Brasil

RJ: Para especialistas, ação contra o crime precisa ser veloz

postado em 26/11/2010 08:40
Com o transporte público parado, escolas fechadas e moradores orientados a não sair de suas casas, o Rio vive também uma crise ideológica. Nos últimos dias reações de enfrentamento à polícia, à ordem pública e aos moradores em diversos pontos da cidade dividem opiniões. Especialistas em segurança pública defendem que os episódios são uma resposta desses grupos ao avanço da polícia, por meio das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Mas a sociedade não sabe até que ponto as autoridades têm real controle sobre a cidade e até quando a situação de conflito vai durar, explicam os experts em segurança.

Ex-chefe do Comando de Operações Táticas da Polícia Federal (COT), Daniel Sampaio afirma que quanto mais rápida for a atuação da polícia nas zonas críticas, menor será a chance de ocorrência de novas ações criminosas. Para o especialista, a transferência dos oito traficantes ; suspeitos de organizar e comandar as ações criminosas que tiveram início no último domingo ; foi fundamental, já que sem as orientações, as facções perdem força. Mas não é possível prever até onde foram estipuladas as orientações desses líderes, e segundo o especialista, essa informação tem grande peso nos acontecimentos dos próximos dias. ;As ações foram orquestradas por esses presos, mas não se sabe até onde seguiram as orientações. As instruções são passadas por etapas, mas não são tão completas para não colocar em risco as próprias lideranças;, explica. De acordo com Sampaio, a polícia deve ser ágil e este momento é determinante. ;Tem que assumir o controle e não dar oportunidade para o surgimento de novos líderes;, diz.

Ainda segundo Sampaio, a possibilidade de líderes do crime organizado conseguirem permanecer como comandantes mesmo presos demonstra uma das grandes fragilidades do sistema penal. ;Mesmo em prisões federais e com o isolamento inicial de seis meses, essas pessoas não ficam totalmente sem contato com o mundo externo;, lamenta. Os detentos têm direito a algumas horas semanais com advogados de defesa, que muitas vezes auxiliam a troca de informações entre criminosos. ;É comum que os advogados se envolvam nos crimes e sirvam de intermediários no repasse de instruções a subordinados de traficantes;, explica.

Para a coordenadora do Núcleo de Pesquisas das Violências da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Alba Zaluar, uma solução real para os problemas de violência no Rio de Janeiro é extremamente complexa e, além de um planejamento estratégico e agilidade da polícia, tem que se pensar em ações de prevenção e repressão. (CK)

Depoimento
;A gente sai de casa, mas não sabe se vai retornar. Está tudo parado, tudo fechado. Os bandidos estão indo para Inhaúma, para a Fazendinha... Os ônibus não estão saindo das garagens e os que estão saindo desviam para não passar por aqui. Os bandidos atearam fogo a uma kombi na Itacaré e lá também interrompeu o trânsito. Fechou tudo. Algumas pessoas tentam ir de trem, de metrô para chegar ao trabalho. Três bandidos passaram de moto e mandaram fechar tudo. Não tem nada aberto. Se precisar de alguma coisa, mantimento, não tem como comprar. Os meus filhos não estão indo para a escola. Os policiais estão muito apreensivos, pensando que todo mundo é bandido. Muita gente que trabalha comigo não apareceu porque mora em área de risco e ficou com medo de deixar a família em casa.;

Rogéria Vilela, 34 anos, técnica em edificações, moradora do Complexo do Alemão

Twitter dominado

Entre os 10 temas internacionais mais comentados na rede social Twitter, ontem, três se referiam à megaoperação contra o tráfico no Rio de Janeiro. Já entre os internautas brasileiros, de 10 assuntos comentados, oito estavam relacionados com a onda de violência no estado.

O termo ;Bope; foi o mais utilizado no Twitter no Brasil, seguido de ;Rio; e ;Vila Cruzeiro;. No ranking mundial, ele se manteve em quarto lugar, seguido por ;Vila Cruzeiro; e ;Penha;. Os comentários no Twitter ficaram mais frequentes depois que a polícia conseguiu invadir a Vila Cruzeiro.

A média de tuitadas a respeito da ação da policia no Rio vária de 30 a 50 mensagens por tema, a cada 20 segundos. E os tópicos devem continuar entre os mais comentados no microblog já que a ação policial na capital fluminense continua hoje.

As mais comentadas
@Bope
@Rio
@Vila Cruzeiro
@Penha

Análise da notícia
Na tevê, guerra supera o cinema
Carlos Marcelo

;Ao morador da Vila Cruzeiro que está nos assistindo agora, a minha recomendação é o seguinte: não saia de casa nem fique perto da janela. Deite no seu quarto, tenha calma. Espere a guerra passar.; No início da tarde de ontem Rodrigo Pimentel, ex-oficial do Bope e inspiração maior para a criação do Capitão Nascimento de Tropa de Elite, foi entronizado para todo o Brasil no posto de comentarista de guerra. Da nossa guerra.

Sem esconder a euforia com a invasão, Pimentel comentou na Rede Globo as imagens mais impressionantes do dia: a debandada dos traficantes morro acima, rumo ao Complexo do Alemão, após a entrada das forças especiais da polícia. ;Isso é uma coisa que a gente nunca conseguiu;, destacou. Antes do êxodo da bandidagem, porém, as cenas captadas do helicóptero da emissora pareciam retiradas de Cidade de Deus. Jovens armados e com mochilas nas costas descendo e subindo as vielas, como a turma do Zé Pequeno do filme de Fernando Meirelles. Com uma diferença: na tevê, nada era de mentirinha. ;A realidade dessa vez superou a ficção;, destacou Pimentel, inteiramente à vontade como o protagonista de Tropa de elite 3.

Mesmo sem a prisão dos fujões nem garantias de que a situação foi efetivamente controlada, o entusiasmo das autoridades contaminou a cobertura televisiva e chegou ao Jornal Nacional. Lá estava novamente Pimentel, anunciado como consultor de segurança da emissora, no fim do dia em que ele teve maior exposição que Wagner Moura. E sem José Padilha na direção das cenas.

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