postado em 30/09/2010 08:05
Atraso, morte, briga e demissão. Em desajuste com o ambiente de recuperação da saúde, os fatos foram presenciados, no início desta semana, na rede pública hospitalar de São José do Rio Preto (SP). O enredo teve início na madrugada da última terça-feira, quando o vendedor Carlos Ferreira da Silva, 51 anos, chegou à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Norte de São José do Rio Preto com fortes dores no peito e formigamentos nas mãos. O paciente foi atendido por um cardiologista na UPA, mas o quadro de saúde evoluiu para uma parada cardíaca e ele não sobreviveu. Uma das consequências foi a demissão, ontem, de um médico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) da cidade. O médico não chegou a atender Carlos Silva, mas se envolveu em uma discussão com o plantonista que havia recebido o paciente. A briga verbal e física entre os médicos aconteceu em frente à unidade de saúde, diante dos familiares do paciente. O médico da UPA também foi afastado.Os afastamentos foram determinados pelo secretário de saúde de Rio Preto, José Victor Maniglia, e pelo prefeito da cidade, Valdomiro Lopes. De acordo com a secretaria, a demissão do servidor do Samu foi por justa causa. Por meio de nota, o órgão afirmou que ;a conduta de agressão a outro profissional é inadmissível a essa gestão;. Segundo familiares, o médico da UPA teria requisitado a transferência do paciente para um hospital após o infarto, por meio de uma ambulância do Samu. No entanto, esta teria demorado uma hora e meia para chegar à unidade. Ao chegar, o plantonista já tentava reanimar o paciente, sem sucesso. A demora na chegada da ambulância teria sido a causa da discussão entre os médicos. A Secretaria de Saúde afirmou que a UPA Norte está ;devidamente equipada com desfibriladores, monitores cardíacos e respirador, entre outros equipamentos;. Assim, a unidade estaria preparada para prestar os primeiros socorros em casos de urgência e emergência, antes da remoção para uma unidade hospitalar.
O cardiologista Hugo de Castro Sabino, do Instituto Estadual de Cardiologia Luiz de Castro, do Rio de Janeiro, explica que o rápido atendimento é fundamental nos casos de infarto. ;O infarto é uma catástrofe cardíaca, e representa sempre um risco de morte. Em nenhuma hipótese, esse paciente pode ficar fora de observação porque o infarto pode tomar vários rumos. O paciente precisa ser atendido com as condições necessárias o quanto antes. Se isso não for possível, é necessário prescrever medicações para aliviar a dor e fazer procedimentos para desobstruir a veia que está causando o infarto;, afirmou. Para o cardiologista, no caso do vendedor Carlos Silva, o erro foi de gestão: ;Ainda não temos informação dos motivos do atraso da ambulância. Mas o erro é de logística, se não fosse possível chegar a tempo de ambulância, o ideal seria disponibilizar um helicóptero. Quanto à briga, o erro é do ser humano, não do médico;, completa.
A Secretaria de Saúde informou que foi instaurada uma apuração do caso pela Coordenação de Auditoria da Secretaria de Saúde, para investigar o ocorrido tanto na UPA Norte quanto no Samu. O vendedor foi enterrado na última terça-feira.