Brasil

Dados da PM e PC sobre a quantidade e óbitos no conflitos não batem

postado em 03/12/2010 08:33
Responsável por uma das polícias mais letais do Brasil, o governo do Rio de Janeiro diverge sobre a relação de mortos na megaoperação no complexo de favelas do Alemão e na Penha. Segundo a Polícia Militar (PM-RJ), foram 37 óbitos no combate. Já a Polícia Civil contabiliza apenas 17 mortos. A Defensoria Pública e o Ministério Público do estado não receberam da Secretaria de Segurança Pública do Rio a relação com os nomes dos mortos. O Ministério da Justiça também não foi informado.

Ação policial no Complexo do Alemão: números tão distintos mostram que as duas corporações estão em guerras completamente diferentesUm relatório produzido pelo próprio governo fluminense revela que até setembro deste ano 626 pessoas morreram em confrontos com a polícia, registrados nos chamados ;autos de resistência;. Nesse mesmo período, 15 policiais foram mortos em serviço: 10 são PMs e cinco pertencem à polícia civil. Os dados demonstram, segundo especialistas, um elevado índice de abuso de força policial. Em setembro, por exemplo, foram 34 mortes, o que significa mais de uma morte por dia. Nesse mesmo mês, três policiais morreram. O número é quase o mesmo que o registrado oficialmente pela polícia em uma semana de operação.

A assessoria de imprensa da PM-RJ alega que desconhece a identidade dos mortos durante as operações. Porém, no último sábado, a reportagem do Correio presenciou a chegada do corpo de Davi Basílio Alves, 17 anos, ao Hospital Getúlio Vargas, na Penha. O corpo do jovem, morador da Vila Cruzeiro e traficante, foi levado pela própria família. Havia, no local, policiais militares que registraram a chegada do corpo e a identidade.

Já a Polícia Civil apresenta uma lista com nome, idade e bairro onde morava de 13 dos 17 mortos contabilizados pela unidade policial. Esse é o número passado à Polícia Civil pelo Instituto Médico Legal (IML), depois da perícia. A reportagem, entretanto, não conseguiu contato com o IML do estado.

;É preocupante que a secretaria não divulgue essa relação. A sociedade precisa de esclarecimentos de quantas foram as mortes e as respectivas causas;, defende o especialista em Segurança Pública Ignácio Cano. Segundo ele, denúncias sugerem que o número de mortos é ainda maior e que haveria corpos nas comunidades.

OS NOMES

Lista com a identidade de 13 dos 17 mortos nos conflitos, segundo a Polícia Civil

; Valdemiro Carlota, 45 anos, Vila Cruzeiro

; Everson Carlos Conceição Gonçalves, 19 anos, Favela do Jacarezinho

; Wilian Calixto de Andrade, 20 anos, Favela do Jacarezinho

; Jonatan Rosa Bonfim, 21 anos, Favela do Jacarezinho

; Manoel Dionizio da Silva Nogueira, 20 anos, Favela do Jacarezinho

; Felipe Bittencourt de Carvalho, 18 anos, Favela do Jacarezinho

; Emerson de Souza Thomé, 25 anos, Favela do Jacarezinho

; Sergio Silva de Medeiros, 25 anos, Favela do Jacarezinho

; João Carlos dos Santos Alves, 19 anos, Favela do Jacarezinho

; Thiago Ferreira Faria, 22 anos, Alemão

; Anderson Domingues Mendes, 20 anos, Alemão

; Davi Basílio Alves, 17, Vila Cruzeiro

; Rogério Costa Cavalcante (não foram divulgados a idade nem onde ele morava)

Fonte: Polícia Civil

MORADORES COBRAM RESPEITO DA POLÍCIA
; Movimentos sociais do Complexo do Alemão cobram avanços nas políticas públicas para a região e pedem respeito aos direitos humanos. Uma das reclamações está relacionada à forma como muitos policiais têm entrado nas casas, arrombando portas e quebrando móveis. O assunto foi debatido na tarde de ontem durante reunião entre entidades da sociedade civil e de proteção ao meio ambiente que atuam na área. O encontro foi organizado pelo Comitê de Desenvolvimento Local da Serra da Misericórdia (CDLSM), que reúne organizações não governamentais que atuam no Alemão e no seu entorno. As reivindicações foram apresentadas em um documento de três páginas, ;com o objetivo de aprofundar o debate com a sociedade, o Poder Público e a mídia, para além da ocupação militar;. ;São necessários investimentos para tirar do papel um conjunto de propostas e projetos de caráter socioambiental, cultural e nas áreas de educação, saúde, mobilidade urbana, saúde ambiental, esportes, assistência social e segurança pública;, ressalta o documento.

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