Pedro Ferreira
postado em 09/10/2010 08:00
Belo Horizonte ; O adolescente de 17 anos acusado de envolvimento na morte de Eliza Samudio mudou pela quarta vez sua versão a respeito do crime e negou que tenha presenciado o ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, matar, esquartejar e alimentar seus cães com partes do corpo da moça. Antes, o primo do goleiro Bruno Fernandes de Souza, apontando como mandante, havia dito ter testemunhado a execução, na casa de Bola, em Vespasiano, na Grande Belo Horizonte.
O menor, que já cumpre medida socioeducativa aplicada pelo Juizado da Infância e da Juventude, recuou quanto a informações principais da fase policial do inquérito, alegando ter sido pressionado, na época, pela delegada Ana Maria Santos. Ele, porém, admitiu à juíza Marixa Fabiane Rodrigues, do Tribunal do Júri de Contagem, que, com Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, apontado como braço-direito de Bruno, levou Eliza e o filho recém-nascido dela de um hotel do Rio de Janeiro para o sítio do goleiro, em Esmeraldas. Mas negou que tenham passado antes em um motel na capital mineira, como afirmado anteriormente. Disse, ainda, que no trajeto se desentendeu com Eliza, que queria viajar no banco da frente, onde ele estava, e que a agrediu com uma cotovelada. Ela teria sangrado ;um pouco;. Ele também declarou que não estava armado, contrariando versão anterior de que tenha atingido a vítima a coronhadas.
Eliza, segundo ele, foi atraída a Minas mediante promessa de que Bruno lhe daria um apartamento. O adolescente argumentou que inventou a história envolvendo os cães do ex-policial civil Bola. E disse que o réu não é o mesmo Bola que ele havia conhecido em 2009, numa boate. ;O outro Bola; também seria adestrador de cães. Induzido pelo advogado de defesa do ex-policial, Zanone Manuel de Oliveira, o adolescente pediu desculpas a Marcos Aparecido. O menor alega ter elaborado a versão por conta própria. Zanone adiantou que pediria à Justiça a revogação da prisão de Bola.
A segunda testemunha ouvida foi o delegado da Homicídios, Júlio Wilke. Ele afirmou que o menor foi quem levou sua equipe à casa do ex-policial, o que comprovaria que sabia onde Bola morava, descrevendo o ambiente do crime em detalhes. No entanto, Zanone sustentou que foi a polícia quem guiou o menor à residência de Bola. Já Bruno qualificou o delegado como ;um doido de pedra;.
A audiência foi um momento de descontração entre os nove acusados pelo desaparecimento e morte de Eliza Samudio, todos presos. Eles conversaram e até trocaram sorrisos. Bruno era quem mais se sentia à vontade. Apenas repórteres e parentes dos réus estavam presentes. O goleiro se sentou de lado e colocou os pés cruzados sobre um degrau do plenário. Espreguiçou, sacudia as pernas sistematicamente e olhava atentamente para o público. Ércio Quaresma, seu advogado, disse que vai entrar na Justiça com pedido de prisão domiciliar, na próxima semana, diante do quadro depressivo do goleiro.
O primeiro a chegar ao Fórum foi o menor, às 8h. Em seguida, surgiu um comboio com três viaturas do sistema prisional, a primeira trazendo Wemerson Rodrigues e Bola. Na outra, Flávio e Elenilson. Na terceira, Bruno e Macarrão. Às 8h20, chegaram Dayanne e Fernanda e, por fim, Sérgio. Bola, em determinado momento, teve uma crise de choro. Fernanda passou mal, saiu, retornou, e recebeu água para beber. Além do adolescente e do delegado Júlio Wilke, prestariam depoimento ontem José Roberto Machado e Gilda Maria Alves, ex-caseiros do Bruno, e o policial civil Sirlan Versiani Guimarães, da Delegacia de Homicídios de Contagem, que recebeu a primeira denúncia da morte de Eliza. Na quarta-feira, serão ouvidos os delegados Edson Moreira, Wagner Pinto, Ana Maria Santos e Alessandra Wilke. Na quinta-feira, será a vez de os réus serem interrogados.
O número
36 anos
Pena máxima do goleiro Bruno, caso ele seja condenado como mandante do assassinato de Eliza
36 anos
Pena máxima do goleiro Bruno, caso ele seja condenado como mandante do assassinato de Eliza