Brasil

Polícia prende 16 jovens de classe média que vendiam drogas em festas

Suspeito de chefiar quadrilha morava em Búzios com direito a carro e lancha

Igor Silveira
postado em 23/09/2010 08:00
Pedro Cerqueira Magdalena, 27 anos, não tinha antecedentes criminais. Ele morava em uma mansão no bairro Alto da Praia Brava, em Búzios, Rio de Janeiro, um dos metros quadrados mais caros do país. Na casa, localizada na beira da praia, ele usufruía do conforto de cômodos amplos e tinha à disposição um carro moderno e uma lancha. Bem articulado e nascido em uma família de classe média alta, porém, o jovem conhecido como Gordo escolheu seguir outro caminho: ontem, saiu algemado da residência, suspeito de chefiar uma quadrilha de tráfico de drogas, de acordo com as investigações da Operação Consórcio, montada pelas polícias Civil e Militar fluminense, além da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública, do Grupo de Atuação Especial ao Crime Organizado (Gaeco) e do Ministério Público estadual. Na ação, foram presas 16 pessoas ; 11 no estado do Rio, quatro em São Paulo, e uma no Espírito Santo.

O momento em que dois dos jovens são flagrados pela polícia: 16 pessoas foram presas, sendo 11 no Rio, quatro em São Paulo e uma no Espírito Santo

Ainda segundo as autoridades envolvidas no caso, Pedro Magdalena começou a traficar depois que percebeu o potencial no negócio com entorpecentes. Antes, comprava as drogas de um traficante da favela de Manguinhos, Zona Norte do Rio de Janeiro. Gordo, então, descobriu quem era o fornecedor do bandido e resolveu negociar direto com a fonte, em São Paulo. Montou um tipo de consórcio com os ;sócios; Leonardo Neves de Almeida, 33 anos; Marcelo Froes Silva, 28; André Fróes Silva, 31; Diego Pereira Ribeiro Krause, 24; e Daniel Navarrete Pimentel, 29. Com a mercadoria de boa qualidade e mais barata, o negócio prosperava em festas, boates e casas de show no estado ; um caso muito parecido com o do hoje produtor musical João Estrella, que ficou conhecido por ter sua história retratada no filme Meu nome não é Johnny (leia memória ao lado).

Foram quatro meses de investigações, que incluíram escutas telefônicas autorizadas judicialmente. Nelas, a polícia soube que a quadrilha vendia cocaína, crack e maconha hidropônica, uma variação da droga com o princípio ativo mais concentrado. De acordo com o subsecretário de Inteligência, Rivaldo Barbosa, os envolvidos vendiam cerca de 200 quilos de droga por mês.

;Dois pontos nessa operação me chamaram a atenção: o fato de os integrantes da quadrilha serem jovens com ótimas oportunidades que resolveram seguir para o crime e a organização do bando. Pedro queria obter, em tese, o lucro fácil e, por isso, afastou dos negócios o mediador de Manguinhos;, explica Barbosa. ;Diferentemente do que estamos acostumados a ver em quadrilhas de traficantes, eles não são violentos e os negócios não eram tratados com armas. É o chamado ;tráfico de pista;. Eram 17 mandados de prisão. Nós cumprimos 13 e outras três pessoas foram presas em flagrante;, completou.

Os presos foram levados para a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco), onde, até o fechamento desta edição, prestavam depoimentos. De lá, seriam levados para a Polinter, na capital fluminense, onde ficarão à disposição da Justiça.

Crise institucional

Alba Zaluar é antropóloga e professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), onde coordena o Núcleo de Pesquisas das Violências (Nupevi). Para ela, a prisão de jovens de classes mais favorecidas é reflexo de uma grave crise institucional enfrentada pelo Brasil atualmente. Segundo Zaluar, a falta de limites e os maus exemplos em todas as esferas contribuem para esse tipo de comportamento.

;Esses jovens das classes média e alta são movidos, também, pela vaidade, pela possibilidade do poder. Sem limites, eles não são apresentados a bons exemplos. Vivemos um escândalo atrás do outro, do Congresso ao Vaticano. Durante muitos anos, fiz pesquisas sobre processos judiciais e percebi que somente o jovem pobre era investigado e preso. A prisão de quadrilhas de classes mais ricas mostra que a polícia e a Justiça estão passando por modificações em um sentido positivo;, ressalta. ;É extremamente importante que jovens assim sejam punidos.;

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