Brasil

População de Alagoas ainda espera voltar à vida normal após enchentes

Enchentes já aconteceram há três meses, e a população ainda espera a volta da vida como era antes de os rios subirem

postado em 20/09/2010 08:53

Izabelle Torres
Enviada Especial

Santana do Mundaú em junho deste ano, após a passagem das águas: cenário de desastre generalizado, casas destruídas, pessoas desabrigadas, um centro urbano mergulhado na lama e no caos. Desde então a população espera que os agentes públicos cumpram a promessa de construir novas habitações para os atingidosMaceió
; Três meses se passaram desde que as cheias no Nordeste varreram cidades. Pouca coisa mudou na vida das vítimas durante esse tempo. Os rostos continuam incrédulos. Os alojamentos, sem condições mínimas de higiene. Parte dos recursos prometidos ainda dorme nas mãos dos governos estaduais e os lotes que a União ensaia comprar nunca custaram tão caro. Em meio ao caos, a campanha política emperrou a votação da medida provisória criada para reduzir a burocracia da liberação de dinheiro para socorrer esses municípios. Seu prazo de validade já foi prorrogado e, se o ritmo do Congresso continuar lento, a norma perderá a validade este ano sem se transformar em lei. Para contar como estão vivendo os brasileiros que viram sonhos, parentes e pertences sumirem nas águas, o Correio visitou três das cidades atingidas. Em todas elas, as reclamações são as mesmas e a solução para os problemas ainda parece distante.

O município de Branquinha, localizado a 65 quilômetros de Maceió, será reconstruído longe da área atingida. No local, montes de terra aguardam as máquinas que irão iniciar a terraplanagem da área. Ao lado do futuro canteiro de obras, 100 famílias ocupam barracas de plástico e dividem o mesmo banheiro. O chão é de cascalho. Ruim de pisar descalço, como a maioria dos moradores caminha por lá. Quando chove, pequenos furos nas barracas alagam o piso. ;O jeito é dormir no molhado mesmo. Os tapetes doados, a gente coloca no chão. Mas eles molham também. É bem difícil a vida por aqui;, conta Daiana Silva, de 37 anos. Ela mora em um dos barracos com dois filhos e o marido.

Cena de Santana do Mundaú no último dia 14, quase três meses após as enchentes: cicatrizes ainda abertas, à espera da prometida ajuda oficial para os atingidosSilvana Santiago reclama que o bebê de seis meses vive gripado por conta da água que entra pelos furos do plástico. ;Disseram que vamos ficar aqui mais um ano. Mas como as barracas vão aguentar? Meu filho está doente e a culpa é disso aqui;, reclama.

Em meio às dificuldades vividas e relatadas todos os dias pelas vítimas, uma faixa na entrada do acampamento de plástico agradece o apoio do governador Teotônio Vilela (PSDB) e do senador Renan Calheiros (PMDB). É um agradecimento antecipado, já que a chegada do dinheiro às obras depende da boa vontade de Vilela ; que está em campanha pela reeleição ; e a articulação de Calheiros junto ao Planalto. ;Os recursos já chegaram aos cofres do estado e estão sendo repassados para nós aos poucos. As coisas vão acontecer. Mas é preciso paciência;, diz a prefeita de Branquinha, Renata Moraes. Nesta segunda-feira, a prefeitura irá assinar um convênio com o Ministério da Educação para a reconstrução das escolas.

Em Santana do Mundaú a situação não é diferente. No entanto, a população se nega a ocupar as barracas de plástico. Alegam que trocar prédios públicos pelo improvisado alojamento poderia acomodar os agentes políticos, que tratariam o improviso como uma solução permanente. ;Vou ficar nessa escola mesmo. Se a gente for para as barracas, as aulas podem voltar e os políticos vão esquecer de nós;, diz dona Josefa de Oliveira, 70 anos.

Os lotes onde a cidade deve ser reconstruída ainda serão comprados. Os vendedores são fazendeiros e políticos da região. Por conta do interesse do governo federal nas terras, o hectare da Fazenda Jussara, de propriedade da família do presidente da Assembleia Legislativa, era avaliado em R$ 8 mil em junho. Agora, está sendo negociado por cerca de R$ 30 mil.

Rio Largo também sofre com a precariedade das acomodações provisórias. As vítimas das enchentes reclamam do calor, da chuva, da comida e da falta de segurança. ;É o caos e estamos tendo de passar por isso sabe Deus até quando;, resume Dorotéia da Silva, 40 anos.

Recursos
Segundo as contas das prefeituras, os cofres do governo estadual devem ter recebido cerca de R$ 275 milhões para reconstruir as cidades, além de R$ 26 milhões para investimentos na saúde. A burocracia na estrutura dos estados é mencionada como a principal causa para a demora no inicio das obras. Os projetos ainda estão em fase de elaboração e os solos onde serão erguidas as novas casas ainda passam por estudos. Uma lentidão que cada vez mais afasta das vítimas das enchentes a perspectiva de ganhar um novo lar.

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