postado em 20/10/2010 08:31
Mais de quatro milhões de pessoas no país sofrem de uma doença crônica de pele não tão conhecida dos brasileiros, a psoríase. Não se sabe exatamente o que a causa, mas a doença, que provoca lesões em todo corpo, é desencadeada, na maioria das vezes, por desequilíbrio no sistema imunológico ou alterações emocionais. A doença não é contagiosa, mas a falta de informações faz com que os portadores convivam com um problema maior do que o desconforto causado pelas feridas, o preconceito. Para analisar o estigma sofrido por aqueles que sofrem da doença, uma pesquisa realizada pelo Ibope com 600 pessoas de oito capitais brasileiras constatou que a psoríase é motivo de preconceito em mais de 70% dos entrevistados. Durante o estudo foram apresentadas imagens do corpo de pacientes e sentimentos como nojo, tristeza, medo, desespero e preocupação foram as sensações mais relatadas na experiência. Em outra etapa do estudo, os participantes responderam a perguntas sobre relacionamento afetivo e profissional. Mais de metade do grupo afirmou que não contrataria uma pessoa com as lesões na pele apresentadas nas fotografias e cerca de 80% delas não namoraria e nem entraria em uma piscina que tivesse sido usada por uma das pessoas usadas para ilustrar a pesquisa.
De acordo com o especialista em dermatologia da Faculdade de Medicina de Santo Amaro (SP), Artur Duarte, a psoríase é uma doença crônica inflamatória que não tem cura ; apenas tratamento efetivo ; e atinge principalmente a pele, mas em alguns casos se manifesta também nas articulações. ;Há uma predisposição genética associada à psoríase que aumenta as chances de o indivíduo desenvolver as lesões, mas não é possível alguém adquirir a doença por um aperto de mão ou qualquer outro contato;, esclarece. Segundo o especialista, estresse emocional e infecções facilitam o surgimento das placas avermelhadas, principal característica da psoríase. O grau de desenvolvimento da doença varia de pessoa para pessoa, alguns apresentam apenas pequenas lesões discretas nos dedos, outras ficam com as costas, joelhos e cotovelos cobertos de feridas.
Para o tratamento dos efeitos da psoríase, o dermatologista recomenda, além do uso de medicamentos específicos, a fototerapia. ;O sol da manhã contribui para a melhora dos sintomas da doença.; Já o medicamento varia de acordo com a gravidade das lesões. ;Quando há poucas manchas e o paciente se encontra no estágio leve da doença, é possível realizar o tratamento apenas com pomadas de uso tópico;, explica. ;Mas no caso moderado a avançado é necessário também a indicação de quimioterápicos e medicamentos imunobiológicos.;
Para o especialista, terapias como acupuntura podem ajudar a estabilizar o comportamento emocional, o que contribui para amenizar o desenvolvimento dos sintomas. Quanto ao preconceito, Artur Duarte ressalta que a maioria das pessoas se assusta com o aspecto das lesões causando o repúdio. ;O que falta é informação.;
Curtir a vida
Aos 21 anos de idade, a técnica em enfermagem Marlene Moura, hoje com 64, apresentou os primeiros sintomas de psoríase na região próxima ao joelho. ;Não fiquei triste quando recebi o diagnóstico porque não tinha noção do que seria a doença;, lembra. Mas foi aos 23 anos que a psoríase incomodou mais. ;Meus braços, abdômen e coxas ficaram cobertos de manchas vermelhas e coçavam muito. Cheguei a ficar internada no Hospital Universitário de Brasília, onde fiz uma série de exames e tratamentos diferentes com dermatologistas e psicólogos.;
Desde então, Marlene convive bem com a doença. ;Hoje, ela está estabilizada, tenho apenas poucas lesões nas pernas e braço, que trato com pomada;, explica. ;Nunca deixei de curtir minha vida por causa do que os outros pensam. Ia muito à praia e quando as pessoas se espantavam e perguntavam o que era aquilo na minha pele respondia em tom de brincadeira: é praga de mãe.;
Marlene se lembra do preconceito explícito: ;Até no hospital onde eu trabalhava existia desconhecimento sobre a psoríase e por isso ia sempre de calças compridas para evitar problemas. Algumas vezes me mandavam dobrar gases em vez de tratar diretamente com os pacientes;, diz.