uma atuação mais firme do governo contra a violência.
No exterior
O tiroteio entre bandidos e policiais em São Conrado e a invasão ao Hotel Intercontinental também repercutiu no exterior. Uma matéria publicada na página do The New York Times relatava os momentos de terror vividos na manhã de ontem e lembrava que a edição de 2009 do Fórum Econômico Mundial foi realizado no mesmo prédio ontem criminosos mantiveram 35 reféns antes de serem rendidos pelos policiais. ;Eu nunca tinha visto tantos bandidos juntos;, destacou uma testemunha à reportagem.
O jornal português Público manteve, durante boa parte do dia, uma grande matéria sobre o episódio violento na Zona Sul do Rio. A reportagem enfatizava o fato de que 50 portugueses estavam hospedados no hotel no momento do confronto. Entre os reféns, havia também seis turistas chineses.(DA e IS)
Direto do front
Narrativa pelo Twitter
O antropólogo e ex-secretário Nacional de Segurança Luiz Eduardo Soares narrou a troca de tiros entre polícia e bandidos, em São Conrado, na manhã de ontem, quase que simultaneamente ao acontecimento. Por meio da rede de microblogs Twitter, o autor de livros como Cabeça de Porco e Elite da Tropa descreveu os momentos de tensão. ;Violentíssimo tiroteio aqui em São Conrado, ao redor da Rocinha. O bairro parou. Estamos ilhados. Nenhum carro nas ruas. Pânico no ar. Tiros de fuzil soaram intensos como se cruzassem quartos e salas dos prédios próximos aos epicentros do confronto;, escreveu na rede de micromensagens. ;Bandidos invadindo o hotel Intercontinental e fazendo reféns atingem a imagem internacional do Rio e desfazem a fantasia da pacificação. Uso eleitoral das UPPs não será suficiente para maquiar o horror. Ilusão vira fumaça na ponta do fuzil;, completou.