postado em 30/09/2010 08:16
Duas adolescentes conhecem um rapaz pela internet e combinam de se ver pessoalmente. No dia seguinte, perto das 17h, os três se encontram em uma praça da cidade. Mas as meninas percebem que o homem está armado e as obriga a acompanhá-lo até um terreno baldio. Lá, ele abusa sexualmente das duas garotas. As idades delas: 12 e 14 anos. Esse foi um dos dois casos de encontros marcados com desconhecidos seguidos de estupro registrados em apenas uma semana no estado de São Paulo.Não é à toa que as jovens se sentem inseguras em relação à web. Mas com um agravante: estudo da organização não governamental Plan Brasil revelou que, apesar de 60% das adolescentes brasileiras conhecerem os perigos da exposição virtual, metade delas gostaria de encontrar pessoalmente alguém que teriam conhecido on-line. A pesquisa Adolescentes brasileiras em um mundo digital entrevistou 400 jovens de todo o país e constatou que 79% das meninas não se sentem seguras ao acessar a internet.
O levantamento foi realizado pela CPP Brasil e é parte do projeto da ONG Plan sobre o impacto das tecnologias de comunicação e informação na vida de meninas de todo mundo e sobre os riscos a que estão expostas quando em contato com esses instrumentos. Um questionário sobre o uso da internet e do celular foi aplicado em grupos focais de discussão que reuniram 40 meninas de escolas públicas e privadas das cidades de São Paulo e Santo André, e também a cerca de 400 adolescentes de estados diferentes que responderam às perguntas pela internet.
De acordo com o gestor da CPP Brasil, Luiz Rossi, as adolescentes têm ciência da possibilidade de se deparar com pessoas mal-intencionadas no ambiente virtual. ;Várias meninas manifestaram conhecer casos próximos de amigas que tiveram problemas com desconhecidos pela internet, o que funcionou como um alerta para elas;, conta.
A pesquisa constatou que quanto mais conhecimento e consciência as meninas têm sobre os novos recursos, maior o grau de segurança que sentem on-line. ;Elas sabem que as suas fotos podem ser manipuladas ou divulgadas sem autorização, e que, uma vez publicadas, dificilmente são recuperadas.;
Outro problema revelado pela pesquisa é o fato de as famílias de baixa renda ; por terem menos acesso às novas tecnologias ; encontrarem mais dificuldade em instruir as crianças sobre o uso da internet. Os adolescentes que não têm computador em casa recorrem às mais de 100 mil lan houses que existem no país, e os pais não têm como fiscalizar. Para Rossi, nesses casos, a inclusão digital dos adultos e o diálogo com os filhos são fundamentais. ;As meninas relatam que os pais que desconhecem a tecnologia usam a repressão em vez da instrução. Para conhecer os problemas aos quais as meninas estão sujeitas é fundamental ouvi-las primeiro;, explica.
Fotos e vídeos
O caso das duas adolescentes ocorreu no município de Taubaté, a 140km de São Paulo. O estupro foi comprovado em exames clínicos e a polícia civil investiga a ocorrência. Também no estado de São Paulo, uma outra jovem foi vítima do mesmo crime. Em Lorena, uma mulher de 22 anos marcou encontro com o agressor por uma sala de bate-papo. O homem chegou de moto ao local combinado e a obrigou a subir na garupa. Em seguida levou a jovem até um matagal. Segundo a polícia, ela foi amarrada e estuprada. A vítima afirmou à polícia que não tem como identificar o agressor já que ele permaneceu o tempo todo de capacete.
Diretor de Prevenção da ONG SaferNet Brasil, Rodrigo Nejn, alerta para os cuidados que as adolescentes devem ter com o uso da rede e diz que elas são as que mais se expõem aos riscos com envio de fotos e vídeos. ;Quando esse conteúdo chega nas mãos erradas o risco de ocorrer cyberbullying (1) ou chantagens é muito grande;, explica.
No caso de abuso ou ofensa sexual, o especialista recomenda o bloqueio imediato do ofensor e que seja registrada denúncia pelo site www.denuncia.org.br. ;A Polícia Federal recebe essas informações e toma as providências devidas;, afirma Nejn.
1 - Agressividade
Bullying é o termo usado para definir comportamentos agressivos, intencionais e repetitivos, sem uma razão aparente e que ocorrem entre adolescentes e crianças. O cyberbullying é a variação dessa agressão no ambiente digital, e atinge pessoas conhecidas ou desconhecidas.