Praias belíssimas, avistagem de baleias, gastronomia e artesanato ricos e um cenário que encanta nos primeiros instantes. Em Cumuruxatiba, vila de pescadores localizada no extremo sul da Bahia, é possível usufruir de tudo o que a natureza oferece e ainda sentir aquele gostinho de simplicidade que anda tão em falta neste mundo contemporâneo. Como o local ainda não foi tomado pelas grandes redes hoteleiras, o chique lá é hospedar-se em uma das charmosas pousadas à beira-mar.
Em Cumuru, há ainda outra beleza que deixa a vila mais encantadora: a dos moradores. Conversar com as pessoas nos bares, nas ruas ou em restaurantes será inevitável e bastante enriquecedor. Nas páginas a seguir, você conhece um pouco mais sobre esse lugar que só faz uma única exigência ao turista: sinta a vida passar assim, sem pressa.
Vila Gourmet
Além da natureza, a gastronomia atrai os turistas todos os anos à vila de Cumuruxatiba. Em especial nos primeiros dias de setembro, quando acontece o Cumuru Festival ; que inclui exposição de orquídeas, circuito gastronômico e mostra de artesanato ;, organizado pelos proprietários dos restaurantes e das pousadas.
;Como não é um evento com premiação, chamamos apenas de circuito. Não é uma competição;, explica Ester de Faria, da Pousada É e do Restaurante do Suíço. Para quem não pode estar lá nessa época do ano, uma boa notícia: todos os pratos do evento permanecem nos cardápios e podem ser apreciados nos outros meses. Existem diversas opções, com destaque para a interessante fusão da culinária local com ingredientes e pratos internacionais.
Quem for passar uma semana por lá vai conhecer um vasto menu e pode fazer programas diferentes a cada dia. Na região, os peixes mais comuns são o rubião, o beijupirá e robalo. Mas o visitante também pode degustar um delicioso polvo à base de vinho tinto, lagosta e variedades de camarões. A seguir, você vê um roteiro com lugares bacanas para conhecer durante a estada. (RM)
Pescar histórias
Tudo bem, você já sabe que a vila de Cumuruxatiba tem uma paisagem abençoada. Mas existe uma outra riqueza somente descoberta quando o viajante dá umas voltas. As histórias das pessoas que ali vivem são tão interessantes e ricas quanto as belezas naturais.
Um dos que sabem muito sobre o lugar é Antônio Carlos Barreiro dos Santos, 65 anos, mais conhecido como Mestre Antônio. Ex-pescador, ele conhece cada detalhe de Cumuru. Dedique uma boa parte do seu tempo para ouvir as conversas do senhor cujo porte disfarça a idade. Dono das embarcações Libra 1 e 2, que fazem passeios com os turistas, o mestre foi funcionário de uma mineradora até 1991.
Naquele tempo, depois de 28 anos trabalhando na extração de areia monazítica ; ele ficava na casa de força, que usava materiais radioativos para abastecer as máquinas ;, Antônio Carlos se aposentou. Foi então que ele se dedicou a pescar camarões-rosas que mediam até 20cm. ;Já peguei até tubarão de 5m de comprimento. Isso não é história de pescador;, lembra o homem de sorriso ora melancólico, ora alegre.
Mestre Antônio viu a pesca predatória dar lugar à preservação do mar
Em quase 20 anos, Mestre Antônio assistiu a uma mudança importante na maneira como se explora a região: a pesca predatória deu lugar a regras severas. ;Só quem pode pescar são os moradores, e com algumas restrições;, avisa. Segundo ele, cada barco pode trazer no máximo uma rede cheia. Na época da reprodução das baleias, em setembro, ficam proibidas as idas ao mar.
Pudim
Dona Ana Célia dos Santos Palladino, 62 anos, irmã do Mestre Antônio, também tem uma historia bem diferente da maioria dos nativos de Cumuruxatiba. No inicio dos anos 1980, arrumou as coisas e debandou para o Rio de Janeiro. Não sabia nada sobre a vida na Cidade Maravilhosa e tinha apenas uma conhecida que morava lá. Com o endereço em mãos, chegou até a casa da mulher.
O primeiro emprego foi numa clínica, como babá. Depois, fez o mesmo trabalho nas casas do jornalista e apresentador de reality shows Pedro Bial e, em seguida, da cantora Baby Consuelo. Ela conheceu as três filhas mais velhas da artista, Sarah Sheeva, Nana Shara e Zabelê, quando estudava no Colégio Sagrado Coração de Maria ; onde fez até a oitava série do antigo primeiro grau. ;Fiquei 20 anos no Rio de Janeiro. Cansei-me e quis voltar;, lembra.
