postado em 26/10/2010 09:04
Desmatar o Pantanal para abrir áreas de pastagem é lucrativo para os fazendeiros da região. As fazendas que devastam e cultivam o pasto para o gado têm uma rentabilidade 2,25 vezes maior do que as propriedades que desenvolvem a pecuária sem desmatar.Mas o cálculo do valor da biodiversidade ; ou de sua perda ; vai além dos dividendos do agronegócio e vem ganhando espaço na discussão sobre a necessidade de preservação dos biomas brasileiros. Isso porque manter a vegetação em pé tem muito mais valor econômico do que a simples derrubada para o gado ou grãos.
A pesquisa sobre o Pantanal, desenvolvida pelo economista André Steffens para um doutorado na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), comprova que o bioma vale mais em pé do que desmatado para a expansão da pecuária. Cada hectare desmatado representa uma perda de bens e serviços ambientais avaliados em US$ 8,1 mil. O valor é 60 vezes maior do que rende a pecuária.
A formação de pastagens no Pantanal, segundo o estudo do economista André Steffens, já inviabiliza a própria pecuária na região. O desmatamento afetou o regime de águas. O Rio Taquari, por causa do assoreamento do leito, passou a alagar permanentemente uma área de 11 mil quilômetros quadrados de terras de planície.
Serviços ambientais prestados pela biodiversidade, como o fornecimento de água potável às grandes cidades, o equilíbrio do microclima nos centros urbanos e a prospecção de recursos genéticos úteis à indústria de cosméticos, passaram a ser notados com mais frequência, inclusive com a defesa veemente de que esse valor econômico da biodiversidade seja incluído no cálculo das contas nacionais. O preço de uma unidade de conservação, por exemplo, deve ser definido e acrescentado ao Produto Interno Bruto (PIB) do país, como defendem alguns economistas.
Ainda não se sabe o valor global da biodiversidade brasileira: há poucas pesquisas sobre o tema, mas estudos recentes vêm comprovando numericamente que a preservação do que resta de matas nativas pode ser uma decisão econômica inteligente. O Correio fez um levantamento das últimas pesquisas, que mostram quanto custa o desmatamento da Amazônia, quanto vale um parque num centro urbano, o quanto uma unidade de conservação pode ser rentável para a própria arrecadação do país.
Um desses estudos foi apresentado pelo governo brasileiro na 10; Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP-10), em Nagoia, no Japão. A principal discussão na conferência, que prossegue nesta semana, é exatamente sobre o valor econômico da biodiversidade.
Conforme os resultados preliminares da pesquisa do Ministério do Meio Ambiente (MMA), somente o turismo em áreas protegidas rende ao país até US$ 284 milhões (R$ 474 milhões) por ano. São mais R$ 559 milhões em transferências fiscais para municípios de 14 estados brasileiros e R$ 24,5 bilhões referentes ao carbono que as áreas protegidas retêm, uma contribuição importante para minimizar os efeitos das mudanças climáticas.
Bioprospecção
O Brasil tem hoje 1,6 mil unidades federais, estaduais e particulares. Somente as concessões florestais, que permitem a exploração de florestas por empresas particulares, de forma sustentável, podem render R$ 187 milhões por ano, dinheiro equivalente às taxas pagas pelo uso privado. A cadeia de produção, conforme estimativa do MMA, movimentaria R$ 1,9 bilhão em impostos por ano, se forem concedidos os 13 milhões de hectares previstos para os próximos dez anos.
Uma empresa brasileira, a Natura, já explora recursos genéticos de uma reserva da Amazônia desde 2004. A empresa foi a primeira a obter uma autorização do governo para a bioprospecção, em que técnicos da indústria vão a campo para descobrir novas propriedades aromáticas e terapêuticas na biodiversidade amazônica.
;O interesse maior deve ser avaliar a biodiversidade nacional para a prospecção de novos negócios;, explica o economista Aroudo Mota, coordenador de sustentabilidade ambiental do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). ;A Zona Franca, por exemplo, gera empregos e mantém a floresta preservada em mais de 86% no estado do Amazonas.;