Glória Tupinambás
postado em 24/11/2010 08:46
Madrugada de medo, morte e destruição. Atingida pela primeira grande tempestade do período chuvoso, Belo Horizonte mostrou, ontem, que não está preparada para suportar a violência das águas que castigou especialmente as regiões da Pampulha, Norte e Nordeste. Em apenas 10 horas ; das 22h de segunda-feira às 8h de ontem ;, avenidas se transformaram em rios, córregos transbordaram, uma pessoa morreu levada pela correnteza, casas foram soterradas e o número de desalojados chegou a 500. Informações divulgadas ontem indicam que, além de obras preventivas, faltou advertir a população. A prefeitura da capital e demais braços do poder público responsáveis por prevenção e alerta confirmaram que sabiam com 12 horas de antecedência do risco de um temporal atingir a cidade na madrugada, mas preferiram não emitir alarmes, sob o argumento de impedir o pânico entre os cidadãos.Em reunião na Cidade Administrativa, o Corpo de Bombeiros e a prefeitura confirmaram ter recebido, na manhã de segunda-feira, alerta meteorológico com a previsão de uma tempestade de até 80 milímetros sobre a capital, o equivalente a um terço do volume de chuvas esperado para todo o mês em BH. Se o volume já era significativo, a fúria da natureza cuidou de agravá-lo. Só na Região da Pampulha, a mais castigada, choveu 147 milímetros, em apenas 10 horas. ;Não queríamos criar na população um temor, mas a chuva superou a previsão inicial, de 80 milímetros;, afirmou o secretário da Regional Pampulha, Osmando Pereira.
Surpreendida, a prefeitura não foi capaz de apresentar, até o início da noite de ontem, um plano emergencial de obras para evitar ou amenizar episódios semelhantes. Em vez disso, o poder público lançou um apelo ao cidadão, pedindo que a população abandone casas ameaçadas, não construa em áreas de risco e não jogue lixo e entulho nos cursos d;água. ;Serão vários bilhões de reais e não é um problema que será resolvido num mandato de prefeitura. Pessoas continuam invadindo laterais de córregos, por isso é preciso ajudar a conscientizá-las a não jogar resíduos, o que ocorre com muita frequência;, disse o prefeito da capital, Marcio Lacerda (PSB).
Conforme o Estado de Minas antecipou em agosto, inundações e suas consequências estão fadadas a se repetir nesta estação chuvosa, já que a Grande BH perdeu mais uma chance de se preparar para as chuvas, ao deixar passar em branco período da seca. Intervenções essenciais, prometidas à população por municípios e pelo estado na forma de um pacotão de medidas para resolver ou minimizar os problemas, nem sequer estão no papel. É o caso das bacias de detenção de cheia, conhecidas como "piscinões", no Córrego Ferrugem, afluente do Arrudas em Contagem, fundamentais para evitar transtornos na Avenida Tereza Cristina, na Região Oeste de BH. Na capital, das 11 obras previstas, apenas quatro estão prontas e, dessas, duas apenas parcialmente concluídas.
Correnteza A falta de alerta e de providências práticas, somada a um temporal de proporções inesperadas, espalhou um cenário de horror pela cidade. A Defesa Civil Municipal registrou mais de 160 ocorrências ontem. Na Avenida Cristiano Machado, altura do Bairro Dona Clara, na Região da Pampulha, a água invadiu mais de um quilômetro e meio da pista até a entrada do Bairro Primeiro de Maio. A força da enxurrada arrastou até ônibus, e pessoas chegaram a ser resgatadas por barcos e helicóptero. Congestionamentos quilométricos pararam o trânsito na região e as estações Venda Nova e Vilarinho. À noite, o caos no tráfego da avenida foi resultado de protestos de moradores das áreas afetadas. Eles colocaram fogo no que restou de seus móveis e fecharam as pistas nos dois sentidos.
Na Vila Fazendinha, no Bairro Ouro Minas, na Região Nordeste, um homem morreu afogado depois de alertar moradores de 21 casas vizinhas. No Bairro Ouro Preto, na Pampulha, três pessoas da mesma família, entre elas uma menina de 8 anos, foram salvas dos escombros de uma casa.
Os alagamentos nas regiões Pampulha, Norte e Nordeste decorreram do aumento da vazão no vertedouro da Lagoa da Pampulha. O efeito pior foi registrado na Avenida Cristiano Machado, onde há uma galeria subterrânea na qual se encontram os ribeirões da Pampulha e Cachoeirinha, formando o Córrego do Onça. A chuva também provocou estragos nas rodovias de Minas. A BR-381 está interditada no trevo de Ravena, distrito de Sabará, na Grande BH.
PREVISÃO O tempo deve permanecer instável e com chuvas fortes, em Belo Horizonte e na região metropolitana, até sexta-feira. A previsão é do Centro de Climatologia TempoClima da PUC Minas, que atribui as tempestades de ontem a uma frente fria que chegou na segunda-feira ao litoral de São Paulo, avançando sobre Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. A Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) também emitiu alerta de fortes pancadas de chuva para hoje, nas regiões do Rio Doce, Leste e Vale do Aço.
O alerta da vez
Sob risco de tempestade
Vale do Rio DOCE
Leste de Minas
Vale do Aço