Brasil

Exército cerca favelas do Alemão para evitar a fuga de traficantes

População relata preocupação com a violência

postado em 27/11/2010 08:00
Rio ; Cerca de 800 militares da tropa de elite do Exército começaram a ocupar, ontem, todos os acessos ao Complexo do Alemão, para impedir que criminosos, foragidos da Vila Cruzeiro, na Penha, escapem. As autoridades acreditam que pelo menos 500 traficantes estão no local. Entre eles, Fabiano Atanásio da Silva, o FB, que seria o líder do Comando Vermelho. A Força vai dar retaguarda para uma provável invasão das polícias Militar, Civil e Federal. Três helicópteros da Aeronáutica estão dando apoio aéreo às próximas operações, inclusive transportando atiradores de precisão. Na chegada do Exército houve intenso tiroteio, deixando seis pessoas feridas. O deslocamento dos militares começou à tarde, pouco depois de uma reunião entre o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e o ministro da Defesa, Nelson Jobim. A PF anunciou, também, o envio de mais 120 agentes especializados em situação de crise para atuarem em conjunto com o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM.

As primeiras declarações de Jobim depois do encontro com Cabral foi justamente a disposição da União em fortalecer as ações do governo do estado. ;Esse não é o momento de contornar riscos e sim de enfrentar riscos;, disse o ministro. Ele explicou que o Exército vai ficar no perímetro de atuação das polícias para evitar que os criminosos deixem o Complexo do Alemão ou que reforcem suas fileiras com a chegada de bandidos de outras áreas. Jobim também evitou polêmicas em relação ao comando das ações. ;Há áreas muito definidas de função. Então não tem que entrar em discussões sobre comando das operações;, acrescentou. Cabral considerou a ação a união do ;Estado democrático de direito;. ;O que está em jogo é uma política de segurança pública fundamentada, articulada e que permitirá a nossa população a paz e a tranquilidade tão esperadas;, ressaltou o governador.

O efetivo, que pertence à Brigada de Paraquedistas ; quase 60% esteveram recentemente no Haiti ;, iniciou a ação fechando 44 pontos de entrada para o Complexo do Alemão. Os grupos chegaram em cinco carros de combate pelo bairro de Inhaúma e pelo Morro da Fé. Ao passarem por algumas regiões próximas, o comboio foi aplaudido, mas ao se aproximar do complexo, criminosos começaram a atirar. Apesar de apenas dar retaguarda aos policiais, os militares também revidaram. ;Estamos indo para a área de conflito. Se formos atacados, não há como não responder. Se tiver que haver confronto, infelizmente, vamos partir para isso;, ressaltou o comandante militar do Sudeste, general Adriano Pereira Júnior. No tiroteio, um casal de idosos ficou ferido, sendo que a mulher, atingida no abdômen, teve de ser internada. Uma criança de três anos, um militar e um homem também foram baleadas, mas de raspão. O fotógrafo Paulo Whitaker, da Agência Reuters, foi ferido no ombro.

Combate paralelo
Ontem, o diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, anunciou o envio de mais 120 agentes para se juntarem aos 300 que estão atuando ao lado do Bope na Vila Cruzeiro. O grupo é especializado em operações de risco e têm o mesmo treinamento dos policiais do Comando de Operações Táticas (COT). O aumento no número de homens da PF na capital fluminense pode ser para uma provável invasão do Complexo do Alemão, onde os criminosos se refugiaram na quinta-feira. ;O pessoal que está seguindo agora é especialista na linha de frente e pode liberar outros policiais militares para atuar no combate aos delitos que estão acontecendo paralelamente;, explicou Corrêa.

Embora exista uma espécie de campanha para que a população dê apoio à ação policial, os moradores estão, de fato, assustados. Padarias, bares e lanchonetes nas vias que dão acesso ao Complexo do Alemão, ontem à tarde ocupadas por tanques e fuzileiros navais, faturaram alto. Aglomerações se formaram nesses locais, já que os tiros se intensificaram ao cair da tarde. Dentro do Rejane;s Bar, na Rua Paranhos, que fica no pé do conjunto de favelas, uma senhora, com um copo de cerveja na mão, lamentava. ;Isso é um desrespeito com a comunidade, como é que a gente pode viver assim?;

Paulo Galvão, 22 anos, militar da Aeronáutica, não vê a hora de sair do Complexo do Alemão. Morador do local desde os 18, ele fica dividido em relação à atuação da polícia. ;Eu não gosto de bandido, tenho raiva deles, quero mais é que sumam. Mas os policiais também são complicados. Eu já vivi situações na minha casa, coisa do cara entrar, abrir a geladeira, pegar comida, enxugar o rosto com a sua toalha. É revoltante;, desabafou.

Enquanto espera o tiroteio cessar, Paulo tenta explicar onde mora. ;Vê aquela laje vermelha? Então. É do outro lado;, aponta. O cenário é claustrofóbico e aumenta a sensação de insegurança. Olhando para cima, vê-se apenas um monte de pequenas casas e janelas. O tiro pode vir de qualquer lugar.

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