Brasil

Pesquisa aponta que não há condições para atender demanda por dentaduras

Levantamento revelou ainda redução na prevalência de cáries nos últimos sete anos

postado em 29/12/2010 08:28
Mais de 7 milhões de idosos brasileiros precisam de dentadura. Mesmo com o investimento de R$ 600 milhões destinados ao programa de governo para saúde bucal em 2010, o Ministério da Saúde admitiu que não tem condições para atender a essa demanda. Levantamento apresentado ontem aponta avanços quanto à prevenção e ao tratamento de cáries, mas também destaca uma série de problemas ; entre eles, o que se refere aos idosos.

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde Bucal, 38% da população entre 65 e 74 anos precisa de próteses totais para arcada dentária e os laboratórios públicos têm capacidade de produzir apenas cerca de 500 mil unidades por ano. O ministro José Gomes Temporão, que deixa o cargo nos próximos dias, reconhece o problema. ;É um deficit que precisamos resolver, mas pretendemos ampliar a quantidade de laboratórios e esperamos que os municípios façam convênios com instituições privadas para resolver a demanda;, diz.

O ministro da saúde José Gomes Temporão faz um balanço dos avanços na saúde bucal durante o governo Lula


Francisco Oliveira Sobrinho, 71 anos, conta que sentia muita dor de dente quando era jovem. ;Não tinha condições de pagar um dentista e nunca tive assistência de saúde pública para tratar da boca, por isso perdi muitos dentes;, lamenta. Morador do Gama, Francisco trabalha como vendedor no shopping Popular e sonha em melhorar a aparência. ;Se o governo me desse a chance de arrumar o sorriso, acharia muito bom;, empolga-se.

Para avaliar a saúde dos dentes dos brasileiros, o estudo utilizou o índice CPO ; que calcula a soma de dentes cariados, perdidos e obturados. O Norte foi a única região do país onde esse indicador apresentou aumento (leia quadro abaixo). Segundo Gilberto Pucca, coordenador de saúde bucal do ministério, o difícil acesso de agentes de saúde a alguns municípios da região é um dos fatores que atrapalham a evolução do tratamento. ;No próximo ano, vamos aumentar o número de equipes de saúde bucal na Região Norte e criar incentivos para levar profissionais de saúde às áreas precárias;, promete.

Com os resultados da pesquisa, o Brasil passou a integrar o grupo de países com baixa prevalência de cáries. Segundo a classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS), o indicador CPO deve estar entre 1,2 e 2,6. O índice no país passou de 2,8 em 2003, para 2,1. Brasil e Venezuela apresentam o mesmo índice, inferior à média dos países das Américas (2,8). O levantamento foi feito por meio de entrevistas e exames bucais em 38 mil pessoas de 177 municípios brasileiros, incluindo as 26 capitais e o Distrito Federal, e mostrou que a proporção de crianças livres de cárie aumentou em 26% desde 2003. Hoje, 1,4 milhão de crianças não têm nenhum dente cariado.

Cuidados do berço

A Pesquisa Nacional de Saúde Bucal, divulgada ontem, avaliou também os dentes das crianças de 5 anos de idade, especificamente. Apesar da quantidade de dentes de leite afetados por cárie ter diminuído nos últimos sete anos, cerca de 80% deles não foram tratados. De acordo com a pediatra Maria Cristina Senna Duarte, mestre em saúde da criança pela Fundação Oswaldo Cruz, a presença de cárie, mesmo em dentes de leite, pode ser prejudicial. ;O dente cariado pode ser um foco de infecção. E o ideal é trabalhar a prevenção;, diz.

Para a especialista, nutrição adequada e higienização bucal desde o nascimento são fundamentais. ;Bebês e crianças com cárie são mal nutridas ou não receberam os cuidados adequados;, lamenta. Aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida é um dos fatores determinantes para evitar problemas bucais. ;Além de evitar a exposição a bicos artificiais, o leite materno contém substâncias que protegem a gengiva do bebê;, explica. Depois dessa idade, deve-se evitar a adição de açúcar nos alimentos da criança. ;O leite ou chá não precisam ser adoçados. Os açúcares são os grandes vilões não só quanto ao desenvolvimento de cáries, mas também na prevenção de outras doenças;, diz.

A higienização deve ser feita mesmo sem a presença de dentes. ;Principalmente antes de dormir, deve-se limpar a gengiva do bebê com água filtrada e fervida. Depois dos 18 meses de idade pode-se usar escovas específicas. A partir dos dois anos pode-se fazer aplicação anual de flúor, mas pasta de dente fluoretada pode ser usada apenas a partir dos quatro anos;, recomenda.

Angela, 5 anos, já sofre com dores de dente. A mãe, Rosinete Vasconcelos, 37 anos, conta que, por diversas vezes, tentou agendar consultas com dentistas da rede pública, mas não conseguiu. Ela diz também que nunca recebeu orientações de como limpar a boca da filha. ;Hoje, ela está com a boca toda cariada e reclama de dor.; (CK)

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