postado em 03/09/2010 08:20
; Carolina KhodrO Conselho Federal de Medicina (CFM) regulamentou a cirurgia de troca de sexo para mulheres. A norma possibilita a retirada da mama, do útero e dos ovários de mulheres diagnosticadas com transgenitalismo, disfunção em que a pessoa rejeita o corpo feminino e pode, inclusive, apresentar tendência a automutilação. A intervenção, segundo a regulamentação, poderá ser realizada em todos os hospitais que preencham os requisitos estipulados, mas o Ministério da Saúde ainda reconhece a operação como experimental e, por enquanto, não vai autorizar a sua realização no Sistema Único de Saúde (SUS).
Um conselho multidisciplinar, formado por cirurgião, psiquiatra, endocrinologista, psicólogo e assistente social, vai acompanhar a candidata à cirurgia, que deve ter mais de 21 anos e condições físicas apropriadas para o tratamento. Esse grupo também será responsável pela confirmação do diagnóstico de transgenitalismo. Edevard Araújo, relator da resolução do CFM, ressalta a importância da participação do grupo, já que a cirurgia é definitiva. ;Não pode haver arrependimento. Por isso, todo o procedimento dura cerca de dois anos;, explica.
Superação
Para o diretor do Instituto Paulista de Sexualidade, Oswaldo Rodrigues, a avaliação psicológica e o acompanhamento médico devem ter início logo quando a pessoa percebe algo errado com o próprio corpo. ;O acompanhamento auxilia a ressignificar o corpo e orientar as mudanças. Outro aspecto importante é auxiliar na superação das dores e dos sofrimentos psicológicos ocorridos durante todos os anos em que a pessoa foi obrigada a viver num corpo de mulher e ter que agir assim. Essa superação emocional é demorada e exige afinco e persistência para que uma nova forma de expressão emocionalmente saudável surja;, diz.
Marcelo Caetano, 20 anos, conta que desde pequeno tinha impressões erradas sobre o próprio corpo. ;Só depois que entrei na faculdade descobri que era possível mudar de sexo;, diz. Há três meses, ele cortou o cabelo, mudou de nome e passou a se vestir como homem, mesmo ainda não tendo feito a cirurgia. Antes de assumir a identidade masculina, o estudante de direito fala que, insatisfeito com o próprio corpo, chegou a se automutilar. ;Hoje, sou homem 24 horas por dia e me sinto mais feliz assim;, conta.
Já a cirurgia de mudança do sexo masculino para o feminino começou a ser feita pelo SUS em hospitais públicos, privados e universitários habilitados em agosto de 2008. Desde então, até junho deste ano, apenas 57 pessoas fizeram a operação. São menos de três cirurgias por mês. Hoje, mais de 500 pessoas estão aguardando o tratamento. A nova resolução do conselho não libera a neofaloplastia ; cirurgia de construção do pênis ; , exceto em procedimentos experimentais.
Ouça entrevista com Edevard José de Araújo, integrante do Conselho Federal de Medicina