postado em 09/10/2010 08:00
O governo russo doou ao Arquivo Nacional cópias de cartas escritas há mais de 70 anos pelo ex-líder comunista Luiz Carlos Prestes, que viveu exilado em Moscou na década de 1930. Os manuscritos pertencem ao Arquivo do Estado Russo de História Política e Social e foram entregues à viúva, Maria Prestes, e ao diretor-geral do Arquivo Nacional, Jaime Antunes, em cerimônia realizada ontem, no Itamaraty.
Entre os textos, há um telegrama escrito em espanhol, com saudações de Prestes aos participantes do Congresso Antiguerra de 1933, em Montevidéu. Em outro, Prestes faz uma descrição da situação no Brasil, com base em notícias de jornais brasileiros. Todos os documentos ficarão disponíveis para consulta pública no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro.
Viúva do ex-militante, Maria do Carmo Prestes autorizou a doação do acervo. Ela conta que já havia cedido ;tudo o que tinha em casa; sobre o marido, como rascunhos e anotações. ;O legado de Prestes pertence ao povo brasileiro;, disse. Ela também cedeu cópias do mesmo material para a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que mantém um acervo particular de Prestes, e para o Instituto Luiz Carlos Prestes, no Rio de Janeiro. A instituição é mantida por Anita Leocádia Prestes, filha do ex-líder com a alemã Olga Benário, que nasceu na prisão na Alemanha, onde Olga foi executada em uma câmara de gás pelo regime nazista.
Um dos dez filhos do ex-líder comunista, Luiz Carlos Prestes Filho acredita que, a partir da análise desses documentos, será possível chegar a novas descobertas. ;A democracia que hoje vivemos no Brasil se deve muito aos 60 anos de luta dele. Meu pai, nos últimos anos, parece que está mais vivo do que quando estava vivo;, observou.
Engenheiro ferroviário e militar, Prestes ficou conhecido pela Coluna Prestes, que, na década de 1920, pregava a reformulação econômica e social do país, a nacionalização de empresas estrangeiras fixadas no Brasil e o aumento salarial dos trabalhadores.
Segundo o filho do ex-líder, o governo comunista da China teria se inspirado em Prestes, conforme lhe relatou o 1; vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Andrey Denisov, que pesquisou a fundo a história do partido comunista chinês. ;Os chineses estudaram os relatórios que meu pai fez para a União Soviética. Foram esses documentos que inspiraram Mao Tse-Tung a realizar a marcha que fez a China chegar a um governo socialista.;
De acordo com o diretor do Arquivo Nacional, outros documentos inéditos sobre Prestes deverão ser enviados pela Rússia. Ele viveu na União Soviética entre 1931 e 1934 para escapar do governo de Getúlio Vargas. No fim dos anos 1960, voltou para Moscou, com a mulher, Maria, e nove filhos. Só retornou ao Brasil em 1979, depois de publicada a Lei da Anistia. Prestes morreu em 1990, aos 92 anos. ;Da Coluna Prestes, iniciada em 1925 no Paraná, até as Diretas Já, Luiz Carlos Prestes esteve presente em todos os grandes momentos da nossa história;, lembrou a embaixadora Vera Lúcia Machado.
"A democracia que hoje vivemos no Brasil se deve muito aos 60 anos de luta dele"
Luiz Carlos Prestes Filho, filho do ex-líder comunista
Luiz Carlos Prestes Filho, filho do ex-líder comunista