Igor Silveira
postado em 18/09/2010 08:00
Seis anos de espera e pouco menos de três minutos de cerimônia. Mesmo no dia do casamento, em um cartório da Asa Sul, a ansiedade da administradora de empresas Patrícia Silva Araújo, 31 anos, não deu trégua. O noivo, Geraldo Aurélio Cipriano Resende, servidor público, 42, chegou cerca de 40 minutos atrasado ao local, onde era esperado por parentes e amigos que foram acompanhar a solenidade. O casal integra as estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgadas ontem na pesquisa Síntese de Indicadores Sociais, que aponta o Distrito Federal como a unidade da Federação com a quarta maior média de casamentos do Brasil ; 8,1 por mil habitantes em 2008. A média nacional, por exemplo, é de 6,7 por mil habitantes no mesmo período ; 0,1 a menos que em 1999. O valor é igual ao registrado no estado de São Paulo e perde apenas para Acre, Espírito Santo e Goiás, nesta ordem.;Estamos juntos há bastante tempo, mas só agora decidimos oficializar a relação. Meu pai apertou o noivo;, brinca Patrícia. Para justificar a grande quantidade de casamentos, a juíza de paz Eunice Oliveira Pennaforte usa um antigo argumento ; de que a família continua sendo ;a célula madre; da sociedade. O gerente de estatísticas vitais do IBGE, Claudio Dutra, dá uma explicação mais técnica e destaca que o caso da professora é simbólico. Segundo Dutra, o aumento da taxa ocorre, especialmente, porque a população de regiões urbanas busca documentar a união. ;O Distrito Federal tem essa cultura ainda mais forte, talvez, por abrigar a capital federal;, ressalta o especialista.
Outro dado que torna o casamento de Patrícia e Geraldo ainda mais representativo na pesquisa do IBGE é o fato de o servidor público ter oficializado, ontem, uma união pela segunda vez. No DF, a taxa de casamentos entre divorciados e solteiras é a maior do país. A proporção deste tipo de casamento é de 10%. A média nacional nesse caso é de 7,4%. Os dois só destoam do estudo em relação à taxa de fecundidade. Mas, ao contrário do que mostra a pesquisa, o casal pensa em ter filhos.
Foco na carreira
A professora Renata Marques Maia Maciel, 28 anos, avisou ao marido Thiago Augusto Maciel, ainda quando o namorava, há três anos: ;Eu não pretendo ter filhos;. A decisão de Renata é comum em Brasília. Segundo a pesquisa do IBGE, a taxa de fecundidade ; estimativa que leva em conta a média de filhos que uma mulher tem até o fim do período reprodutivo, levando em conta a quantidade total de pessoas do sexo feminino naquele local ; está entre as oito menores do país, 1,84. O número é menor, por exemplo, que a média nacional, de 1,94.
Cláudio Dutra ressalta que esse resultado pode ser explicado pelo alto grau de escolaridade dos brasilienses. ;As mulheres no Distrito Federal são mais escolarizadas e muitas optam pelo foco na carreira;, diz. A tese de Dutra é confirmada com os números que mostram que as menores taxas fecundidade estão na Região Sudeste, a mais rica do Brasil. Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo apresentam os menores números. Enquanto a Região Norte é a que traz a maior média, 2,51, e os estados com as maiores taxas estão lá: Acre, Amapá e Pará.
A decisão de não ter filhos, garante Renata, não é um empecilho no relacionamento dela com Thiago. ;Quando ele vê alguma criança na rua, às vezes, ainda comenta que gostaria de ser pai, mas logo esquece. Hoje em dia, criar um filho é algo extremamente complexo. Enquanto sigo sem vontade de engravidar, procuro me especializar e seguir melhorando na carreira que escolhi;, conta. ;Os meus sogros sempre dizem que querem netos, mas acho que estão se acostumando com a ideia de que não teremos uma família maior;, completa.
Outro dado relevante que o estudo Síntese de Indicadores Sociais trouxe para o Distrito Federal foi a quarta colocação no ranking de menor taxa de mortalidade do país, 15,80% a cada mil crianças. Esse tópico é preocupante na Região Nordeste, com 32,20% a cada mil nascidos. No Maranhão, o percentual sobe para 36,50%. A boa notícia para Brasília é a alta expectativa de vida, maior média do Brasil, ao lado de Santa Catarina, com 75,8 anos.