Agência France-Presse
postado em 14/09/2010 16:52
Genebra - A relatora especial da ONU sobre as formas contemporâneas de escravidão, Gulnara Shahinian, manifestou nesta terça-feira (14/9) ao Conselho de Direitos Humanos, em Genebra, a preocupação com os trabalhos forçados no Brasil e com "a impunidade" dos culpados."A impunidade de que gozam os proprietários de bens imóveis, as companhias internacionais ou locais e os intermediários, como os "gatos" (nome dado aos intermediários), ameaça as ações exemplares" realizadas pelo Brasil na luta contra os trabalhos forçados, ressalta a especialista em um relatório.
Para redigir esse documento, Gulnara Shahinian viajou ao Brasil, onde permaneceu de 17 a 28 de maio. Constatou que os trabalhos forçados existiam na indústria têxtil, e também nas áreas rurais, principalmente em criações de gado.
Ela afirma que "as vítimas são, principalmente, homens e crianças maiores de 15 anos".
Embora a escravidão tenha sido abolida oficialmente no Brasil em 1888, o País ainda sofre com essa mazela, na medida em que alguns empresários se aproveitam da pobreza em que vive parte da população, disposta a trabalhar em condições degradantes. Sem condições de se sustentar, esses trabalhadores acabam presos a dívidas com os patrões.
Na semana passada, as autoridades brasileiras libertaram 95 pessoas que trabalhavam em plantações de cana de açúcar em condições próximas à escravidão.
"O governo do Brasil reconhece a gravidade dos trabalhos forçados como uma violação grave dos Direitos Humanos e como uma violação de nossa Constituição", afirmou a embaixadora brasileira na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo, do Conselho de Direitos Humanos.
"A erradicação completa é uma prioridade e um imperativo moral", acrescentou.