Brasil

Jovens do Complexo do Alemão usam Twitter para relatar invasão

postado em 29/11/2010 08:19
A guerra no Rio de Janeiro foi relatada em tempo real, no fim de semana, por um grupo de internautas de um jornal comunitário do Complexo do Alemão que postava mensagens na rede de microblogs Twitter. Todos eles estavam escondidos em casas da região dominada ontem pela polícia e pelo Exército, que prenderam bandidos que comandavam o tráfico local. Os tiroteios eram relatados no momento dos confrontos. ;A bala está comendo agora;, escreveu Renê Silva. ;Atiradores de elite estão indo em direção ao Complexo do Alemão agora!”, destacou o perfil da publicação em outro post.

Cada passo dado por policiais ou por traficantes tem sido relatado na página do jornal Voz da Comunidade, mantido por menores, que têm entre 10 e 17 anos. O mais velho deles, Renê Silva, é o principal responsável pelas atualizações sobre a situação na área de conflito. Em menos de 24 horas, a página do jornal no Twitter saltou de 180 seguidores para mais de 15 mil, e passou o dia de domingo no Trendind Topics Brasil do Twitter ; espaço em que são mostrados os assuntos mais comentados daquele momento na rede social.

Em entrevista à TV Record, Renê relatou que passa o tempo todo dentro de casa, em segurança. Ele mora no Morro do Adeus, no Complexo do Alemão, e atualiza as informações com o amigo Igor ; cujo sobrenome não foi divulgado ; e com a ajuda de crianças que vivem na comunidade. ;O que mais me impressionou até agora foi a população pedindo paz;, relatou Renê.

Moradores do Rio, jornalistas e personalidades têm se comunicado com os meninos do Voz da Comunidade. Alguns até mostraram preocupação com a segurança dos adolescentes e os orientam a não revelar o local onde estão. ;Não deem detalhes da localização de vocês! Todo cuidado é pouco!”, escreveu a autora de novelas Glória Peres. Em outro posto, ela retuitou um alerta dado por outro internauta. ;Lembrem que se localiza Twitter por GPS. É sempre bom manter o mecanismo de localização desligado. Todos!”

Na manhã de ontem, antes de o Estado dominar as principais áreas comandadas pelo tráfico no Complexo do Alemão, os meninos relataram os momentos de tensão. ;Os tiros não param;, escreveram. ;São muitos disparos, jornalistas de todas emissoras correm por toda rua procurando abrigo! Se cuide;, acrescentaram.

Ironia e especulações
Frases irônicas e especulações sobre o confronto entre o Estado e os traficantes também tomaram conta do Twitter. Um internauta revelou ainda no fim da tarde de sábado que seria improvável uma invasão da polícia ao morro ainda naquele dia. ;É mto (sic) difícil ocorrer uma invasão ao complexo do Alemão hj (sic). As táticas de ação não recomendam invasão no início da noite;, escreveu.

Outro internauta usou da ironia ao comparar o episódio do Rio de Janeiro com o caso do goleiro Bruno, acusado de envolvimento com o desaparecimento e suposta morte da modelo Eliza Samudio. ;Se eu fosse do Bope, pegava os cachorros do Bruno goleiro e soltava lá no Alemão;, destacou Ricardo Monteiro. Já Amarildo Alencar citou uma frase, atribuindo-a a um capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope). ;Eu creio que a tarefa de perdoar os traficantes cabe a Deus, a nós cabe apenas promover o encontro entre eles.;

Enquanto isso, em Ipanema...

O conflito na Zona Norte da cidade, com a ocupação do Morro do Alemão, não atrapalhou o domingo de sol e tempo relativamente bom na Zona Sul do Rio de Janeiro. Nem a troca de tiros no Alemão, do outro lado da cidade, nem os momentos nublados por algumas horas impediram que os cariocas aproveitassem a orla nas praias mais tradicionais e elitizadas ; Copacabana, Ipanema e Leblon. Moradores da Zona Sul e turistas aproveitaram o dia de tempo bom para caminhar na orla, andar de bicicleta e praticar esportes na areia. O assunto era um só ; a entrada da polícia no complexo do Alemão ;, mas a prática era a mesma de domingos habituais na Zona Sul do Rio.


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