postado em 22/08/2010 11:35
A dificuldade de ;laçar; um médico e fazer com que ele fixe residência, garantindo assim o direito universal à saúde da população, deixou de ser situação vivida exclusivamente nos rincões do estado. A Região Metropolitana de Belo Horizonte abriu um verdadeiro leilão, por meio do qual oferece rendimentos entre R$ 980 e R$ 17,5 mil ; maior até mesmo que o salário de alguns dos prefeitos, para tentar pegar à unha um bom profissional. Levantamento feito pelo Estado de Minas nas 34 cidades da Grande BH revela que, na disputa, vale o ;quem dá mais;, levando o médico a migrar de um lugar para outro de acordo com a melhor oferta salarial e de condições de trabalho.A pesquisa foi feita nas 34 secretarias de Saúde, das quais 21 deram retorno, e contemplou quatro perguntas: Qual especialidade médica não há na cidade? Qual delas tem menos médicos que o necessário para compor o quadro? Quanto se paga ao profissional por regime de trabalho? Há muita rotatividade? O resultado mostra que a campeã da concorrência, por enquanto, é a pequena Taquaraçu de Minas, a 40 quilômetros de BH, onde vivem 3.910 habitantes. Para segurar o médico, a saída foi pôr os salários nas alturas. No quadro fixo, a cidade tem um profissional do Programa Saúde da Família (PSF) e dois clínicos, que são plantonistas. Os vencimentos podem chegar a R$ 17,5 mil líquidos, incluindo os plantões dos fins de semana e a partir das 19h. Um dos postos de saúde fica aberto 24 horas. Os médicos trabalham em esquema de sobreaviso: só comparecem ao local caso haja necessidade.
Mesmo com todos os atrativos, a unidade do PSF ficou sete meses sem médico. Leitos e salas de atendimento vazias são a prova da falta de gente para ocupar o cargo. A secretária Marli Conceição Cruz Pinto diz que o município tem se sacrificado para cobrir os gastos. Como o plano de cargos e salários não contempla valores tão altos, pois, por lei, nenhum vencimento pode ultrapassar o do Executivo, o jeito foi apelar para a licitação. Publica-se o edital e, no dia do pregão, as propostas são apresentadas. ;Antes, lançávamos o edital e não aparecia ninguém. Começamos a ouvir as propostas e a buscar consenso. O valor é estipulado pelo profissional e, se tivermos condições, contratamos;, diz Marli.
No outro extremo está Mário Campos, a 21 quilômetros de BH, com cerca de 7 mil habitantes. O piso salarial é de R$ 980 por 20 horas semanais, com o compromisso de atender, no ambulatório, 30 pacientes. Aos plantonistas são pagos R$ 400 por regime de 12 horas. A rotatividade é justificada pelos baixos salários. Faltam pediatras (hoje, três atendem em três unidades de saúde) e ginecologistas (são dois para se revezar em três postos). A secretária de Saúde, Raquel Rodrigues, justifica: ;A cidade é pobre e vive, basicamente, do Fundo de Participação dos Municípios. Não há renda extra para adicionar à saúde.; Ela ressalta que a cidade só consegue contratar profissionais que estão temporariamente desempregados. ;Aqui não tem salário para eles. Ser médico, atualmente, se tornou um negócio e o juramento de salvar vidas é para poucos. Eles também têm família, vida social e precisam salvar o deles;, diz.