postado em 06/01/2011 08:00
As fortes chuvas que atingem a Região Sudeste do país fizeram mais três vítimas na noite da última terça-feira e na manhã de ontem. Deise Trindade dos Santos, 34 anos, e seu filho Tauã Trindade Lima, 11 anos, não resistiram ao desabamento da casa onde moravam, no Morro do Macuco, em Mauá, região do Grande ABC, em São Paulo. A irmã do garoto, de 13 anos, e o tio, de 23, conseguiram escapar a tempo. E, em Minas Gerais, José Maria da Silva, 38 anos, também não sobreviveu ao desabamento de sua casa, em Santa Rita do Sapucaí. Com os dois incidentes, o número de mortes no país causadas por afogamento em enxurradas ou soterramento por deslizamentos nas últimas semanas chegou a 30. O Ministério da Integração Nacional reconhece que o problema é recorrente e diz que vai priorizar esforços preventivos.Durante o mesmo período de chuvas do ano passado, diversos municípios decretaram situação de emergência e pediram apoio do governo federal. O município de Mauá foi um deles ; em junho, teve o pedido reconhecido pelo governo, mas os recursos para ações, como as de contenção de encostas, não chegaram a tempo. Especialistas defendem que esse tipo de situação geralmente pode ser prevenida com planejamento e boa gestão.
Assessor especial do Ministério da Integração Nacional, Humberto Viana acredita que o foco das ações do governo deve ocorrer na prevenção de incidentes causados pelas chuvas. ;Temos que atuar muito mais na fase preventiva do que na fase emergencial;, diz. Segundo Viana, um plano de ação será preparado pela nova gestão do órgão de defesa nacional. ;A Defesa Civil está montando um plano de ação para que a gente trabalhe mais efetivamente a prevenção. Será preparado um mapeamento do que ocorre ciclicamente e quais medidas devem ser tomadas para que isso não se repita. Não seriam ajudas emergenciais, mas obras para resolver os problemas;, afirma.
Mas não foi essa a visão do Congresso Nacional, quando optou por reduzir o montante orçamentário destinado ao programa de prevenção e preparação para desastres para 2011 ; R$ 30 milhões a menos do que no ano passado, quando ocorreram ao menos duas tragédias no país em decorrência das chuvas e da falta de planejamento preventivo, no Rio de Janeiro e em Pernambuco. Ainda segundo o assessor, deve haver uma mudança de atitude entre as diversas pessoas envolvidas no processo. ;É um problema cultural achar que se deve atuar somente quando ocorre a emergência. Mas o que deve haver são medidas técnicas para que o evento não volte a ocorrer;, diz.
Professora doutora do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília, Noris Diniz acredita que os órgãos gestores não se planejam para avaliar os mapas de risco das regiões. ;Mesmo com a ocupação histórica desordenada da população em áreas de encostas ; mais suscetíveis às chuvas fortes ; poderia haver uma gestão que considerasse as áreas de risco e preparasse a população para enfrentar situações de emergência;, diz. A especialista defende o treinamento da população para que ela reconheça os sinais de uma tragédia iminente e saiba como agir. ;O Brasil dispõe de tecnologia para avisar com antecedência as pessoas sobre as condições de risco. Se essa informação chegasse a tempo e elas soubessem como agir, muitas mortes poderiam ser evitadas;, defende.
Estiagem do outro lado
; Enquanto o Sudeste do país sofre com as chuvas intensas, parte do Nordeste pena com a forte estiagem. No Sergipe, 11 municípios decretaram situação de emergência e pediram ontem auxílio à Defesa Civil Estadual. Cerca de 75 mil pessoas já foram afetadas pela falta de chuva na região. Para amenizar o problema, 96 caminhões pipa estão sendo usados para levar água para a população e sete mil cestas básicas foram distribuídas. Estão em situação de emergência os municípios de Porto da Folha, Gararu, Poço Redondo, Nossa Senhora da Glória, Monte Alegre, Canindé de São Francisco, Poço Verde, Frei Paulo, Itabi, Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora de Lourdes. (CK)