postado em 28/11/2010 07:39
Há sete anos, quando chegou ao Rio, o gaúcho José Mariano Beltrame não sabia que teria a mais difícil tarefa da carreira: a de enfrentar, como nenhum outro secretário de Segurança, a criminalidade carioca. Desde que ingressou na Polícia Federal em 1981, ele foi destacado para várias missões pelo interior do país, além das que desenvolvia em Santa Maria, onde nasceu, criou-se, formou-se e trabalhou como agente. Considerado calmo pelos colegas, Beltrame só sai da linha quando há interferência política no setor em que atua. Para colegas da corporação, ele garante que isso nunca ocorreu no governo fluminense, para o qual foi por indicação de colegas da corporação.Especialista em narcotráfico
Na Polícia Federal, o então delegado Mariano ; seu nome de guerra ; começou a conhecer a criminalidade do Rio na Missão Suporte, um setor de inteligência criado pela direção da corporação para fazer investigações independentes das realizadas pela superintendência no estado. Quase todas voltadas para o combate ao narcotráfico, área em que se especializou ainda em Santa Maria. De lá, era destacado para missões em outras regiões, principalmente no Norte do país. Em Porto Alegre, para onde foi removido ainda como agente, ajudou a desenvolver um sofisticado sistema de escutas telefônicas, conhecido atualmente como ;Guardião;.
Referência na corporação
;Ele foi de um grupo de policiais que era tido como referência na corporação;, conta o colega de turma na Academia Nacional de Polícia (ANP), Luiz Fernando Corrêa, hoje diretor-geral da PF. ;Ele tem um perfil acima da média;, acrescenta Corrêa, que também atuou com o secretário em vários locais, sempre na área de inteligência. E foi com o dirigente da Polícia Federal que Beltrame chegou à Missão Suporte ainda como agente, em 2003, quando começou a conhecer mais a fundo o que hoje combate: o crime organizado. À época, ele foi o chefe operacional da base da PF e, ao sair, foi da Polícia Criminal Internacional (Interpol) e chefe da área de inteligência da Superintendência da PF no Rio.
Homens de confiança
O convite para assumir a secretaria surgiu de uma conversa entre o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A tarefa de escolher um nome foi dada a Corrêa ; que já havia deixado a missão para se tornar secretário Nacional de Segurança Pública. Ele não titubeou e indicou Beltrame, que impôs uma condição: formar a própria equipe. A proposta foi aceita por Cabral e o novo secretário levou os delegados federais Roberto Sá e Edval Novaes, especialistas em inteligência policial e hoje dois principais homens de confiança.
Gaúcho típico
Torcedor do Internacional, admirador de churrasco e chimarrão, Beltrame, 53 anos, tem reclamado aos colegas que não pode fazer aquilo de que mais gosta: praticar corrida. Acorda cedo e dorme tarde em função do trabalho na Secretaria de Segurança Pública, onde chegou e colocou em prática a base de informação que tinha ainda dos tempos da Missão Suporte da PF. Era o mapeamento de toda a criminalidade, que, depois, foi repassado para outras autoridades.
Policial querido
Caseiro, sem nenhuma extravagância, ele vai pouco a locais públicos ; principalmente depois de se tornar secretário ;, e prefere ficar com a família e conversar com amigos. Considerado um policial querido na corporação e um líder nas áreas em que atua, seus colegas afirmam que também é um agregador por natureza.
Momentos fundamentais
Como secretário, José Mariano Beltrame teve dois momentos marcantes na pasta, mas em situações diferentes. A primeira foi em 2006, quando enfrentou ataques de criminosos a cabines da polícia e ações semelhantes ao que aconteceu na semana passada. Dois anos depois, comandou a segurança dos Jogos Panamericanos, quando não foi registrado qualquer momento de tensão. Na época, teve ajuda da Polícia Federal, que enviou reforço e dinheiro. Mas para amigos, ele confessa que o momento atual é bem mais grave, mas que não teme em enfrentá-lo.
Bem-sucedido
Na Polícia Federal, Beltrame ainda não alcançou o auge da carreira, que é a de delegado especial, uma exigência para se tornar diretor-geral da corporação, cargo para o qual seu nome chegou a ser cogitado. Mas seus colegas admitem que, com o trabalho desenvolvido nos últimos dias no Rio, quando colocou o policiamento para enfrentar os criminosos, dificilmente deixará a secretaria que ocupa. Não apenas por ter se tornado um dos homens de confiança de Cabral, mas também por ser uma ponte entre o estado a União.