Brasil

Acusados do assassinato de duas adolescentes, em Pernambuco, serão julgados

postado em 29/08/2010 08:25

>> Ana Paula Neiva
Marcionila Teixeira
Wagner Oliveira

A polêmica do chamado Caso Serrambi, envolvendo o assassinato de duas adolescentes no sul de Pernambuco, está perto do fim. Nesta segunda-feira (30/8), os dois homens apontados pelo Ministério Público de Pernambuco como os assassinos das adolescentes Maria Eduarda Dourado e Tarsila Gusmão estarão no banco dos réus. Dois promotores terão a missão de convencer os jurados da culpabilidade dos irmãos Marcelo e Valfrido Lira, que trabalhavam em uma kombi de lotação. Apesar de a opinião pública pernambucana achar que os Liras foram usados como bodes expiatórios para encobrir os verdadeiros culpados pelo duplo assassinato, os promotores prometem virar o jogo com uma lista composta por pelo menos 27 indícios fortes contra os réus. O crime ocorreu em maio de 2003.

O Correio/Diario conseguiu, com exclusividade, um relatório confidencial com as peças que serão apresentadas ao longo dos três dias do julgamento. Indícios que foram colhidos numa investigação que gerou um processo com 40 volumes e mais de 10 mil páginas e chegou a ser devolvido quatro vezes sob a alegação de falta de provas.

Entre as revelações mais bombásticas, o dossiê traz o depoimento de uma parente dos acusados que disse ter presenciado a dupla confessando participação no assassinato das jovens. Outro ponto que será levantado contra os réus, segundo o documento, são os antecedentes criminais de Marcelo, considerados comprometedores. Ao longo da investigação, a polícia descobriu que ele responde a quatro processos na comarca de Ipojuca, sendo dois por homicídio, um por porte ilegal de arma e um por lesão corporal grave. O que fortaleceu ainda mais as suspeitas dos investigadores foi o fato de Marcelo trocar constantemente o chip do seu telefone celular, numa tentativa de não ser grampeado pela polícia.

Outra prova que será apresentada é uma gravação que mostra Marcelo Lira e a esposa discutindo sobre como os óculos de Tarsila Gusmão teriam aparecido com Valfrido. A gravação da conversa do casal foi feita pela Polícia Civil dentro da Kombi em que eles circulavam. Além desses indícios, a polícia ressalta as inúmeras contradições encontradas nos depoimentos dos dois acusados e dos parentes deles.

Independentemente da condenação ou da absolvição dos Liras, uma coisa é certa: as dúvidas vão continuar pairando na cabeça daqueles que acreditam até hoje na inocência dos acusados. Um caso que dividiu a opinião pública em Pernambuco, teve grande destaque na imprensa e permeou o imaginário popular durante os últimos sete anos. Nos bastidores, o sentimento é de uma verdadeira luta de classes, travada entre famílias abastadas que perderam suas filhas e o clã de dois motoristas de lotação pobres que tentam provar que são inocentes.

Até hoje, nem mesmo as famílias das duas jovens se entendem sobre o assunto. Os pais de Maria Eduarda, por exemplo, no começo das investigações não acreditavam que os motoristas fossem os culpados. Dois anos depois, o pai, Antônio Dourado, disse ter sido convencido pela PF de que as adolescentes foram mortas por eles. Os pais de Tarsila também pensam assim desde o começo das investigações.

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