Brasil

Há mais casas com apenas uma mulher morando sozinha, revela Ipea

Levantamento do Ipea com base na Pnad aponta as mudanças no modelo de família no Bras

postado em 14/10/2010 08:38
O retrato de família onde se veem os filhos, a mãe e o pai ; este como o chefe do lar ; ainda representa o modelo predominante dos moradores dos lares brasileiros. Mas, apesar de ocupar a maioria das casas do país, o tradicional arranjo está em queda na sociedade: em 1992, ele constituía 62,8% do total dos domicílios e, no ano passado, integrava pouco menos da metade (49,9%). A redução foi compensada por outros modelos, entre eles o número de casas ocupadas apenas por uma mulher ; que teve a maior ascensão do período. No ano passado, 5,2 milhões de mulheres moravam sozinhas, representando 8,9% dos lares do Brasil, contra um percentual de 6,2%, em 1992.

A tendência da reestruturação familiar brasileira foi apontada ontem, pelo Instituto de Pequisa Econômica Aplicada (Ipea), com base nos dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Com o estudo em mãos, o casal formado pela professora Nívea Andrade e pelo funcionário público Rodrigo Nascimento ; ambos com 35 anos ; sinalizou reconhecer essa realidade. Entre os novos arranjos familiares apresentados pelos números e olhares, os dois reafirmaram o compromisso que resultou no casamento e gerou a filha de cinco anos, Isabel Nascimento. ;Nunca me imaginei solteiro, sem filhos. Tenho o desejo de transmitir algo, uma educação, para frente. Se não fosse minha família, a vida de muitas gerações terminaria em mim;, argumenta Rodrigo. Na casa, ele se assume como o chefe de família, mas ;apenas financeiramente e por opção;: ;Isso envolve apenas o período de criação da nossa filha. Mas em breve vamos inverter esses papéis;, diz o marido. Nívea complementa: ;Há valores que nascem e são repassados por meio de uma família estável;.

No entanto, a mulher da família não trabalhar ; e por escolha ; é justamente o oposto do que vem sendo observado com o passar dos anos. A contribuição das mulheres na renda das famílias brasileiras passou de 30,1% para 40,9%, de 1992 a 2009. Quando essas mulheres são cônjuges, a contribuição na renda familiar foi ainda maior no período analisado, saltando de 39,1% para 65,8%. ;A mulher não contribui mais para a renda da família porque ela já é fundamental. Não é mais uma ajuda. Com o estudo, nós vislumbramos a tendência de que a mulher não é mais apenas a cuidadora, mas também a provedora;, afirma a pesquisadora do Ipea Solange Kanso.

A mulher foi evidenciada no estudo como a grande responsável pelas atuais mudanças, assumindo um papel de destaque na formação do lar. De acordo com o Ipea, 4,3 milhões de famílias, com e sem filhos, eram chefiadas por mulheres em 2009. Esse modelo passou de 0,8%, em 1992, para 9,4%, no ano passado. Segundo a pesquisadora, os números são resultado do aumento da participação feminina no mercado de trabalho. A secretária Nacional da Mulher Trabalhadora da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Rosane da Silva, lembra que a inserção da mulher, no entanto, ainda exige mudanças. ;As mulheres se tornaram mais visíveis no mercado porque houve aumento no número de vagas e da formalização, especialmente de empregadas domésticas. Mas elas ainda são consideradas reservas e os salários não são equiparados ao dos homens;, lembra.

De acordo com a Pnad 2009, as mulheres ocupadas naquele ano recebiam, em média, 70,7% do rendimento médio dos homens. Esse percentual ainda era diferenciado em relação ao trabalho formal ou informal, ocasiões em que a remuneração delas chegava a 74,6% e 63,2% da deles, respectivamente.

Foi para sair da informalidade e buscar a autonomia financeira que a assistente administrativa Rosana Célia Lopes Bezerra, 36 anos, saiu do município Barão de Grajaú, no Maranhão, para estudar e trabalhar em Brasília. Rosana mora sozinha por escolha e afirma que essa decisão foi fundamental para os rumos que sua vida tomou. ;O fato de eu morar só contribuiu para a minha evolução. Foi muito difícil em vários momentos, mas me ajudou a crescer. Isso porque fez parte de uma decisão: o mais importante na minha vida era ter condições, me formar e trabalhar;, conta.

Hoje, Rosana tem dois cursos de graduação concluídos (computação e sistemas de informação) e planeja ainda fazer uma especialização em psicopedagogia. ;Eu me sinto independente e conheço muitas pessoas que se sentem sozinhas, mesmo acompanhadas.;
Trabalho doméstico

Apesar da inclusão no mercado de trabalho, a mulher brasileira continua sendo a principal responsável pelo cuidado doméstico, mesmo na condição de ocupada. De acordo com o Ipea, a proporção de mulheres ocupadas que se dedicavam a afazeres domésticos em 2009 foi de 89,9% e a de homens, 49,6%. Em relação ao número médio de horas trabalhadas em afazeres domésticos, as mulheres ocupadas gastavam, em média, 21,8 horas semanais e os homens, 9,5.

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