postado em 28/11/2010 07:50
As imagens de guerra protagonizadas no Rio de Janeiro ao longo da última semana invadiram os jornais e provocaram perplexidade não apenas nos cariocas, mas em todo o Brasil. Uma das cenas mais emblemáticas, reprisada inúmeras vezes, corresponde à fuga de bandidos da Vila Cruzeiro, na Penha ; subúrbio carioca ;, para o Complexo do Alemão. A fuga foi feita pela Serra da Misericórdia enquanto uma equipe do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) ocupava o morro.Os tanques de guerra, que o imaginário popular brasileiro costuma associar a histórias de ficção, desta vez se tornaram o símbolo de ocupação do estado. Há mais de dois anos, em 21 de abril de 2008, uma equipe do Bope pendurava uma bandeira preta, com o símbolo da caveira, na parte mais alta da mesma Vila Cruzeiro. A bandeira foi erguida depois de uma semana de ocupação da favela e depois que os mesmos bandidos ; ou pessoas que ocupam papéis semelhantes no tráfico ; fugiam para morros vizinhos, entre eles o Complexo do Alemão.
O questionamento é óbvio: o roteiro que envolve a guerra ao tráfico, a fuga de traficantes e a ocupação da polícia já foi visto antes? Ou melhor, os bandidos vão voltar e há o risco de vermos esse mesmo ;filme; nos próximos anos? O Correio buscou a opinião de um expert no assunto, o sociólogo e especialista em segurança pública Arthur Trindade, que revelou uma postura otimista diante do atual confronto.
;Há duas grandes diferenças na atual ocupação. Uma é que há uma efetiva possibilidade de permanência da polícia por meio da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Se isso vai acontecer, ou se vai ser bem-sucedido, é outra história. Mas hoje há, de fato, uma estratégia de permanência. A segunda novidade é a forma de atuação na cooperação entre forças armadas e policiais. Hoje, é diferente do que já aconteceu antes. A coordenação das operações é conjunta. No passado, ocorreram duas situações: o comando e a atuação ficavam a cargo das Forças Armadas, ou o comando ficava com as polícias e a atuação, com as Forças Armadas.;
Mas o especialista reforça que ;o desafio é o amanhã;: ;A grande diferença é que, entre os episódios desta semana e o da bandeira, foi colocada uma UPP. Agora, resta-nos saber se essas unidades vão consolidar a presença da polícia nesses lugares;. Para Trindade, no entanto, não se pode ter a ilusão de que os bandidos vão simplesmente desaparecer a partir da instalação das unidades. ;A ideia central da UPP não é prender os criminosos a curto prazo. É estar presente para que, no médio prazo, a comunidade não esteja mais sujeita a esses grupos, para que os bandidos não a usem como escudo de defesa. Mas os grupos não desaparecem. Eles só vão desaparecer no dia em que o Estado conseguir impedir os enfrentamentos e as guerras entre as facções;, opina.