Em Cumuruxatiba, Ana Célia abriu na própria residência uma venda de pudins de vários sabores, chamada Uh! Tererê. Há desde o tradicional até o pudim de café. Todos custam R$ 4, em média. (RM)
ONDE FICAR
Em Cumuruxatiba há várias opções de hospedagem. Mas aqueles que preferirem ficar afastados da vila podem escolher entre várias pousadas localizadas a poucos metros do centro. Algumas têm quartos com vista para o mar. Caso da Pousada É, com charmosos apartamentos à beira-mar. Os proprietários são o suíço Hans Fritsch e a mineira Ester de Faria. O simpático casal chegou à região há quase 10 anos e costuma tratar os hóspedes como se fossem da família. Hans, que possui uma coleção de uísque com cerca de 150 rótulos, está tão acostumado ao sossego de Cumuruxatiba que estranha toda vez que viaja à Suíça para rever os familiares. ;Meu filho, que vive na França, vem todo verão nos visitar. Ele também adora este lugar;, conta.
Pousada Axé
Avenida Beira Mar, s/n;; (73) 3573-1030
www.pousadaaxe.com.br
Pousada Clara
Rua Rui Barbosa, s/n;; (73) 3573-1112
www.pousadaclara.com.br
Pousada Cumuruxatiba
Rua 15 de Novembro, s/n;; 73) 3573-1099
www.pousadacumuruxatiba.com.br
Pousada É
Alameda Roberto Pompeu, s/n;, Praia Rio do Peixe; (73) 3573-1007
www.pousadae.com
Pousada Rio do Peixe
Alameda Roberto Pompeu, 26, Praia do Rio do Peixe; (73) 3573-1213
www.pousadariodopeixe.com.br
Pousada Vereda Tropical
Rua Antônio Climério dos Santos, 72; (73) 3573-1070
www.pousadaveredatropical.com.br
Pousada Zen
Praia do Rio do Peixe, s/n;; 73) 3573-1303
www.cumuru.com.br
Beleza singular
A arte pulsa, e muito, em Cumuruxatiba. E as artesãs Eliana Begara e Renata Homem talvez sejam as grandes responsáveis por essa atividade intensa. De formas, técnicas e estilos diferentes, as artistas mostram em comum o fato de terem abandonado a vida nas cidades grandes e encontrado no lugar o ambiente perfeito para a criação.
Renata, há 11 anos vivendo na vila, percebeu uma mudança natural nas obras produzidas por lá. ;Antigamente, usava tons mais pastéis. Aqui eu colori meu trabalho. São peças mais alegres. Não tenho dúvida de que o lugar influenciou o meu trabalho;, reflete. No ateliê, existem trabalhos em cerâmica e madeira, alem de telas. Mandalas de vários tamanhos enfeitam o ambiente ao lado de incensários, brincos, colares. Tudo feito com cores que ela mesma pesquisa. ;Meu trabalho é como a MPB: tem referências variadas, algo do barroco, do grego e do artesanato peruano;, define a mineira de Belo Horizonte.
Casada com o médico Francisco Begara, que passou em concurso público e está na região há dois anos, Eliana mantêm seu ateliê em casa. Arquiteta de formação, utiliza várias técnicas para produzir as obras. São quadros, luminárias, esculturas, chaveiros, xícaras e pratos feitos com vidros triturados, que dão uma beleza singular às obras. Ela ainda faz demonstrações de haku, técnica japonesa de queima de cerâmica. Do forno, cuja temperatura chega a mil graus, saiu um belíssimo jarro com várias cores.
André Pessoa/Cumuru Magical Tour/Divulgação
No vilarejo e nas pousadas, até as lixeiras têm toque artesanal
O doutor Begara é o único medico de Cumuru. Faz questão de atender cada paciente no posto, e não em casa. ;Ser médico foi apenas uma consequência, eu vim morar aqui;, conta. ;Conheci Cumuruxatiba há 20 anos, sempre gostei deste lugar. Antes, não sabia o que era liberdade. Descobri isso aqui;, afirma.
ATELIÊS
Eliana Begara
Rua 15 de Novembro, s/n;;
(73) 3573-1076
www.elianabegara.com.br
Renata Homem
Rua Santo Antônio, s/n; (73) 3573-1224
www.renatahomem.com.br